Quatro produtos agrícolas deverão receber atenção maior do governo com o objetivo de frear a alta nos preços. Segundo o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, feijão, arroz, trigo e milho serão alvo de políticas específicas.
“O objetivo é amenizar os impactos para o consumidor interno”, justificou ontem (12) o ministro, ao participar do 16º Seminário do Agronegócio para Exportação, na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
De acordo com Stephanes, a reestruturação das dívidas dos agricultores poderá ser uma das medidas. O ministro cogitou também o aumento do preço mínimo para o produtor e de disponibilidade para financiamento e liberação de recursos para o seguro rural.
“Se o agricultor se capitalizar e obtiver renda, haverá aumento da produtividade. Para isso, a reestruturação da dívida é um item muito importante. Todo o estudo está pronto e a expectativa é de que a medida provisória seja assinada ainda nesta semana”, disse Stephanes.
No ano passado, o preço da saca de feijão aumentou quatro vezes, segundo o ministro, e teve impacto de 0,5% na inflação. “Isso aconteceu porque o feijão teve um custo de produção acima de R$ 50 e estava a R$ 35 no mercado. Por isso, ninguém produziu feijão no ano seguinte”, considerou Stephanes.
Em relação ao arroz, o ministro afirmou que não há como comprar o produto no mercado internacional, mas ressaltou que o Brasil é auto-suficiente e que os estoques privado e do governo são suficientes para abastecer o mercado por 90 dias.
“O arroz é o terceiro produto mais produzido no mundo, mas não se trata de commodity (mercadoria primária utilizada em transações nas bolsas). Praticamente todos os países produzem arroz para seu consumo interno”, disse.
Quanto ao trigo, Stephanes ressaltou que o produto praticamente dobrou de preço no mercado interno e externo. Diante disso, o ministro defendeu que o país reavalie a sua posição de não plantar trigo, apenas importar.
“Trata-se do único produto do qual o país depende totalmente da importação. Há 30 anos, era mais barato importar o trigo da Argentina, onde, além do clima favorável, era mais barato produzir. Entretanto, os níveis de preço atingidos atualmente no mercado internacional, que já estão caindo, não devem voltar ao patamar anterior. É importante o Brasil voltar a pensar em auto-suficiência de trigo, com uma política interna para produção”, defendeu o ministro.
A produção de milho também é considerada estratégica por Stephanes. “Apesar de o país ser produtor, exportador, ter excedentes, o milho é sensível porque faz parte de uma grande cadeia de produção de frango, suíno e pecuária de leite e engorda intensiva, ou seja, é um grande insumo e a falta do produto poderia ter um reflexo grande”, disse Stephanes.
O ministro contou ainda que o governo, há oito meses, busca soluções para os problemas na importação de adubos e fertilizantes e que há necessidade de mudanças na legislação. “Dependemos de importar alguns elementos básicos, como o potássio, que comporta 80% de importação e poucas possibilidades de exploração de minas no Brasil. Na área de fósforo, em cinco ou dez anos podemos nos tornar auto-suficientes. Hoje exportamos 60%. Temos minas do Brasil, mas temos problemas de legislação”.
Durante o evento, Stephanes afirmou também que os incentivos à produção de etanol nos Estados Unidos e na Europa inibem a produção de alimentos.
“Os altos subsídios praticados nos Estados Unidos e na Europa provocaram o deslocamento de áreas de alimento para produção de etanol. Os vilões são os Estados Unidos e a Europa", disse. "Isso não é o caso brasileiro, não temos esse problema".