A diretora executiva da Abesco (Associação Brasileira das Empresas de Conservação de Energia), Maria Cecília Amaral, explica que as empresas brasileiras desperdiçam, por ano, nada menos que R$ 10 bilhões com energia. E essa é uma estimativa para lá de conservadora, uma vez que o cálculo leva em conta apenas o faturamento da Petrobras e das concessionárias, ou seja, o petróleo, o gás e a energia elétrica, e deixa de fora as demais fontes de energia.
"Se somarmos o faturamento das concessionárias e da Petrobras, chegamos a R$ 230 bilhões. Ao levar em consideração um percentual de desperdício de 5%, porcentagem esta que é bastante conservadora, mas é usada pelo Ministério de Minas e Energia, chegamos a R$ 10 bilhões. Mas é importante lembrar que o percentual de desperdício na indústria é de 15%. No comércio e nos serviços, de 25%. Já nas empresas do setor público, de 45%, uma vez que os prédios e as instalações são muito antigos", explica.
Não basta falar em apagão de energia
Para Maria Cecília, é urgente a mudança no modo de pensar do empresário brasileiro. "Enquanto as grandes empresas dos ramos de siderurgia, alumínio e refinaria já têm muito clara a necessidade de controlar os gastos com energia, que pesam de forma incisiva no custo do produto final, as demais ainda estão acostumadas ao histórico de baixo custo da energia no Brasil. Há dois anos, no entanto, o preço da energia vem aumentando substancialmente. Basta lembrar que o preço do barril de petróleo passou de US$ 60 para US$ 140".
Ela conta que a busca da eficiência energética é mais madura em outros países, principalmente nos europeus, que, por conta de suas próprias características geográficas, não têm produção de energia em abundância. "No Brasil, há o paradigma de que tudo é abundante, de que temos muita água, muitas florestas. Nesse contexto, os empresários batem o pé e pedem ao governo para ampliar a produção de energia, mas não fazem sua parte para reduzir o desperdício", critica.
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"Não só a iniciativa privada como também o governo deve se esforçar para cuidar do meio ambiente. O governo, por exemplo, deveria exigir do empresário o esforço para redução dos gastos com insumos de energia".
Quadro pode (e deve) ser revertido
Segundo ela, os gastos com energia influenciam negativamente na capacidade competitiva das empresas, das micro às de grande porte. A diretora executiva da Abesco lembra também que eficiência energética não se resume a trocar um motor por outro mais eficiente. É aí que entram as Escos (a sigla, em inglês, significa "Energy Services Company"), empresas de engenharia especializadas em promover a eficiência energética e de consumo de água nas organizações.
Uma Esco não foca apenas em determinada ação, como a troca das lâmpadas, mas gerencia o uso da energia do começo ao fim. A boa notícia é que a empresa contratante do serviço não gasta um tostão, já que a Esco assume o risco e recebe uma parcela da economia gerada, se houver redução nos custos com energia.
O foco das Escos são as companhias de médio porte, mas, de acordo com Maria Cecília, existem outras formas de as pequenas e microempresas diminuírem os gastos com energia. Por exemplo, nada impede que elas contratem apenas o serviço de consultoria de uma Esco. Além disso, elas podem consultar acadêmicos ou se unir.
"Empresas concentradas em uma mesma região, com características de produção parecidas, podem se juntar e contratar uma Esco, que fará um único projeto de redução de energia", explica. Essa é uma boa oportunidade, portanto, para os APLs (Arranjos Produtivos Locais).
Quanto aos recursos necessários para se obter eficiência energética, às vezes, as Escos entram com recursos, outras vezes, elas usam recursos do Proesco, que é uma linha de financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) exclusivamente voltada para projetos de eficiência energética.