Gestão da inovação: abordagem sistêmica em prol do ato de inovar

Fernando Bertolucci

*Por Fernando Bertolucci é conselheiro do Conselho de Administração da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (ANPEI).

Vivemos em um mundo globalizado, interconectado e interdependente. Desta maneira, ao pensarmos em um novo negócio e, especialmente na forma como a empresa irá interagir com o mundo externo — seja por meio de serviços ou produtos — as soluções precisam atender determinadas estratégias, gerar lucro, estar alinhada com as tendências de comportamento dos consumidores e às demandas de diversos stakeholders deste ecossistema. Falo isso porque estamos acompanhando diferentes iniciativas para integrar os três elos da agenda ESG (corresponde às práticas ambientais, sociais e de governança de uma organização) e, principalmente, o quanto a inovação tem influenciado as estratégias das companhias para seguir em meio aos desafios da atualidade. Vivemos em um mundo extremamente dinâmico e, por este motivo, inovar passou a ser uma competência-chave para o sucesso das instituições.

Para fomentar a inovação de forma contínua e consistente, as empresas precisaram mudar o seu ambiente organizacional para torná-lo capaz de conectar a todos os processos necessários, especialmente quando o assunto é inovar com produtos e serviços. Para ilustrar este cenário, imagine uma organização consciente e engajada com a inovação, que conta com estratégias claramente definidas, recursos disponíveis, operando diferentes fontes de fomento (e com um robusto portfólio de projetos) e, ainda, suportado por uma forte rede de colaboração externa. Neste caso, estamos falando justamente sobre uma abordagem sistêmica para a inovação.

A assertividade na identificação e na conexão dos processos determinam o potencial de inovação. Alguns modelos de gestão, encontrados na literatura, sugerem que sejam considerados como fundamentos principais a “cultura organizacional”, a “estratégia”, os “recursos”, o “portfólio de projetos”, propriamente dito, e, ainda, as “redes de colaboração”. É a partir desta análise que as companhias identificam esses processos no ambiente corporativo.

No fundamento “cultura”, a instituição deve considerar o seu propósito e outros direcionadores organizacionais e alinhá-los à inovação. Já a “estratégia” permite conectar tal fator à inovação e também com todas as demais iniciativas ligadas à visão de futuro da empresa. Para que isso aconteça, é necessária uma governança sólida, que garanta que essa conexão ocorra em todos os níveis decisórios da companhia. Dentro deste fundamento, algumas organizações, como a Suzano, por exemplo, utilizam comitês ligados ao Conselho de Administração, contendo membros internos e externos, para lidar especificamente com os direcionadores estratégicos.

Já o quesito “recursos” considera fontes internas e externas, como fomentos e incentivos para inovação, além do próprio orçamento interno. No “portfólio de projetos” são considerados todos os processos relacionados ao pipeline de inovação, que vai desde à ideação e implementação dos projetos ao post audit, no qual são confrontados os ganhos advindos da inovação. No caso das “redes de colaboração”, são conectados os mecanismos utilizados pelas instituições para troca de conhecimento com empresas externas — exemplo disso são os Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs), universidades, startups, competidores, entre outros. A inovação, atualmente, acontece em rede, o que promove uma ampla colaboração e deixa de lado a arrogância do pensamento de que as organizações, sozinhas, têm toda capacidade de inovar.

Na verdade, a inovação vai além dos muros delimitadores de uma companhia. Por isso, parcerias com diferentes instituições externas contribuem para manter a área dedicada à inovação, atenta às tendências que estão em curso e, ainda, sempre recebendo novos inputs e insights. A abordagem sistêmica tem se mostrado extremamente eficaz na geração de diferenciais competitivos associados ao ato de inovar, com configurações flexíveis e sempre considerando as características de cada companhia. O que tem ficado cada vez mais evidente é que quando uma empresa tenta promover a inovação, ignorando essa abordagem, o esforço acaba sendo ineficaz, com resultados aquém do desejado, diante de um mundo em constante transformação.

*O material contou, ainda, com a colaboração de César Bonine, gerente executivo de Propriedade Intelectual e Gestão da Inovação da Suzano, e Plínio Ignez, coordenador de Gestão da Inovação na Suzano.

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