Private Equity: caminhos e estratégias para as organizações captarem recursos com investidores privados

Investidores e especialistas detalham diferenças, benefícios e os principais processos para uma bem sucedida oferta privada de ações.  

O fortalecimento do mercado de capitais no Brasil nos últimos anos – impulsionado pela expansão de fundos de investimento e o crescimento de empresas listadas em Bolsa no período – abre novas frentes e estratégias para organizações no país. Uma delas é a busca por investidores externos, seja para ampliar ou reestruturar operações, ou para adquirir outras empresas e se consolidar no mercado.

A opção pela captação de recursos via Private Equity, a oferta privada de ações para investidores, foi o tema do segundo encontro do Grupo de Funding e M&A, iniciativa do Programa de Competitividade do WTC Curitiba, Joinville e Porto Alegre, realizado nesta terça (13.07) e que trouxe como convidado o investidor e especialista em finanças corporativas Bruno Dequech Ceschin, fundador da Jupter – uma plataforma de inovação e conexão entre startups e investidores. 

Na presença de diversos executivos, empreendedores e especialistas, o encontro – além de fortalecer o networking entre todos – deixou entre as lições os riscos e oportunidades deste tipo de operação, orientando os participantes a entender se, em suas empresas, faz sentido ou não iniciar a captação externa de recursos.

Conceitualmente, lembra Bruno, o private equity (PE) é toda e qualquer operação de venda de ações da empresa de maneira privada, ao contrário do IPO – a oferta pública de ações na Bolsa de Valores. “Atualmente, há pouca diferença prática entre o private equity e o venture capital. Em geral, o PE é mais incisivo na gestão da empresa, tende a ser majoritário e a criar uma estratégia própria de condução dos negócios. Os VCs em geral são acionistas minoritários e mais amigáveis ao empreendedor, não vai tocar a operação”, explica Bruno, que foi um dos primeiros investidores da fintech catarinense Asaas, que já levantou cerca de R$ 50 milhões em diferentes rodadas de seed e venture capital. 

“Em linhas gerais, o private equity vai trazer o sócio que além de gerenciar a empresa vai fazê-la mudar de patamar, conforme o objetivo que a empresa definiu ao abrir a rodada. E isso é fundamental deixar claro logo no começo: por qual razão você busca recursos? É para comprar outras empresas? Gerar valor e vender futuramente para um investidor estratégico? Reestruturar o negócio antes de um IPO? Há várias estratégias por trás dessa oferta”, comenta. 

Por parte dos compradores, há uma série de perfis e teses diferentes que precisam se encaixar com o momento da empresa e a necessidade da operação:

  • Investidor anjo e venture capital: para negócios early stage, em que há premissas variáveis no negócio e, portanto, mais riscos
  • Growth Private Equity: focado para empresas que já estão em fase de crescimento em escala, muito semelhante ao venture capital;
  • Controle: o comprador entra para fazer a gestão do negócio conforme sua expertise e estilo, como nas aquisições do fundo 3G, de Jorge Paulo Lemann;
  • Consolidação: modelo recomendado para empresas que querem se consolidar no mercado comprando concorrentes ou negócios complementares;
  • Turnaround: voltado para organizações que precisam de mudanças mais profundas na gestão, troca de sócios ou recursos para destravar estratégias ou momento de mercado;
  • Setoriais: comuns em mercados como agro, infraestrutura, imobiliário e tecnologia – o fundo/investidor pode entrar na empresa ou apenas em algum projeto específico
  • Distress: perfil para negócios repletos de problemas e entraves, que precisam se desfazer de ativos ou emitir dívida para “desestressar” o caixa
  • Situações especiais: em operações muito específicas, que não estão em nenhuma das definições acima;

Como reforça Bruno, cada fundo tem uma tese específica e “buscar recursos com qualquer um simplesmente não vai funcionar. Se os seus motivos e os do investidor não estiverem alinhados, nem adianta seguir com o processo adiante”. 

O processo de captação de um investimento private equity demanda foco total dos sócios, além de um time de especialistas, como advisors, assessorias jurídicas e financeiras, por exemplo. Em deals menores (de até R$ 50 milhões), a operação pode ser feita por uma boutique de M&A, mas para negócios de maior porte – é recomendado um banco de investimentos. 

TIMELINE DO PROCESSO:

  • Preparação: ao longo dos primeiros meses, a empresa precisa produzir um memorando de informações para o mercado e um plano de negócios/financeiro básico explicando as razões desta captação ;
  • Outreach de mercado: uma das fases mais complexas, que pode durar anos, de acordo com a maturidade da empresa e do momento de mercado. A empresa que busca recursos abre suas informações, começa a receber propostas e negociar por meio de acordos de confidencialidade até definir o fundo que será o novo investidor;
  • Negociação: processo de due dilligence e entrada do time jurídico de M&A no processo. Pode durar alguns meses e a recomendação é ser extremamente cuidadoso com as cláusulas de contrato; 

Na visão de Paulo Junqueira, presidente do Grupo de Funding e M&A, há outra estratégia importante para empresas que estão em busca de captação de recursos por funding ou IPO: o “dual track”, um caminho pelo qual a companhia se estrutura para a oferta pública de ações com todos os especialistas e informações necessárias, mas aproveita esta mobilização para negociar um investimento em private equity. “O posicionamento da empresa e a forma como você vai apresentar seu caso e seu mercado é decisivo para a geração de valor e o potencial de multiplicador para o investimento”, detalha Junqueira.

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