Institutos tentam reaver mercado de sementes

 Depois de assistir ao avanço das empresas estrangeiras e perder a liderança no mercado doméstico de sementes de soja, os institutos de pesquisa agrícola nacionais correm para recuperar o espaço perdido. Para frear o crescimento vertiginoso da participação de multinacionais nesse segmento, instituições verde-amarelas como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola (Coodetec) redesenham estratégias e prometem ampliar sua presença nos campos brasileiros nos próximos anos.

Os dois institutos, que há cinco anos eram responsáveis por quase 70% das sementes de soja vendidas no mercado brasileiro, foram engolidos por conglomerados transnacionais. Não existem estatísticas oficiais para monitorar a participação das empresas no país, mas o setor produtivo estima que cerca de 60% da área cultivada na última safra tenham sido cobertos com três variedades, todas produzidas por empresas estrangeiras. Apolo, da Argentina DonMario, Nidera, da empresa holandesa de mesmo nome, e V Max, da franco-suíça Syngenta, teriam sido as preferidas do produtor brasileiro.

“São materiais de ciclo curto e crescimento indeterminado, características diferentes das de variedades que predominavam até pouco tempo atrás. A preferência do produtor mudou nos últimos anos e talvez as empresas estrangeiras tenham tido uma sensibilidade maior para perceber e se adequar mais rapidamente a essa mudança de perfil”, pontua Cássio Camargo, secretário-executivo da Associação Paulista de Produtores de Sementes (APPS).

“Tivemos que repensar todo o nosso método de pesquisa. Antes, os produtores queriam plantas viçosas, que fecham logo a linha para ajudar no controle de ervas daninhas. Hoje preferem plantas mais compactas, que facilitam os tratos culturais”, diz o pesquisador Marcelo Rodrigues, gerente comercial da Coodetec.

Segundo ele, a transformação do mercado foi percebida há anos pela cooperativa, que, desde 2003, estuda sementes de soja que possam atender às demandas atuais do campo. A maior dificuldade, relata o técnico, é que o desenvolvimento de novos materiais leva tempo. Em média, são necessários entre 8 e 10 anos e cerca de R$ 1 milhão para se chegar a uma nova variedade, calcula.

Com lançamentos agendados para as próximas safras, a Coodetec promete retomar parte do terreno perdido. A cooperativa, que em 2006 detinha 28% do mercado nacional, hoje responde por aproximadamente 12% das vendas de sementes de soja e espera elevar essa participação para 20% até 2015.

Tombo ainda maior levou a Embrapa, que chegou a ser líder absoluta com mais de 60% do mercado de sementes de soja no ano 2000 e viu sua participação cair a 40% em 2006. Hoje responde por menos de 10% da comercialização brasileira. A empresa não trabalha com meta de participação, mas declara que a escalada de volta ao topo requer atuação em duas frentes diferentes.

Para ganhar espaço no mercado de sementes transgênicas, a estratégia adotada é a parceria com empresas estrangeiras. É o caso da soja Cultivance – variedade geneticamente modificada tolerante a herbicidas desenvolvida em conjunto com a alemã Basf –, que foi aprovada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) no final de 2009 e deve chegar ao mercado na safra 2012/13.

“A participação das sementes transgênicas nas vendas tem crescido. Temos um share importante na soja convencional e é muito importante manter a oferta desses materiais para dar opção ao produtor”, afirma Alexandre Cattelan, chefe geral da Embrapa Soja, de Londrina. Para avançar nesse nicho de mercado, a empresa aposta na cooperação com entidades nacionais.

Nesse caso, a parceria envolve não apenas institutos de pesquisa agrícola, mas todos os elos da cadeia, como ocorre no Soja Livre. O programa, desenvolvido em conjunto com a Associação dos Produtores de Soja e Milho do Mato Grosso (Aprosoja) e a Associação Brasileira dos Produtores de Grãos Não-Geneticamente Modificados (Abrange) visa ampliar a oferta de variedades de soja convencional ao produtor.

A ideia, explica Cattelan, é estender o programa, cujo projeto piloto foi lançado na safra 2010/11 em Mato Groso, para outros estados brasileiros nos próximos anos. O Paraná é um dos alvos, revela o pesquisador.

Lei dos royalties tornou projetos de empresas estrangeiras viáveis

O crescimento da participação das estrangeiras no mercado brasileiro de sementes de soja reflete um movimento iniciado no final dos anos 90. O realinhamento foi deflagrado em 1997, com a aprovação da Lei de Proteção de Cultivares (LPC), que garante a propriedade intelectual e pagamento de royalties e taxas de utilização sobre o uso da tecnologia.

Criada para impedir a produção e comercialização de sementes por terceiros sem autorização e estimular investimentos, a LPC acirrou a concorrência no mercado nacional de sementes. Foi a partir desta época que grandes corporações multinacionais como Monsanto, Syngenta e Dupont entraram no mercado brasileiro.

Com a regulamentação da Lei de Biossegurança, em 2005, instituições de pesquisa nacionais e empresas estrangeiras retomaram projetos que estavam engavetados, reacendendo e dinamizando a competição. O mercado brasileiro de sementes agrícolas, que era dividido entre seis obtentoras nacionais, foi pulverizado com a entrada desses novos players. Hoje, seis institutos nacionais, seis empresas multinacionais, duas empresas argentinas e uma paraguaia disputam a preferência do produtor.

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