Posto Ipiranga continua fechado para pequenos empreendedores

– Sou um pequeno empreendedor. Onde eu consigo crédito agora durante a pandemia para manter minha empresa, os empregos e os salários em dia.

– Pergunte lá no Posto Ipiranga.

Essa indicação virou um dito popular em todo o país e poderia ser durante a pandemia a senha em especial para os pequenos empreendedores encontrar o lugar certo para manter seus estabelecimentos em pé, embora com portas fechadas por um tempo. Neste Posto (que poderia ser um cartão virtual da Caixa ou do Banco do Brasil), na beira do  asfalto da grande cidade até a estrada mais empoeirada do interior do Brasil, os pequenos empreendedores teriam as informações e o combustível necessário, em forma de crédito, para encontrar a alternativa de passar esse período de isolamento social imposto pela pandemia.

Mas isso não aconteceu. Os empreendedores e em maior número da chamada economia criativa, donos de restaurantes, cafés, lojas, organizadores de eventos, produtores de design, de moda, músicos, artistas em geral, entre muitos outros, não tiveram o lugar certo para resolver seus problemas. Foram indicados para procurar bancos comerciais, públicos e privados, que mesmo com dinheiro em caixa sempre se recusaram a emprestar para empreendedores pelo risco de eles não conseguirem saldar seus débitos, o que em grande parte pode ser bem provável. Assim ficam a ver navios milhares de empreendedores brasileiros, responsáveis por 98,5 das empresas brasileiras, pagam 44 % dos salários e fazem girar 27% de PIB brasileiro, ou seja, de tudo que é produzido no país a cada ano.

A placa “Pergunta lá no Posto Ipiranga” foi virada de lado até pelo atendente mais conhecido desse Posto, o ministro da Economia Paulo Guedes, assim nominado pelo presidente da República Jair Bolsonaro.  Será que o ministro e o presidente da República não ficaram sabendo ainda da pesquisa “Pulsar Empresa:  o impacto da Covid19”, feita pelo IBGE, que revelou que dos 1,3 milhão de negócios fechados na primeira quinzena de junho, 523 mil fizeram por causa do Coronavírus?  Desses negócios, 99% eram de pequeno porte.

O Sebrae também apresentou um levantamento e mostrou que somente 18% dos pequenos empreendedores que buscaram crédito junto as instituições financeiras públicas e privadas conseguiram algum volume de empréstimo ou financiamento.

Não se pode esperar no Brasil o que fez a Alemanha.  Mas pode ser uma inspiração para chegar um pouco perto.  Lá, cada pequeno empreendedor recebeu a fundo perdido, ou seja, ninguém vai cobrar nunca, 15 mil Euros, o que equivale a cerca de R$ 80 mil. Durante seis meses o governo alemão também se comprometeu a pagar 60 por cento dos salários das empresas de pequeno porte.  Assim, até apareceu aqui na televisão uma brasileira que tem um café em Berlin, feliz da vida, pois recebeu esses recursos. Ela não acreditou no primeiro momento.  Mas foi a sua salvação para não demitir ninguém, manteve os empregos e os salários em dia e após a fase mais grave da pandemia está tocando a vinda em frente, pagando em dia também todos os impostos para o governo alemão.

A pandemia no Brasil, no entanto, em especial para os pequenos empresários, está sendo tratada mais como uma crise financeira, não como uma tragédia humana, uma doença, uma pandemia contagiosa de lastro mundial.  Só falta dizer que esses empreendedores são incompetentes, não souberam gerir direito suas empresas durante a pandemia e por isso tem quer assumir todos os compromissos.

Um empreendedor quer fazer uma última pergunta:

–  Onde fecho a minha empresa e demito todo mundo.

–  Pergunte lá no Posto Ipiranga.

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