Mulheres conquistam espaço em marcenarias

Tradicionalmente, criou-se a ideia de que existe “trabalho de mulher” e “trabalho de homem”, mas, nos últimos anos, o mercado de trabalho mudou, e, esse conceito também. Hoje, o público feminino ocupa cada vez mais espaços profissionais que antes eram considerados totalmente masculinos, praticando as mesmas atividades e funções.

Diante disso, encontrar mulheres em marcenarias, criando e construindo, convivendo com o pó e o barulho das máquinas, está se tornando cada vez mais comum em todo o mundo. Um exemplo de força de vontade e desejo de quebrar paradigmas no ambiente profissional, é a gaúcha Quélen Porley, que ao lado do marido e maior incentivador, criou o Ateliê Piegina, com a produção de móveis e objetos em madeira.

“No ano de 2010, saímos do Rio Grande do Sul e nos mudamos para Santa Catarina. Precisávamos manter uma casa e, diante disto, eu e meu marido, Gabriel, buscamos empregos em empresas privadas. Com a necessidade de mobiliar nossa casa e com a grande oferta de itens no mercado catarinense, decidimos nós mesmos produzirmos os itens de nosso novo lar”, comenta.

Quélen conta que eles compraram um serrote, madeira e pregos para fazer os primeiros móveis. Mesmo sendo de uma família de marceneiros, vendo seu avô, pai e tio trabalhando nesse segmento, seu marido não atuava na área. Mas, obteve em sua juventude experiência com a família dentro da marcenaria. “Em contrapartida, surgia ali o meu primeiro contato com a produção de móveis. Nós passamos quatro anos em nossos empregos, mas, não estávamos felizes. Então, resolvemos juntos começar do zero uma marcenaria”, revela. Ela ainda ressalta que um fator muito importante na decisão, foram os amigos, que visitavam e acabavam gostando dos móveis que eles produziam e queriam para a casa deles também.

O sucesso foi tanto que dois anos depois a gaúcha criou a linha Piegina Gourmet, com utensílios de madeira para cozinha. Quélen conta que sua maior motivação neste segmento, é criar peças totalmente diferentes, mas sempre resgatando a marcenaria tradicional, trabalhando com madeira de verdade.

“Em 2014, quando começamos a adquirir as ferramentas para o nosso negócio, percebemos que a grande maioria das marcenarias havia trocado a madeira por MDF e, consequentemente, as máquinas também. Era preciso resgatar a essência”, explica.

Outro fator que faz com ela e tantas outras mulheres sejam atraídas para este universo é o simples fato de pegar uma madeira que, muitas vezes, está em seu estado bruto, descobrir os veios, tonalidade e aroma, e saber que será possível transformar em infinitas possibilidades e peças incríveis.

“Dedicar respeito aos materiais e cuidado na execução de cada peça, assegurando qualidade e identidade de nossos produtos, é o fator chave para manter essa paixão”, conta a marceneira.

Como qualquer outra profissão, que antes era dominada por homens, na marcenaria as mulheres ainda sofrem preconceito, com olhares curiosos ou frases como “essa madeira é pesada para você carregar”, além de machismo e assédio, visto que a grande parte das madeireiras são compostas na grande maioria por homens. “Sinto o machismo com mais frequência quando vou comprar a matéria-prima, por exemplo, ouvindo frases e opiniões desnecessárias, mas, faço questão de mostrar que eu consigo e que posso exercer a mesma função ou tarefa que um homem”, ressalta.

Quélen ainda comenta que existe situações que algumas pessoas acham engraçado mulheres trabalhando em máquinas. “É como se eu estivesse “brincando de trabalhar”, conta.

A marceneira ressalta que é importante ter força de vontade, e, ter paixão acima de tudo. “Vá em frente, o céu não é o limite!”, finaliza.

Mulheres na indústria

Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, a participação das mulheres no setor industrial cresceu 14,3% nos últimos 20 anos. A pesquisa também revelou que, no mercado de trabalho em geral, a participação de mulheres cresceu 17% no mesmo período.

Um exemplo do avanço da participação feminina nas grandes indústrias, a Grossl, empresa de soluções em abrasivos e adesivos, de Campo Alegre, Santa Catarina, possui 43% de mulheres atuando na organização. Do quadro total de colaborados as mulheres ocupam 47% dos cargos de gerência e coordenação na empresa.

“É importante que as empresas incentivem a diversidade nos mais diversificados setores e atividades. Dentro das grandes indústrias, ainda existe a predominância masculina e ter cada dia mais mulheres proporciona mais equilíbrio para o ambiente empresarial”, comenta Sergio Jankowski, vice-presidente da empresa.

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