A saída de investimentos estrangeiros da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) se deve à expectativa de redução dos rendimentos dos papéis da Petrobras e da Vale. A explicação é do economista e sócio da MCM consultoria, Antonio Madeira.
Dados da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) revelam que até o dia 7 deste mês, o saldo líquido deste ano, resultado da entrada e saída de recursos externos, ficou negativo em R$ 15, 418 bilhões.
Para Madeira, os papéis das duas empresas “passam por um momento difícil, tanto por fatores internos quanto externos”. Ele destacou que há percepção de que a economia mundial crescerá menos e, por conseqüência, a demanda por produtos da Petrobras e da Vale diminuirá. “O preços poderão recuar e o mercado antecipa isso”.
No caso do mercado interno, Madeira afirma que os investidores estrangeiros apostavam que, com a exploração de petróleo abaixo da camanda pré-sal, os ganhos da Petrobras no futuro iriam aumentar. Entretanto, o governo estuda mudanças na Lei do Petróleo para que recursos arrecadados com a exploração possam ser empregados em favor da educação e na redução da pobreza, como disse ontem (12) o presidente Luís Inácio Lula da Silva.
O economista Décio Munhoz explica que apesar de o investimento estrangeiro em carteira caminhar para o o terceiro mês consecutivo de saldos negativos (R$ 7,415 bilhões em junho, R$ 7,626 bilhões em julho e R$ 1,134 bilhões até o dia 7 de agosto) esses recursos investidos em bolsas não entram para financiar a economia brasileira. “São recursos que vêm para ganhos substanciais de curto prazo e vão embora”.
Para Munhoz, é necessário que se volte a ter regras de permanência mínima desses investimentos. “Na época do Collor [presidente Fernando Collor de Melo] removeram as regras para permitir que o capital entrasse e saísse e operasse todos os títulos, inclusive derivativos cambiais, que é onde o Banco Central está perdendo recursos ano após ano”, afirmou.
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Ele lembrou que no ano passado o BC registrou prejuízos de cerca de R$ 48 bilhões, valor coberto com recursos do Tesouro Nacional. “Foi quase todo o superávit primário do ano passado”, disse. Na opinião do economista, deve ser revista também a “libertade do Banco Central” na atuação com os derivativos cambiais.
Munhoz explica que o investimento estrangeiro em carteira pode pressionar dólar para baixo, o que dificulta as exportações e atrai a entrada de produtos importados para o país. "É por isso que as importações estão crescendo”.
O economista explicou, entretanto, que os investidores estrangeiros em carteira não conseguem deixar o país de uma vez. “A porta é estreita. Os primeiros saem, mas se todos correrem para comprar dólar para ir embora o preço do dólar sobe e aí não tem jeito”.
Munhoz afirma que o que interessa ao país é a aplicação de recursos com interesse duradouro na economia brasileria – o investimento estrangeiro direto (IED). O investimento estrangeiro em carteira depende da conjuntura de curto prazo, ou seja, se há perspectiva de redução dos ganhos, os investidores buscam aplicações em outros locais.
Em documento divulgado ontem , o Banco Central ressalta que “o capital sob a forma de IED é alternativa saudável de financiamento, e tem garantido ingressos líquidos superiores às remessas de lucros e dividendos, e capazes de financiar integralmente os déficits em transações correntes [todas as operações do Brasil com o exterior]”. Segundo o BC, "o valor em dólares do investimento em ações no país tende a subir em conjunturas favoráveis e a cair em momentos menos favoráveis".