Autoridades financeiras e de bancos de desenvolvimento de todo o mundo pediram uma ação urgente para interromper a alta dos preços dos alimentos, enquanto o relator especial da ONU pelo direito à alimentação condenou a expansão dos biocombustíveis, que têm usado uma fatia crescente de terras aráveis.
"Quando alguém inicia, nos Estados Unidos, graças a uma política de seis bilhões de subsídios, uma política de biocombustíveis que drena 138 milhões de toneladas de milho do mercado de alimentos, estão estabelecidas as bases de um crime contra a humanidade pela sede de combustíveis", acusou o sociólogo suíço Jean Ziegler, da Organização das Nações Unidas, em entrevista ao jornal Libération.
Já representantes do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial alertaram, em encontro no domingo, para um crescimento dos distúrbios sociais caso o custo dos insumos básicos não seja contido.
A França, segundo país europeu produtor de biocombustíveis, atrás da Alemanha, está preocupada, mesmo não sendo *a Europa quem desestabiliza o mercado mundial de alimentos*, disse o ministro da Agricultura Michel Barnier.
O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de biocombustíveis, com o etanol produzido a partir da cana-de-açúcar.
América Latina
No domingo, os ministros da Economia da América Latina também expressaram sua preocupação com a alta dos preços de alimentos e pediram ao Banco Mundial e ao FMI que busque saídas para o problema.
O fenômeno gerou violentos protestos no Haiti, o país mais pobre da região, que culminaram na demissão do primeiro-ministro Jacques Edouard Alexis, no sábado.
O ministro da Economia da Argentina, Martín Lousteau, defendeu que o Banco Mundial ofereça novas linhas de financiamento e serviços de consultoria para ajudar os países a fazer frente ao problema de abastecimento, que afetam principalmente as camadas mais pobres da população.
*O banco tem um papel importante na hora de aprovar medidas de emergência e ajudar os países a aumentar a produção agrícola e a produtividade do setor*, disse Lousteau em um comunicado, falando em nome da Argentina, do Chile, do Paraguai, do Peru e do Paraguai.
O aumento dos preços dos alimentos e da energia, a instabilidade econômica global e a reforma do sistema de cotas dos 185 países membros são os assuntos que dominaram a agenda dos encontros de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, que terminaram no domingo.
*Os altos preços da energia e dos alimentos parecem que chegaram para ficar*, disse o ministro de Finanças guatemalteco, Juan Alberto Fuentes Knight.
*O Banco Mundial deveria oferecer um campo maior de produtos a seus países-clientes, para que administrem os riscos associados com o crescente aumento nos preços das commodities e com a volatilidade*, acrescentou.
Knight falou em nome da Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Espanha e Venezuela.
Para o ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega, a prioridade, a longo prazo, seria desenvolver a agricultura, mas isso deveria ser equilibrado com a atenção à infra-estrutura e ao acesso à energia, que também são fundamentais para erradicar a fome e a pobreza.