Com crescimento de cerca de 20% ao ano, a produção de alimentos orgânicos vem ocupando um espaço cada vez maior no mercado. No País, o segmento está diretamente vinculado à agricultura familiar que, segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), é responsável por 4,1 milhões de unidades produtivas e responde por 70% dos alimentos consumidos diariamente pelos brasileiros, representando 10% do Produto Interno Bruto (PIB). Segundo o MDA, trabalham na agricultura familiar cerca de 12 milhões de brasileiros.
O Diário Oficial da União publicou no último dia 27 de outubro três portarias com normas para a produção de cogumelos, sementes e mudas orgânicas e certificação de unidades comercializadoras, transportadoras ou armazenadoras. As portarias estão em consulta pública pelo prazo de 30 dias e contribuem para o desenvolvimento da produção orgânica no País e para aumentar a confiança do consumidor.
Confiança esta que só aumenta ano a ano. O mercado é totalmente demandante, segundo o gerente de Agronegócios do Sebrae, Paulo Alvim. “Há uma demanda muito maior que oferta atualmente, estimulando a produção de orgânicos em todo o país.” Há 10 anos, segundo ele, o Sebrae começou um trabalho no segmento de orgânicos como forma de agregar valor aos produtos e abrir nichos de mercado na agricultura familiar. “Agora já não é mais um nicho, mas um segmento”, diz.
Alvim acredita que um dos fatores que motiva o crescimento do mercado é o aumento do preço dos insumos químicos nos últimos anos. De acordo com o gerente, a produção orgânica começa a ser rentável a partir da segunda ou terceira safra do produto, invertendo a lógica com o produto não-orgânico. “Na primeira colheita, o custo é maior porque a terra precisa de um período de descanso e adaptação. Depois, o preço do orgânico passa a competir com o produto tradicional. Isso é muito vantajoso.”
O pequeno produtor de orgânicos tem percebido também as vantagens do associativismo. “Já podemos notar em cidades médias as feiras de produtos orgânicos, onde atuam principalmente as associações.” Outro indicador da tendência de crescimento dos orgânicos no país é a presença cada vez maior do produto nas prateleiras dos supermercados.
Biofach
Outro espaço importante para os pequenos negócios divulgarem e comercializarem seus produtos é a BioFach América Latina – versão latino-americana da BioFach na Alemanha, maior feira de produtos orgânicos do mundo. A feira acontece de 3 a 5 de novembro, no Transamérica Expocenter, em São Paulo. Paralelamente acontece a Exposustentat, um evento voltado para a agroecologia e o desenvolvimento sustentável.
O Sebrae terá um estande de 200 metros quadrados voltado para os dois eventos, apoiando 33 produtores de 14 estados brasileiros. “Nosso objetivo é mostrar na feira que a agricultura orgânica está organizada e é capaz de abastecer o mercado interno brasileiro”, afirma Alvim. Por isso, todas as empresas participantes do estande coletivo têm produtos certificados adequados ao mercado.
Além disso, segundo ele, a Biofach América Latina é um preparatório para a participação das pequenas empresas na Biofach da Alemanha. São esperados na feira cerca de 9 mil visitantes, sendo quase 10% do exterior. Na edição de 2009, foram cerca de 8 mil visitantes, dos quais 40% representantes do varejo, atacado e comércio exterior.
Segundo a gestora do projeto pelo Sebrae, Newman Costa, a exposição inclui produtos como a laranja (AL), café (São Paulo e Bahia), mel (Piauí e Santa Catarina), sucos, geléias e vinhos (RS) e cajuína orgânica (Piauí).
Na Exposustentat, no estande do Sebrae, os visitantes encontrarão ainda roupas feitas com algodão colorido orgânico, artesanato em madeira de reflorestamento e a produção de peças de decoração com sementes naturais.
Abertura
O mercado internacional será tema da palestra inaugural da Biofach Brasil. Entre os palestrantes, Nicolas Bertrand, responsável pelo projeto Organics Cluster in Rhone-Alpes, que falará sobre o mercado de produtos orgânicos na França.
De acordo com os organizadores, "o mercado francês para os alimentos e cosméticos orgânicos é um dos que mais crescem na Europa”. Em 2009, a fatia dos orgânicos na França subiu de 19% para 30% das vendas de alimentos e de cosméticos.
Um bistrô de produtos orgânicos foi montado nesta edição da BioFach América Latina pelas chefs Luana Budel e Paula Labaki.
Além do Sebrae, outras empresas participam da feira, como a Cultivar Brazil, que lança seus biscoitos de arroz com algas e arroz com cúrcuma (um tipo de raiz), e bolos de cacau e laranja, sem glúten. Além disso, volta a apostar em sua paçoca de castanha de caju.
A Coopernatural, do Rio Grande do Sul, lança sucos de laranja e de tangerina em garrafas de um litro, e um sabonete de própolis com 90,2% de componentes orgânicos.
Um dos pioneiros no mercado de orgânicos no país, o Sítio do Moinho levará para a Biofach América Latina uma linha de farinhas italianas (que inclui desde a mais fina – Zero Zero – à de manitoba, com grande concentração de glúten), além de grãos e farinhas germinados Bio Sprout, de origem canadense, que potencializam a absorção de nutrientes pelo organismo. A empresa mostrará ainda sua tradicional linha de pães, além do Agave – adoçante natural feito a partir de um cactus do México.
Rodada de Negócios
O Encontro de Negócios Sustentáveis (ENS São Paulo), uma parceria entre Planeta Orgânico e Organics Brasil, levará um total de 11 supermercados e restaurantes de quatro estados para dois dias intensos de rodadas de negócios. O encontro será realizado durante a BioFach América Latina e somente os expositores poderão participar.
Compradores estarão presentes buscando produtos orgânicos e sustentáveis, entre alimentos e itens para higiene pessoal. Nomes como o Grupo Pão de Açúcar e a Rede Mundo Verde são compradores confirmados. As mesas também terão a participação de restaurantes e empresas de investimentos.
Exposustentat
Os estandes dos biomas brasileiros têm se destacado na ExpoSustentat. Nesta edição, participam da Praça da Sociobiodiversidade, na ExpoSustentat, 38 empreendimentos e redes de empreendimentos dos biomas Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal, que têm o apoio do Sebrae.
Ela congrega empreendimentos constituídos por povos e comunidades tradicionais e agricultores familiares que utilizam os recursos da biodiversidade brasileira para sua viabilidade econômica e socioambiental.
A Praça é uma estratégia do Plano Nacional da Sociobiodiversidade para a promoção comercial dos produtos da biodiversidade brasileira. A ação busca ampliar o espaço de divulgação dos biomas através da convergência de iniciativas realizadas em edições anteriores na ExpoSustentat, como as Salas Caatinga-Cerrado, Mercado Mata Atlântica e Andes-Amazônia, e da incoporação dos demais biomas que ainda não possuem redes de comercialização específicas.
Para Paulo Alvim, do Sebrae, a associação do produto ao bioma agrega valor e o diferencia no mercado. “Produtos como umbu, pequi e açaí, quando associados às regiões de origem, têm mais valor comercial.”