Historicamente, no Brasil, os jovens sempre foram educados para trabalhar e buscar empregos em grandes corporações, mesmo num cenário em que 99% das empresas são micro e pequenas. Então, empreender não fazia parte da cultura brasileira até 30 anos atrás.
O cenário, felizmente, vem mudando. Dados da última edição da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor(GEM/2014), realizada no Brasil pelo Sebrae e pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP), revelam que, dos 23 milhões de empreendedores em fase inicial, ou seja, com negócios de até três anos e meio de atividade, 53% têm idade entre 18 e 34 anos. Os números revelam que, cada vez mais, os jovens estão buscando estar no comando do próprio negócio.
Diante deste cenário, a educação empreendedora assume papel fundamental. Além de ser estratégia fundamental para o desenvolvimento socioeconômico, somente por meio dela é possível preparar os jovens para assumirem competências exigidas no mercado de trabalho, tais como autonomia, pensamento crítico e capacidade de tomada de decisões. Estar preparado é fator chave para empreender em qualquer âmbito da vida.
“Quando falamos em educação empreendedora, não defendemos simplesmente a abertura de empresas, mas que todos possam entender e praticar o empreendedorismo em seus mais diversos níveis: do indivíduo, das empresas, da educação, da sociedade e das políticas públicas”, defende o gerente do Sistema de Formação Gerencial do Sebrae Minas, Ricardo Pereira.
O Sistema de Formação Gerencial conta, hoje, com a Escola de Formação Gerencial (EFG) do Sebrae Minas em Belo Horizonte, e outras 12 escolas no interior de Minas Gerais, que utilizam a metodologia Sebrae. Em 2014, uma nova escola foi inaugurada em São Luís, no Maranhão, a primeira fora do estado a receber o modelo inovador. Com uma proposta pedagógica diferenciada, as escolas aliam o ensino médio ao ensino técnico em Administração, proporcionando ao aluno uma experiência empreendedora antes mesmo de ingressar no ensino superior.
Como a educação empreendedora pode contribuir para o desenvolvimento socioeconômico do Brasil?
Ricardo – Em 2014, a população mundial atingiu 7,2 bilhões de pessoas, um aumento de 80 milhões em relação a 2013. Essa taxa de crescimento desproporcional, principalmente nos países em desenvolvimento, tende a aumentar a pobreza global. O Brasil já superou 200 milhões de habitantes e a previsão é que, em 2050, esse número ultrapasse 250 milhões de pessoas, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O crescimento e o envelhecimento da população, principalmente nas regiões menos desenvolvidas, são desafios para o país, que precisa pensar em alternativas de inclusão e equidade social. Ainda convivemos com desigualdades gritantes e, diante desse cenário, a educação empreendedora surge como uma solução estratégica e necessária ao desenvolvimento socioeconômico do Brasil.
Num mercado global e dinâmico, qual a importância da educação empreendedora?
Ricardo – Muitos fatores podem impulsionar um jovem a ser empreendedor, mas a educação é, certamente, um dos principais. Assim como crianças tendem a imitar o comportamento dos pais, jovens que crescem em um ambiente empreendedor e que são criados com pensamentos inovadores certamente se tornarão adultos mais versáteis e preparados para os desafios do mercado de trabalho. Seja abrindo um negócio, ou não.
Como as instituições de ensino podem estimular a educação empreendedora?
Ricardo – O investimento em educação empreendedora deve ser feito ainda no período de formação dos jovens. Somente desta forma podemos construir conceitos e práticas empreendedoras que irão se perpetuar para a vida.
Por isso, é fundamental que a escola se transforme em uma incubadora do comportamento empreendedor, por meio de modelos de ensino e práticas inovadores, que apoiem a implantação e a manutenção de um ambiente favorável ao empreendedorismo em seus mais diversos níveis.
Para tanto, o professor deve ser um facilitador, dando mais autonomia ao aluno, estimulando-o a pensar criticamente, agir de maneira autônoma e participativa, tomar decisões e correr riscos. A escola deve incentivar a criatividade e a inovação, proporcionar ao aluno vivências e experiências que aproximem a teoria e a prática.
É papel das instituições de ensino proporcionar aos alunos um ambiente favorável ao surgimento e desenvolvimento de ideias que podem revolucionar o nosso modo de viver.
Dados revelam um aumento da procura por cursos técnicos no Brasil nos últimos anos. Esses cursos contribuem para o ingresso no mercado de trabalho? Comente sobre isso.
Ricardo – A procura por cursos técnicos nos últimos anos foi estimulada não somente por meio de políticas de incentivo, como pelo próprio mercado de trabalho que proporciona uma entrada mais rápida aos jovens que possuem uma certificação. Os cursos técnicos são uma qualificação a mais e sem dúvida abrem portas para o mercado de trabalho, porém, a escolha por um curso técnico não anula a busca por uma formação em ensino superior.
Da mesma forma, não é incomum encontrarmos profissionais com uma formação em curso superior, mas que não possuem prática e nem experiência em equipe, não possuem visão sistêmica, não conseguem se posicionar ou negociar, e essas são habilidades que deveriam ter sido praticadas no período de formação.
Quais as principais competências exigidas pelo mercado e trabalhadas em um curso técnico?
Ricardo – Autonomia na tomada de decisão, pensamento crítico, capacidade de negociação e trabalho em equipe, planejamento de vida e de carreira, análise crítica e visão sistêmica.
Qual dica você deixa para os jovens que desejam ser empreendedores?
Ricardo – A principal dica é que empreender vai muito além de abrir um negócio. No Brasil temos o hábito de vincular o empreendedorismo à abertura de uma empresa, no entanto, é possível ser empreendedor em qualquer âmbito da vida e em qualquer profissão que o estudante vai seguir. Em segundo lugar, que ter um perfil empreendedor não é uma característica inata.
A manifestação do empreendedorismo no indivíduo se dá por meio de seus comportamentos e das suas atitudes frente aos desafios e oportunidades e, desse modo, todos nós podemos desenvolver essas características e ser empreendedores. O importante é que o jovem tenha uma formação que o prepare para a vida e que tenha em mente que ousadia e vontade de correr riscos são os principais atributos para quem quer ser um bom empreendedor.