Por Cleide Cavalcante, Gerente de Comunicação Corporativa na Progic*
Estava refletindo sobre os relacionamentos interpessoais, em sociedade e no corporativo, e em como nosso comportamento na atualidade pode ter reflexos significativos no futuro. Cheguei a conclusão de que: como líderes, temos um papel de suma importância no direcionamento das próximas gerações de profissionais e, mais, de líderes- estes, por sua vez, advindos de vivências cada vez mais imersas em comunidades virtuais.
Tive essa percepção, pois, justamente em um mundo cada vez mais moldado pelo avanço tecnológico e pelas transformações sociais, vivemos um momento de inflexão histórica que redefine continuamente os contornos dos nossos relacionamentos interpessoais e profissionais. Para mim, a pandemia serviu como catalisador para essa fusão, acelerando a transição para modelos de trabalho remotos e híbridos e forçando-nos a reavaliar como nos conectamos uns com os outros. Isso porque, quando o trabalho remoto rapidamente se tornou a norma, já estávamos crescendo raízes no contexto da tecnologia; isso só foi acelerado. Agora vivemos em um mundo no qual o modelo híbrido é lugar comum.
Essa transformação não apenas alterou a maneira como trabalhamos, mas também como nos conectamos uns com os outros. As gerações mais jovens, especialmente a Geração Z e a Geração Alfa, estão crescendo em um ambiente no qual o digital e o físico se entrelaçam de maneiras sem precedentes.
“Estamos cada vez mais juntos, mas cada vez mais sozinhos”
Inevitável trazer aqui Zygmunt Bauman, que descreve como os laços humanos se tornaram mais fluidos e efêmeros: “Vivemos tempos líquidos. Nada é feito para durar, para ser sólido.” Essa ideia ressoa profundamente quando observamos a forma como as novas gerações interagem. Do outro lado, Philip Kotler, ao citar os “netizens” — cidadãos da internet ou nativos digitais —, destaca a habilidade desses indivíduos de se adaptarem rapidamente às novas tecnologias, criando comunidades virtuais que são, muitas vezes, tão significativas quanto as físicas. E, então, no meio de tudo isso, emerge o conceito H2H. Em palestras, eventos, entrevistas etc, vemos os especialistas focarem mais fortemente nesta teoria, que significa “Human to Human“. O conceito enfatiza a importância das interações humanas e das conexões pessoais no mundo dos negócios e além.
Ele também serve como um lembrete de que, no fim das contas, a capacidade de se conectar com outros seres humanos de maneira significativa é o que impulsiona o sucesso e a inovação.
Projetando para daqui a 10 anos, as implicações de não abordarmos a necessidade de profundidade e significado nos relacionamentos profissionais são significativas. As organizações que não conseguirem criar culturas que contemplem genuínas conexões humanas podem enfrentar desafios em reter talentos, inovar e manter a saúde e o bem-estar dos funcionários. Para enfrentar a tendência à superficialidade, as organizações devem adotar tecnologias que promovam interações significativas, superando barreiras físicas sem sacrificar a profundidade da conexão.
Dito isso, pessoalmente, acredito que o futuro dos relacionamentos interpessoais será moldado por um equilíbrio fino entre o digital e o humano. As gerações Z (nascidos aproximadamente entre 1997 e 2012) e Alfa (nascidos a partir de 2013), têm o potencial de redefinir o que significa se conectar, mas precisarão de orientação e apoio para navegar nesse novo mundo. Como sociedade, devemos estar preparados para abraçar essa mudança, garantindo que a tecnologia sirva para aproximar, e não afastar, as pessoas. À medida que avançamos, o desafio de utilizar a tecnologia para enriquecer nossas conexões humanas, em vez de diluí-las, torna-se cada vez mais premente. Este futuro, embora repleto de desafios, oferece a promessa de um mundo onde a tecnologia serve para unir as pessoas, transcendendo as barreiras da sociedade líquida para criar relações mais ricas e significativas.
Este cuidado, entendo, é para já! Temos de voltar os olhos para esta questão agora, quando nativos digitais, já no mercado de trabalho, começam a conviver mais intensamente com gerações mais jovens, que não conhecem um mundo sem tecnologias, circulam mais facilmente em comunidades virtuais e começam a demonstrar algum incômodo em interações pessoais próximas. Entender isso, é entender nosso papel no hoje e na contribuição que podemos deixar como herança para as futuras gerações.
*Cleide Cavalcante é jornalista com Master pela Universidade de Navarra e especialização em Comunicação Interna. Ela é Gerente de Comunicação na Progic, empresa líder em tecnologia para Comunicação Interna no Brasil. Possui mais de 20 anos de experiência e 350 projetos digitais implantados em grandes empresas, como IBM, Danone e Michelin.