O déficit em transações correntes do país tem magnitude “moderada” em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), soma de todos os bens e serviços produzidos no país, na comparação com outros países com notas de classificação de risco de investimento semelhantes ao do Brasil.
Metade dos dez países analisados pelo BC – África do Sul, Croácia, Romênia, Hungria e Índia – apresentam déficits em conta corrente em relação ao PIB, superiores ao 1,3% registrado pelo Brasil. A conclusão é do Banco Central (BC), que divulgou hoje (12) o documento Evolução dos Indicadores de Sustentabilidade Externa – Atualização.
“A média aritmética da amostra, sem ponderação pelo tamanho de cada economia, é de –2,4%, déficit superior ao observado para a economia brasileira atualmente. Note-se que a média, excluindo-se a Rússia, país que é grande exportador de petróleo e correlatos, alcança -3,3%”.
A conta corrente engloba balança comercial (exportações e importações), serviços e rendas e as transferências unilaterais. No primeiro semestre deste ano, o resultado negativo em transações correntes chegou a US$ 17,402 bilhões, o maior da série histórica, iniciada em 1947.
No acumulado de 12 meses até junho, o déficit é US$ 18,1 bilhões, o que equivale a 1,32% do PIB. Em termos históricos, afirma o BC, a média do saldo em transações correntes atingiu –1,75% do PIB, de 1947 a 2007.
O documento também informa que o déficit em conta corrente previsto para este ano será o primeiro depois de cinco anos seguidos de superávits, “que constituíram fato inédito na história econômica nacional”. O motivo para essa mudança é principalmente o aumento das remessas de lucros e dividendos de empresas filiais no Brasil a matrizes no exterior.
Outro fator foi a redução do superávit comercial, com importações crescendo em ritmo superior ao das exportações. As viagens internacionais também contribuem para esse déficit, uma vez que o dólar mais baixo estimula a ida de brasileiros ao exterior.
O BC reforça que o déficit em conta corrente será financiado pelos investimentos estrangeiros diretos (IED – caracterizados pelo interesse duradouro do investidor na economia) e também investimentos estrangeiros em carteira (renda fixa e ações), além de créditos comerciais e empréstimos diretos de médio e longo prazos.
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“Esses ingressos líquidos têm proporcionado a manutenção do superávit do mercado de câmbio e a continuidade da política de fortalecimento das reservas internacionais do país”.
O documento também ressalta que as reservas internacionais, que estão acima de US$ 200 bilhões, são suficientes para superar em mais de três vezes o valor das amortizações totais da dívida pública e privada com vencimento nos próximos 12 meses.
Segundo o BC, em 1999, as reservas internacionais chegaram a cobrir pouco mais da metade das amortizações da dívida com vencimento em 12 meses e 77,5% desse serviço na média entre 1995, ano em que se inicia a série, e 2002.
Em outra perspectiva, diz o BC, as reservas internacionais seriam equilaventes ao serviço total da dívida (juros e amortizações) com vencimento nos próximos 76 meses.
“Em todas as comparações utilizando os indicadores de sustentabilidade externa apontam hoje para maior solidez das contas externas do país, na comparação com a década anterior”, conclui o documento.
O documento lembra que a dívida externa total líquida apresentou trajetória “favorável”, passando de 32,7% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2002, para a posição credora de 1,5% do PIB em junho de 2008. A dívida externa líquida é o total da dívida externa deduzida das reservas internacionais, haveres de bancos comerciais e créditos brasileiros no exterior. O Brasil é credor externo porque as reservas internacionais e outros ativos são maiores do que a dívida externa.
A manutenção de um nível adequado das reservas é vista como uma forma de proteger o Brasil de crises externas e indica que o país é capaz de honrar com seus compromissos, o que melhora o risco país e reduz o custo de captação de recursos pelo setor público e privado.