O interesse de pequenas e médias empresas pelo Bovespa Mais é grande, nas palavras do diretor de Relações com Empresas da Bovespa, João Batista Fraga. "Temos recebido muitos telefonemas e consultas de pessoas interessadas em conhecer o segmento, saber como ele funciona", informou o site InfoMoney.
Não é por acaso. A participação na Bolsa é uma forma de angariar recursos para crescer. Isso porque, dependendo do ritmo de desenvolvimento e aumento da lucratividade da empresa, o financiamento obtido nos bancos não é suficiente. "É uma oportunidade para as companhias de crescer. Com a abertura de capital, o mercado fica mais disposto a investir na empresa", analisa Fraga.
Segmento para pequenos
O Bovespa Mais é um segmento de listagem do mercado de balcão organizado sob administração da Bovespa. Ele foi idealizado para tornar o mercado acionário brasileiro acessível a um número maior de companhias, e podemos dizer que favorece a participação de PMEs porque foi projetado para ofertas públicas de volumes menores, inferiores aos usualmente captados por empresas do mercado principal.
É importante ressaltar, porém, que não há limite de faturamento para uma organização se listar no Bovespa Mais, o que significa que qualquer empresa, independentemente do seu porte, pode participar. Embora tenha sido formatado em 2005, o segmento foi inaugurado em fevereiro deste ano, com o início de negociação das ações da Nutriplant, a primeira empresa a se listar nele.
Do setor de fertilizantes, a empresa de Paulínia, interior de São Paulo, é considerada pequena e possui um faturamento de R$ 40 milhões anuais. Fundada em 1980, pertencia a uma organização americana que, ao final de 2004, a vendeu para investidores brasileiros. Desde então, cresce em torno de 36% ao ano.
@@@
Bolsa não é só para grandes "Os investidores que compraram a empresa já investiam bastante, mas ela precisava de muito mais capital para crescer. Entre as alternativas que foram apresentadas, estava a listagem no Bovespa Mais", conta o diretor-geral da Nutriplant, Marcos Haaland.
"Em um primeiro momento, não entendemos a proposta desse novo segmento da Bovespa e tínhamos a crença de que participar da Bolsa era privilégio de grandes empresas. Quando compreendemos seu conceito, no entanto, percebemos que estava alinhado com nossas expectativas", completa.
É vital frisar que se listar no Bovespa Mais não é tarefa fácil. "Eu diria que é algo trabalhoso", diz o diretor de Relações com Empresas da Bovespa. "É preciso ter um bom negócio, atraente para o investidor, se preparar e estar conforme os parâmetros de governança corporativa – mas atingi-los pode ser demorado, dependendo do nível de evolução da empresa. Se a organização for familiar, e não profissionalizada, por exemplo, chegar a esses parâmetros pode ser mais difícil, pois ela terá que compor um conselho administrativo e passar por auditoria".
No caso da Nutriplant, o processo, que demorou pouco mais de seis meses, foi natural. O motivo é que, apesar de a empresa ser familiar, sempre teve um conselho de administração, era auditada e profissionalizada. Um exemplo claro disso é que sua administração está nas mãos de executivos do mercado. "A Bovespa se interessou por nós porque temos princípios de governança corporativa fortes. Além disso, atuamos no mercado agrícola, que cresce muito", conta Haaland.
@@@
Facetas do Bovespa Mais
"O Bovespa Mais é voltado a empresas com potencial de crescimento, que podem atrair o investidor qualificado. Acredito que um empreendimento deve crescer primeiro por meio de dívidas (financiamento) e depois com injeção de capital via ações", afirma o diretor-geral da Nutriplant.
O segmento segue o mesmo princípio do Novo Mercado (segmento do mercado principal da Bovespa), que exige elevados padrões de governança corporativa e transparência. As empresas que se listam no Bovespa Mais tendem a migrar naturalmente para o Novo Mercado, à medida que diversificam a sua base acionária, mas a mudança não é obrigatória.
Não há exigência de um mínimo de ações em circulação (free float) no momento da listagem. No entanto, as empresas precisam, ao longo de sete anos, atingir o mínimo de 25% de free float ou o patamar mínimo de dez negociações por mês e presença em 25% dos pregões.
Quem investe nas empresas do Bovespa Mais são os investidores que buscam retorno no médio e no longo prazo e visualizam nessas companhias um potencial mais acentuado de crescimento.
"Estamos falando do investidor de maior porte, que investe um valor maior, e não no investidor de varejo, embora nada impeça que eles participem, graças à participação de corretoras e bancos de investimento. A razão é que as ofertas desse segmento tendem a ser menores. Com menos liquidez, quem investe demora mais tempo para sair", revela Fraga.
Reputação
O benefício da listagem no Bovespa Mais vai além da capitalização. A legitimidade da reputação, um bem precioso e inestimável hoje para as empresas, é também uma vantagem. "A empresa passa a ter credibilidade mais intensa no mercado. Já notamos diferenças quanto a fornecedores, clientes e até bancos", garante Haaland.
Segundo ele, o segmento tem um potencial de crescimento enorme. "Acredito que é uma oportunidades para as PMEs de acessar o mercado de capitais. A abertura da Bolsa a pequenos negócios é comum em outros países e, na minha opinião, tem tudo para dar certo no Brasil".