Num mundo de pandemia e sem vacinas para todos os países, os diferentes sonhos de crianças

O menino, sem nome, no país mais pobre do mundo, tem o direito de sonhar alto. Também tem direito de sonhar alto o homem, com nome e é um dos mais ricos do mundo, Richard Branson. Dono da Virgin Galactic, Branson fez a primeira viagem pessoal ao espaço no dia 11 de julho, em plena pandemia do século.

Entre as viagens ao espaço já realizadas  por Richard Branson e a do dia 20 de julho pelo dono da poderosa Amazon, Jeff Bezos, e a que está sendo preparada pelo empresário e bilionário de carros elétricos e autônomos do Grupo Tesla,  Elon Musk, o chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, faz uma constatação dramática: “O mundo vive uma derrota moral catastrófica”. Ele aponta para a ferida aberta do abismo, da desigualdade na distribuição e aplicação de vacinas entre os diferentes países, sendo mais grave entre os países mais pobres.

Enquanto chegam 40 milhões de vacinas nos 50 países mais desenvolvidos, apenas 25 vacinas chegam a cada um dos outros 155 países, na grande maioria de países pobres, que não têm condições de arcar com o custo de produzir ou comprar esses imunizantes.

A própria OMS, junto com a Universidade de Oxford e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), apontam em recente estudo que os países pobres deixarão de adicionar US$ 38 bilhões ao PIB em 2021, por não terem alcançado o percentual de vacinação que ocorre nos países mais avançados. Esses descompasso, agora maior pela pandemia e sem o antídoto da vacina, agrava o desemprego e a pobreza absoluta entre os países mais pobres.

Tanto Branson, Bezos  ou Musk realizam suas sonhadoras viagens com dinheiro próprio, sem recorrer à verba pública. Só Bezos, para fazer a sua primeira viagem turística, gastou R$ 5 bilhões. Essa quantia financeira seria suficiente para vacinar toda a população do Peru com as duas doses (66 milhões de vacinas), se for considerado um preço médio por dose de R$ 75. O Peru é o país que registra a taxa mais alta de mortalidade no mundo

O chef da Organização Mundial da Saúde chama a atenção para que no momento o mais importante e urgente para toda a humanidade e para a economia de todos os países, seja com recursos públicos ou privados,  seria vacinar todas as pessoas, ricas ou pobres, pois o combate é contra um poderoso vírus invisível que não despreza ninguém, mesmo quem  já tenha ido para outro espaço fora da terra.

A OMS trabalha com a perspectiva que até o final de 2021 a população de 40% dos países esteja com as duas doses tomadas. Até a metade de 2022 esse  porcentual, espera a OMS, seria de 70%, o que traria a regularidade de saúde e seria capaz de ativar a economia dos países, mesmo os mais pobres.

Ao retornar da sua viagem no espaço, já com os pés no chão, Richard Branson  lembrou do tempo de menino, quando era criança.  “Sonhei com este momento desde criança, mas ir ao espaço é ainda mais mágico do que eu poderia imaginar”, declarou. O menino, sem nome, no país mais pobre do mundo, agora na pandemia, com maior pobreza, desemprego e sem vacinas para salvar pessoas e ativar a economia, a cada dia está diante de um sonho ou um pesado: comer alguma  coisa ou não comer nada.

 

Facebook
Twitter
LinkedIn