Um grupo de engenheiros da Faculdade de Ciência e Engenharia de Montes Claros (Facit) criou um analisador bioquímico para detectar a concentração de açúcares em caldo de cana. O projeto, apoiado pelo Programa de Incentivo à Inovação (PII), do Sebrae e da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sectes), vai permitir a substituição das importações desse equipamento que é essencial para analisar a qualidade dos produtos da indústria sucroalcooleira, uma das mais importantes do parque industrial brasileiro.
A qualidade da cana de açúcar é medida pelo conteúdo de açúcares totais recuperáreis (ATR), que são constituídos de sacarose e os chamados açúcares redutores – glicose e frutose. Os analisadores bioquímicos são sistemas projetados para determinar diferentes componentes químicos e/ou outras características em amostras bioquímicas, como por exemplo, a concentração de açúcar.
No Brasil, as indústrias sucroalcooleiras, que produzem açúcar e álcool, precisam determinar rapidamente o nível de ATR para pagar os produtores de cana. Elas recebem grande número de fornecedores e chegam a realizar 500 análises por dia. Há vários métodos para fazer esses testes, porém são demorados e pouco precisos.
Já existem no mercado, analisadores bioquímicos do tipo FIA (Flow Injection Analysis), cuja precisão da análise pode ser aumentada consideravelmente com a utilização de um sistema automatizado. Porém, esses equipamentos são importados, representando um alto custo para indústria sucroalcooleira.
Pensando em reduzir os custos na compra de equipamentos importados que chegam a custar US$ 70 mil, os engenheiros William James Nogueira Lima, Paulo Fernando, Rodrigues Matrangolo, Paulo Ricardo Durães Silva e Daniel Neri desenvolveram um analisador bioquímico por injeção em fluxo, utilizando tecnologia nacional.
“Queremos desenvolver uma tecnologia para fabricação desses equipamentos com preços mais acessíveis que os equipamentos importados. Nosso objetivo é criar um sistema automatizado para determinação de açúcares em caldo de cana-de-açúcar, vinhos e mosto, mas que seja simples e robusto”, explica William James Nogueira Lima, engenheiro químico que coordena o projeto.
O software de controle do equipamento já foi desenvolvido. Ele vai permitir incorporar precisão e rapidez ao produto. O desenvolvimento do protótipo está sendo feito em parceria com a BTS Tecnologia, empresa de biotecnologia.
Apesar de a fase inicial do projeto estar focada nas usinas de açúcar e álcool, outras indústrias e setores podem ser potenciais clientes do analisador bioquímico nacional. A indústria de insumos para alimentos, indústria farmacêutica, o setor de energia, engenharia ambiental, empresas da área de biotecnologia, além de instituições de ensino e pesquisa, também poderão ter interesse no equipamento.
PII
O analisador bioquímico nacional está entre os 16 projetos de quatro universidades e centros de pesquisa do Norte de Minas que integram o Programa de Incentivo à Inovação (PII).
Promovido pelo Sebrae e pela Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sectes), o PII estimula a criação de novas tecnologias, produtos e processos inovadores para o mercado, a partir do conhecimento gerado nas instituições de ensino. O programa, criado em 2006, já foi realizado em universidades, faculdades e centros tecnológicos de Lavras, Itajubá, Juiz de Fora, Viçosa, Uberlândia Montes Claros e Belo Horizonte.
“O objetivo é proporcionar uma mudança cultural nas universidades e nos pesquisadores, com a disseminação da cultura empreendedora, a obtenção de novos recursos para pesquisa e a possibilidade de geração de empregos para estudantes graduados e pós-graduados”, explica a analista da Unidade de Acesso à Inovação e Sustentabilidade do Sebrae Minas, Andrea Furtado.