País tem déficit em conta corrente recorde para março

O Brasil registrou em março o maior déficit em transações correntes para o mês da história, de 4,429 bilhões de dólares, impactado por um saldo comercial minguante e pela elevação das remessas de lucros e dividendos feitas pelas empresas.

O resultado, divulgado nesta segunda-feira pelo Banco Central, superou as projeções do mercado e da própria autoridade monetária e se compara com um superávit de 235 milhões de dólares registrado em março de 2007.

No trimestre, o déficit em transações correntes somou 10,757 bilhões de dólares, também recorde para o período.

Somado ao déficit previsto para abril pelo BC, de 2,8 bilhões de dólares, o resultado negativo soma 13,557 bilhões de dólares, acima do déficit de 12 bilhões de dólares estimado pela autoridade monetária, em março, para todo o ano.

"O que nós estamos observando em relação ao balanço de pagamentos brasileiro é uma mudança de estrutura", afirmou o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, a jornalistas.

"Uma estrutura que tem agora como componente principal a balança comercial com um saldo menor, remessas de lucros e dividendos bem maiores e, em sentido contrário, remessas relacionadas a juros bem menores."

Ele acrescentou que os déficits são "ainda baixos e perfeitamente financiáveis", dado o bom desempenho dos investimentos estrangeiros diretos.

Em março, os investimentos estrangeiros somaram 3,083 bilhões de dólares, valor recorde para o mês. No trimestre, eles somam 8,799 bilhões de dólares, também o mais elevado da série. Para abril, a projeção do BC é que os investimentos cheguem a 3,8 bilhões de dólares.

"O relatório de março confirmou que o Brasil agora está em um ambiente negativo para a conta de transações correntes, deixando o comportamento do real mais dependente do volátil fluxo da conta de capitais –que até o momento tem sido capaz de dar suporte à moeda", avaliou Diego Donadio, analista do BNP Paribas, em relatório.

Impacto da Crise

As remessas de lucros e dividendos somaram 4,345 bilhões de dólares no mês passado, maior valor mensal já registrado e frente a 1,774 bilhão de dólares em março do ano passado.

Lopes reafirmou que esse crescimento reflete a maior lucratividade das empresas, o câmbio favorável e também o fato de determinados setores estarem tendo de cobrir posições no exterior devido à crise externa.

Os dados do BC mostram que os setores de serviços financeiros, de veículos e metalúrgico foram os que fizeram as maiores remessas no primeiro trimestre do ano, com respectivamente 33,5 por cento, 17,7 por cento e 12,1 por cento do total.

"São exatamente aqueles setores que, de fato, têm dificuldades no exterior e estão promovendo remessas para eventualmente cobrir algumas dificuldades externas", afirmou Lopes.

Ele ponderou que esses setores também estão entre os que têm feito as maiores parcelas de investimento direto no país. "Então não é possível falar em impacto direto da crise", afirmou Lopes.

Previsão Difícil

A balança comercial teve superávit 1,012 bilhão de dólares em março, contra superávit de 3,306 bilhões de dólares há um ano. Lopes afirmou ser difícil prever o comportamento futuro dos dados comerciais porque o resultado de março foi influenciado por fatores como a greve dos auditores da Receita, atrasos no embarque da soja e de minério de ferro e manifestações na Argentina. A expectativa era de que o país tivesse no mês passado déficit em transações correntes de 3,1 bilhões de dólares, de acordo com a mediana das estimativas de 12 analistas consultados pela Reuters. As previsões variavam de déficit de 2,5 bilhões a 3,8 bilhões de dólares. O BC previa um déficit de 3 bilhões de dólares.

Em 12 meses até março, o déficit em transações correntes corresponde a 0,71 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), ante déficit de 0,36 por cento do PIB em 12 meses até fevereiro.

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