Além da falta de base técnica e/ou comportamental do empreendedor, o cenário do empreendedorismo no Brasil, caracterizado por alta carga tributária e burocracia e por dificuldade de acesso a financiamento, também torna bastante difícil o trabalho de quem quer empreender
Empreender no Brasil não é tarefa das mais fáceis. De acordo com o levantamento Demografia das Empresas e Estatísticas de Empreendedorismo, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referente ao período de 2009 a 2019, cerca de 80% das empresas brasileiras fecharam as portas antes de completar dez anos de vida.
De acordo com o consultor de empreendedorismo, palestrante e fundador da Vida Veg, maior empresa de laticínios veganos do Brasil e autor do livro “Negócios com propósito: impacto e lucro lado a lado”, Anderson Rodrigues (foto em destaque), são diversas as razões que levam a estes dados assustadores, como, por exemplo, a falta de recursos financeiros para sustentar um negócio por muitos anos.
Contudo, destaca Anderson, uma das principais dificuldades encontradas por aqueles que decidem empreender é a falta de base técnica e/ou comportamental para enfrentar os muitos desafios do dia a dia de um negócio, o que leva a uma gestão deficiente e, consequentemente, ao fechamento da empresa.
Essa falta de base técnica e/ou comportamental, afirma Anderson, tem sua causa no fato de a educação empreendedora ser negligenciada na maioria das escolas e faculdades do país. Segundo o fundador da Vida Veg, mesmo iniciativas do setor privado (cursos de empreendedorismo) e de instituições público-privada como o Sebrae, apesar de contribuirem muito, não têm sido suficientes, até o momento, para suprir essa lacuna. “Dessa forma, apesar de existir um elevado número de brasileiros empreendedores, a maioria deles acaba falindo logo nos primeiros anos do negócio”, destaca.
Para Anderson, instituir e sedimentar uma educação voltada para o empreendedorismo nas escolas e universidades brasileiras contribui, mas não é o bastante para que criemos uma cultura empreendedora no país. Também é preciso, segundo ele, estabelecer uma cultura de estudos que estimule os estudantes a desenvolverem soluções inovadoras para velhos problemas e a aprenderem como implementar isso de forma rápida e eficiente. “Precisamos de escolas e faculdades que preparem os jovens para solucionarem os problemas reais da sociedade e os incentivem e treinem para empreender com propósito”, afirma.
O cenário econômico também é um grande fator que torna bastante difícil empreender no Brasil, segundo o fundador da Vida Veg. Ele destaca que, em 2020, o projeto Doing Business, desenvolvido pelo Banco Mundial, com o objetivo de mapear o cenário do empreendedorismo nos países, concluiu que o Brasil é um dos mais difíceis para empreender, ocupando a 124ª colocação em um ranking composto por 190 países. “Conforme o levantamento, dois grandes motivos contribuíram para o péssimo posicionamento: a alta complexidade dos impostos e da carga tributária e o excesso de burocracia”, diz
A dificuldade de acesso a financiamento para empreendedores é outra característica do Brasil que cria obstáculos para quem tem vontade de empreender. De acordo com Anderson, a pesquisa ‘Financiamento dos Pequenos Negócios no Brasil”, realizada pelo Sebrae, entre 2020 e 2022, mostra bem isso. Segundo o levantamento, a proporção de empresários que encontraram dificuldades para obter um novo crédito saltou de 63% para 84%, nesse período, estabelecendo um recorde histórico na série.
Conforme o fundador da Vida Veg, a pesquisa mostra também que os principais motivos que tornam difícil a obtenção de empréstimo ou financiamento bancários para os microempreendedores brasileiros estão relacionados aos seguintes fatores: falta de garantia, apontado por 20% dos pesquisados; taxa de juros muito alta, destacado por 17% dos entrevistados; e dificuldade em conseguir um fiador, citado por 11% dos participantes.
Para piorar a situação, destaca Anderson, muitas pessoas com vontade de empreender no Brasil têm baixa escolaridade e pouco acesso à informação de qualidade. “Isso faz com que desconheçam que há outras formas melhores de se conseguir recurso financeiro no mercado para iniciar um negócio, o que as levam ao desânimo e a desistir antes mesmo de começarem”, conclui.
Anderson Rodrigues é fundador, sócio e conselheiro da Vida Veg, empresa fundada em 2015 com a missão de contribuir para um mundo melhor por meio do empreendedorismo, salvando animais e facilitando o acesso a alimentos de base vegetal gostosos e saudáveis. Formado em Administração com mestrado em Gestão Estratégica, Marketing e Inovação pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), em Minas Gerais, Anderson passou pelo departamento de marketing de grandes empresas antes de criar a Vida Veg. Em 2021 recebeu o prêmio de empreendedor do ano pela Ernst & Young e hoje atua como mentor, consultor, escritor e palestrante.