Estudos internos da área econômica do governo indicam preocupação com a qualidade do balanço de pagamentos do país, apesar de reconhecer a existência de elevadas reservas internacionais.
O que preocupa os economistas é a velocidade com que vem aumentando o déficit de contas correntes, que chegou a US$ 4,9 bilhões nos últimos 12 meses, na posição de fevereiro de 2008, embora isso não signifique, na visão dos técnicos, qualquer tipo de descontrole das contas externas.
Chamam também atenção a redução do superávit comercial – em função do maior crescimento das importações, impulsionadas pela atividade interna e pela taxa de câmbio; o aumento da remessa de lucros e dividendos das empresas estrangeiras ao exterior; além de um maior gasto com viagens internacionais, com transporte marítimo e aéreo, de mercadorias importadas e exportadas.
O déficit em conta corrente vem sendo amenizado pela conta de capital, destacando-se o elevado fluxo de investimentos estrangeiros diretos, que acumulou, até fevereiro, US$ 36,5 bilhões referentes aos 12 meses anteriores, e também pelos investimentos em carteira de US$ 57,9 bilhões, em títulos de renda fixa e em ações no mesmo período.
O trabalho diz que, apesar da volatilidade observada em algumas contas no último semestre, o fluxo de entrada na conta de capital tem sido suficiente para fazer frente à conta corrente e às amortizações da dívida externa, possibilitando ainda um acúmulo de reservas internacionais de US$ 91 bilhões, em 12 meses, até fevereiro.
Em fevereiro de 2008, o fluxo de investimentos estrangeiros diretos somou US$ 900 milhões, queda considerável em relação a janeiro, quando atingiu US$ 4,8 bilhões devido, em parte, a três operações pontuais de repatriação de investimento: duas no setor de alimentos e uma no segmento de comércio.
Contudo, até o dia 24 de março, o fluxo de ingresso demonstrou um tendência de recuperação, fato que, junto com a elevada demanda interna, fizeram o Banco Central elevar as projeções do aumento do investimento direto de US$ 28 bilhões para US$ 32 bilhões em 2008.
Como ocorreu em 2007, neste ano o setor de serviços, com 57%, foi o que mais recebeu investimento estrangeiro no primeiro bimestre, a maior parte na área de serviços financeiros. A metalurgia, com 13,9 %, foi o setor industrial com maior fluxo positivo de recursos.
A entrada mais expressiva do investimento estrangeiro direto e sua composição explicam, em parte, a elevação no fluxo de lucro de dividendos, proveniente, principalmente, de montadoras e de bancos, setores que vêm sofrendo com a crise financeira e o quadro de recessão dos Estados Unidos, segundo o estudo.
Quanto ao investimento em carteira (ações e títulos), apesar da melhora observada em fevereiro, o Banco Central diminuiu a previsão de entrada para o ano devido à suspensão do plano de fazer ofertas iniciais de ações por diversas empresas brasileiras. Por outro lado, as empresas não têm tido dificuldade em tomar empréstimos no mercado externo, renovando e ampliando seus débitos, embora a juros mais elevados.
O saldo do balanço de pagamentos continuou a registrar resultado positivo. O país possui um montante de ativos externos, que incluem reservas internacionais de US$ 192,9 bilhões, haveres de bancos comerciais no exterior de US$ 21,2 bilhões e créditos de brasileiros no exterior de US$ 2,8 bilhões. Os ativos externos superaram os passivos (dívida externa total de US$ 198,1 bilhões) em US$ 18,1 bilhões.
A folga para fazer frente aos pagamentos externos é ainda maior, se for considerado que 80% da dívida deverá ser paga no médio e longo prazos, enquanto os ativos têm elevada liquidez. Contudo, nestes valores não se inclui como passivo os recursos de não-residentes no país que, em uma crise de liquidez, podem vir a sair do mercado interno, como os empréstimos intercompanhias, os investimentos em ações e em títulos públicos internos.
Outro fator que pode afetar a posição de credor internacional é a elevada captação de recursos no exterior.