A falta de chuvas em regiões produtoras de milho safrinha do país deve afetar a colheita neste ciclo 2010/11. Ainda não há estimativas precisas, mas produtores de Mato Grosso, por exemplo, falam em perdas de até 50% em relação ao que esperavam produzir.
As áreas mais afetadas são aquelas plantadas mais tarde, no fim de março. "As lavouras [com colheita prevista] para o fim de agosto, começo de setembro, estão fadadas a não colher nada", disse Paulo Molinari, da Safras & Mercado.
A consultoria deve rever sua estimativa de produção para a safrinha de milho no país, que era de 24 milhões a 24,5 milhões de toneladas para algo entre 21 milhões e 22 milhões de toneladas. A safrinha passada ficou em 23 milhões. "Haverá perda, mas não se pode esquecer que a área plantada foi muito grande", observou Molinari.
Pelos números da Safras, a área de safrinha no país foi de 5,35 milhões de hectares no ciclo 2010/11, alta de 10,4% sobre o plantio anterior. Esse avanço foi estimulado pela alta dos preços do grão, puxados pelo mercado internacional e demanda. Em 12 meses, o indicador de preços Esalq/BM&FBovespa para o milho subiu 53,54%, de acordo com cálculo do Valor Data.
No Paraná, o segundo maior produtor de milho safrinha do país, as lavouras mais atingidas pela estiagem estão no norte, pois parte delas foi semeada já na segunda quinzena de março.
Em Mato Grosso, produtores falam em perdas de até 50%, mas o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) ainda não aponta números, apesar de reconhecer que há prejuízos.
Na região de Lucas do Rio Verde, as perdas são da ordem de 50%, segundo o produtor rural Clóvis Cortezia. Para Eraí Maggi, o maior produtor de soja, algodão e milho do país, a queda de produtividade também será grande. A estiagem que persiste desde abril deve reduzir a produção de milho em cerca de 40% no Estado, afirma ele.
"Houve perdas e é irreversível. [Mas] Depende muito da região", afirma Maria Amélia Tirloni, analista de grãos do Imea. O norte e o oeste de Mato Grosso são os mais prejudicados, acrescenta. Ela pondera, no entanto, que se houver chuvas esta semana os efeitos da estiagem podem ser amenizados.
Por enquanto, o Imea mantém a previsão de produção de 7,5 milhões de toneladas em uma área plantada de 1,8 milhão de hectares. O rendimento médio considerado é de 72 sacas por hectare, o mesmo da safrinha da temporada 2009/10. "Deve ser menor do que isso", diz a analista, referindo-se à estimativa de produção.
O fim da colheita da safra de verão e as incertezas em relação à safrinha já afetam os preços, segundo Molinari. No oeste do Paraná, os preços saíram de R$ 25,50 a R$ 26 por saca para R$ 27 a R$ 28, segundo a Safras. Em Mato Grosso, os preços ficaram estáveis na última semana, conforme o Imea. Em um ano, porém, a alta chama a atenção. Segundo o instituto, na região de Sorriso, a saca de milho saiu de R$ 7 em maio de 2010 para R$ 19 atualmente, alta de 271%.