Estudo da consultoria Maksen, em parceria com o Insper e com o Lisbon MBA, revela que apesar do crescimento acentuado da atuação no exterior nos últimos anos, as empresas brasileiras continuam muito abaixo do seu real potencial de internacionalização, sobretudo pela orientação ao mercado interno.
Comparando o Brasil com economias mais evoluídas, como a dos EUA, verifica-se que o país tem ainda um longo caminho a percorrer no que diz respeito à internacionalização das suas empresas. O estudo da Maksen mostra que das 50 maiores empresas, no Brasil apenas 56% são internacionalizadas, enquanto que nos EUA, 90% já têm operações em outros países.
“O Brasil está ficando para trás em termos de internacionalização. A sua presença no exterior não reflete adequadamente a sua relevância econômica. De 2004 para 2012, o Brasil subiu do 14º lugar para 7º no ranking das maiores potências econômicas mundiais, no entanto ao nível da internacionalização apenas passou de 24º para 20º. Consequentemente, as empresas brasileiras não estão capturando benefícios estratégicos importantes para competir num mercado cada vez mais global”, afirma Sérgio do Monte Lee, head da Maksen no Brasil.
O vasto, lucrativo e ainda protecionista mercado interno foi uma das dificuldades apontadas no levantamento da Maksen. Aproximadamente 70% dos executivos entrevistados acredita que o Brasil é suficiente para o crescimento nos próximos anos, quer pela disponibilidade de recursos internamente, quer pelo potencial de crescimento do mercado consumidor. “O Brasil tem um mercado consumidor enorme e a projeção é que se torne o 5º maior do mundo em 2020. Esse vasto mercado doméstico quando somado à crise internacional desencoraja as companhias a arriscarem expandir as suas operações para outros países”, diz Lee.
Com o foco no mercado interno, as políticas orientadas à promoção da internacionalização, tal como a educação internacional, passam para um segundo plano. No Brasil, não existe ainda nenhum MBA completamente em inglês como, por exemplo, na Europa, onde existem 2.400 cursos oferecidos apenas na língua inglesa. Adicionalmente, e de acordo com o Instituto Internacional da Educação, os estudantes brasileiros nos EUA representam apenas 1% do total de estudantes, confirmando a reduzida orientação acadêmica internacional.
O alto custo do capital, com taxas de juro acima das dos outros países, também foi citado pelos executivos como barreira à internacionalização. O financiamento do Banco de Desenvolvimento Nacional (BNDES) é visto pelo empresariado como a opção mais acessível, porém mais difícil de obter, levando a que grande parte das empresas procure financiamento externo para os seus projetos. A falta de assistência do governo com políticas públicas voltadas para ajudar as companhias a se internacionalizarem, a elevada volatilidade macroeconômica, a dificuldade burocrática e a constante mudança regulatória aparecem também como ofensores ao processo de internacionalização. “Esse cenário de constantes mudanças faz com que as empresas estabeleçam um panorama de curto prazo para os investimentos”, explica Lee.
Não é só o país e governo brasileiro que travam a expansão das empresas. O estudo da Maksen aponta como barreira adicional, a baixa competitividade das empresas brasileiras, sobretudo pela falta de preparação para processos de internacionalização e estruturas de custo pesadas. No índice de competitividade mundial de 2013, o Brasil situa-se na 51ª posição, refletindo a falta de capacidade das empresas brasileiras em competir na arena internacional.
Por último, a falta de cultura de internacionalização, bem como o perfil conservador de alguns empresários brasileiros, surge como fator determinante na internacionalização das empresas brasileiras. Do total de entrevistados, 77% afirmam que a falta de visão e orientação a processos de internacionalização, impacta diretamente a ida de algumas empresas para o exterior.
A reforma passa por i) conceder mais e melhor informação às empresas, quer dos países a investir quer do processo de internacionalização, ii) testar e realizar projetos piloto, iii) expandir a política de incentivos à internacionalização (fiscais, políticos, comerciais, etc.) e iv) alocar os investimentos de forma mais focada, sobretudo ao nível da infraestrutura, educação e concessão de crédito.
“Uma atuação conjunta das empresas e do governo, é fundamental para mudar o panorama atual e preparar o Brasil para um futuro, numa arena global, na qual os concorrentes estrangeiros estarão consolidados e o mercado interno brasileiro saturado”, conclui Lee.