A oferta e a demanda podem ser usadas para explicar os salários mais baixos ou altos no mercado de trabalho. Quanto mais concorrentes, menor o salário e, quanto menor o número de candidatos, maior o salário. Mas, a lógica faz mais sentido em determinados setores e cargos.
De acordo com o economista do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos), Paulo Jager, apesar dos números recordes de criação de empregos no País, ainda há um alto número de desempregados, o que pressiona o mercado a oferecer salários mais baixos.
Já para o diretor-executivo do Insadi (Instituto Avançado de Desenvolvimento Intelectual), Dieter Kelber, o contingente alto de desempregados só diminui o salário em cargos muito baixos, até nível auxiliar. "No caso de pessoas que ganham até três salários mínimos. Para cargos que não necessitam de tanta escolaridade", afirmou.
Não faz tanto sentido nos cargos mais altos
Em cargos mais altos, o que acontece, de acordo com o diretor-executivo, é que não há um contingente alto de desempregados. "Normalmente, a pessoa que ocupava o posto se aposenta e parte para outro negócio. Viram empreendedores, consultores, não se tornam desempregados", afirmou.
Ele explicou, ainda, que nos cargos mais altos, além da oferta e da demanda, o que determina o salário são os resultados dos profissionais. "Hoje, mais da metade do salário é de renda variável, que chega a 70% do salário do profissional. Eu enxergo assim: a pressão é por resultado, não por causa da concorrência".
Uma tendência que ele tem enxergado é a de que as empresas têm colocado pessoas muito jovens em cargos de liderança, porque podem pagar menos. "Eles são levados a se estressarem mais cedo e vão receber menos do que antigamente era pago para o cargo, porque era uma pessoa mais experiente que o ocupava".
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Salário de pessoas brilhantes não segue lógica
Quando falamos de pessoas especiais, que têm algo a mais, a lógica da oferta e da demanda fica de lado no mercado de trabalho. São pessoas talentosas, que ganham acima da média porque apresentam um diferencial.
"O mercado é muito dinâmico. O que você acha que vale hoje, no seu projeto, não vale mais amanhã. Aí você precisa de pessoas que levem a empresa para a frente nessas mudanças. Essas pessoas são muito especiais e vão sempre ser muito bem remuneradas. Você não treina elas, elas nascem assim. E vão ganhar mais", explicou Kelber.
Lógica faz sentido em quais áreas?
Na área de TI (Tecnologia da Informação), acontece o contrário do relatado nos cargos mais baixos: falta mão-de-obra e o salário está alto, condizendo com a lógica de oferta e demanda.
Em novas áreas, que surgem de acordo com a economia, a lógica também faz sentido. Um exemplo dado por Kelber foi o seguinte: o Brasil ficou muito tempo sem construir uma hidrelétrica. Agora que vai construir, vai demandar profissionais, mas não investiu na formação universitária para isso. É o chamado apagão de talento. "Quem ocupar o cargo vai ganhar bem".