"As pessoas não estão mais questionando se uma empresa deve ser sustentável ou não. Elas estão é cobrando quais são as tarefas que cabe à empresa realizar", disse o presidente do Instituto Ethos, Ricardo Young, durante a Conferência Internacional Ethos 2008, realizada na semana passada, em São Paulo.
O consultor da Trevisan Consultoria, Antonio Carlos Porto Araujo, explica que as empresas estão mais preocupadas com as questões ambientais, mas isso não à toa.
Tudo começou com o consumidor final, que passou a se atentar aos problemas ambientais que afligem cada vez mais a sociedade. Entretanto, ele percebeu que, sozinho, não tinha poder suficiente para combater o aquecimento global, por exemplo. Ele podia reciclar e reduzir o desperdício, e só. A lógica decorrente disso é simples: diante de um Estado ineficiente, quem tem mais poder do que as empresas? Foi quando surgiram as cobranças.
Das grandes às pequenas empresas
Em meio a este cenário, as grandes companhias notaram que há uma demanda concreta por produtos e serviços verdes. "Além de ser uma necessidade de sobrevivência, era uma oportunidade", explica Araujo. Algumas, mais rápidas, mudaram os processos internos e reformularam os produtos ou serviços ofertados. As demais empresas se adaptaram para acompanhar as concorrentes e não ficar para trás.
Depois, essas mesmas organizações passaram a se preocupar com a governança corporativa e a transparência de suas estratégias. "Ocorre que as grandes empresas possuem uma cadeia de fornecedores muito grande. Com o intuito de dar satisfação quanto aos seus fornecedores no balanço social, elas começaram a exigir que as pequenas empresas, das quais compravam produtos e serviços, tivessem uma gestão permeada pela responsabilidade socioambiental também". Assim a preocupação com o meio ambiente chegou às organizações de menor porte.
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Produto visionário
A Tuma Industrial é pioneira na fabricação de aquecedores solares. Em 1975, quando a redução dos gastos com energia não estava tão em pauta quanto hoje, a empresa lançou o primeiro coletor solar.
Atualmente, a companhia atua na fabricação, instalação e comercialização de coletores solares, além de ar-condicionado e painéis elétricos. O diretor comercial, Frederico Dantas, explica que houve um aumento na procura por produtos ecologicamente corretos. "A chamada consciência ecológica começa a se tornar mais expressiva".
Ele garante que o investimento em produtos verdes, por parte das empresas, vale a pena. "A cada dia, estes investimentos deixam de ser encarados como apostas e passam a ser vistos como fonte de retorno garantido. À medida que estes produtos vão ganhando espaço no mercado, a competitividade vai se tornando maior, os fornecedores da cadeia também passam a ganhar em escala e os custos vão diminuindo".
No entanto, Dantas diz que não se pode afirmar que as taxas de retorno dos investimentos "verdes" são mais altas nem mais baixas na comparação com os produtos comuns. "Mas podemos dizer que se trata de um produto que, já estando estabelecido, não sofre com o rótulo de ser algo alternativo".
Vantagem entre fornecedores
Já a Placo do Brasil, líder no mercado de drywall (sistemas construtivos de paredes, forros e revestimentos "a seco") reprocessa 100% da água usada nos processos, bem como todos os resíduos provenientes da fabricação de placas de gesso. "Reciclamos placas com defeitos e sobras das obras, uma vez que sempre há um pequeno desperdício. Somos a primeiro indústria de gesso brasileira com usina de reciclagem", conta o diretor-geral Alvaro Villagran.
Ele afirma que os custos diminuíram 3%. Os processos "verdes" não são divulgados amplamente entre consumidores finais, por isso nem todos sabem. "Mas aqueles que sabem valorizam mais a marca. Além disso, fornecemos para construtoras, que, por conta disso, têm preferência pela Placo. A preocupação ambiental é uma tendência, acredito que deveria haver mais empresas engajadas na causa", defende.
Sandálias de pneu
A Goóc é a primeira fábrica de sandálias e chinelos desenvolvidos com borracha reciclada de pneu. Na semana do meio ambiente, ela divulgou sua nova meta: fazer com que cada brasileiro tenha, até 2014, um par de sandália reciclada de pneu, o que significa reutilizar 35 milhões de pneus. O presidente da Goóc, Thai Quang Nghia, disse que há, no Brasil, 100 milhões de pneus abandonados.
A empresa, que já nasceu com essa bandeira ecológica, cresceu mais de 300% desde sua fundação, há quatro anos e meio. Nghia foi visionário ao utilizar uma matéria-prima barata na produção de calçados, embora o processo de fabricação fosse mais caro. "O processo é mais caro, mas vale a pena, porque o consumidor está cada vez mais preocupado com as questões ambientais", conclui o empresário, que se orgulha ao dizer que o Brasil é o primeiro país no mundo a vender sandálias feitas de pneu.



