5 provas de que a mulher multitarefa não existe

Qual o modelo de mulher “ideal” no mundo de hoje? Se, na década de 50, havia a valorização da mulher como “rainha do lar”, cuidando com esmero dos afazeres domésticos, dos filhos e do marido, hoje a publicidade e outros meios tendem a cultuar a mulher “multitarefa”- aquela que desempenha vários papéis e executa tarefas diversas relacionadas à família, à casa e à profissão, como se isso fosse inerente da personalidade feminina. Mas será que isso é verdade?

Para a Mentora de Carreira & Liderança Gisele Miranda, a resposta é não. “Ao contrário do que se acredita, há pesquisas que contradizem o senso comum de que as mulheres são mais hábeis do que os homens para fazer muitas coisas ao mesmo tempo”, diz a especialista, que também é palestrante e autora do recém-lançado livro “A Coragem de se apaixonar por você”. “Uma delas foi realizada pelo site americano Plos One, e aponta que o cérebro feminino não é mais eficiente do que o masculino para fazer várias coisas ao mesmo tempo. Na verdade, segundo o estudo, o cérebro humano não tem tal capacidade – independentemente do gênero”.

Mas então por que tantos ainda defendem tal ideal? Para Gisele, o mito da multitarefa é mais uma ferramenta de pressão sobre as mulheres, que seguem se norteando por esses conceitos equivocados. “A cobrança social sobre as mulheres ainda é muito forte, em muitos aspectos, desde a obrigação de estar sempre bonita e em forma até as cobranças em relação à maternidade e outras questões. O talento compulsório para ser multitarefa é apenas mais uma delas”, pondera Gisele.

A autora e palestrante alerta ainda que essa crença pode causar expectativas irreais e até mesmo prejudicar a saúde física e mental das mulheres. “Querer ser responsável por múltiplas tarefas e executá-las de forma impecável, o tempo todo, sem contar com nenhuma ajuda e sem dar-se o direito a descansar deixa as mulheres sobrecarregadas e causa frustrações, e até mesmo males físicos e mentais, pois as mulheres são humanas e têm suas limitações. Por isso, é muito importante demonstrar que esse perfil idealizado da mulher não é verdadeiro”, diz.

Abaixo, Gisele lista cinco argumentos que refutam a ideia da mulher multitarefa:

Ninguém é 100% bom em ser multitarefa

Assim como explicado acima, o cérebro humano não foi desenvolvido para executar múltiplas ações simultaneamente. De forma similar ao estudo da Plos One citado, outros testes indicaram o mesmo, como o da Universidade de Bergen (Noruega) publicado pela Harvard Business Review. O levantamento revelou que, se essa diferença de fato existe, na vida prática é irrelevante. Para testar a tese, um grupo de 66 mulheres e 82 homens foi selecionado para simular situações corriqueiras – como organizar uma reunião com distrações e tendo que lembrar-se de tarefas futuras. “Segundo a pesquisa, não houve diferença entre o desempenho dos homens e das mulheres — ou seja, não há nenhum motivo para as mulheres serem consideradas mais multitarefa”, comenta a autora.

Multitarefa é sinônimo de mulher sobrecarregada

A tese de que a mulher é melhor em se dedicar a várias atividades simultaneamente faz com que elas se esforcem para dar conta de tudo – trabalho, filhos, casa, marido- e sintam-se com essa obrigação, o que causa estresse e faz com que muitas sofram por ficarem sobrecarregadas. “Por mais que tente ao máximo assumir o papel da multitarefa, em algum momento a mente da mulher- de tão cansada- irá lembrá-la que ela só é capaz de cumprir uma missão por vez”, avalia Gisele. Ou seja, querer ser multitarefa causa estresse e sofrimento a muitas mulheres, então, é algo a ser evitado, não a ser exaltado e elogiado.

Ser multitarefa favorece erros

Cobrar-se por ser multitarefa pode tornar-se uma “frustração sem fim”, se considerarmos que as distrações acabam ocasionando mais falhas, e fazendo com que a mulher exija ainda mais de si mesma, por não estar sendo “perfeita” como gostaria. Ao fazer várias coisas ao mesmo tempo, a mente é dividida entre as diferentes atividades, então, é natural que os erros se multipliquem. Além disso, pesquisas comprovam que ser multitarefa prejudica a memória de curto prazo. “Ou seja, ao ser multitarefa, a mulher estará alcançando o oposto do que deseja: que tudo esteja sob controle, bem resolvido, etc”, alerta a autora.

Mito da multitarefa prejudica a saúde mental

Embora o cérebro humano não tenha sido desenvolvido para ser multitarefa, conforme já explicado, a sociedade continua a cobrar que essa seja uma “especialidade” feminina. Resultado? Muitas mulheres sofrem mais que os homens com problemas como ansiedade e depressão. “Estudo recente da Universidade de Melbourne (Austrália) indica que as mães são mais pressionadas pela falta de tempo e relatam mais problemas de saúde mental do que os pais. Elas também carregam uma carga mental maior ligada às necessidades da família — como roupas limpas, quem precisa ser apanhado na escola, se há comida suficiente para o almoço, entre outras questões domésticas”, explica Gisele.

Carreira das mulheres também pode ser afetada

A obrigação da “multitarefa” pode causar malefícios não somente à saúde mental das mulheres, como também para sua capacidade de se destacar no trabalho remunerado. “A dupla jornada das mulheres – que cumprem atividades em casa e fora do lar- se agravou após a pandemia de covid-19. As mulheres que trabalham foram as mais impactadas pela suspensão das aulas nas escolas. Segundo pesquisas recentes, entre as mulheres com filhos de até dez anos de idade, a parcela que estava trabalhando caiu 7,8 pontos percentuais- de 58,2% para 50,4%, do terceiro trimestre de 2019 para o terceiro trimestre de 2020. Entre os homens com crianças de até dez anos em casa, a queda foi a metade (4,2 pontos percentuais no período)”, conta a especialista.

Com isso, fica bastante claro o quanto é importante e urgente rever esse “peso” que existe para a maioria das mulheres. “É preciso permitir-se falhar, pedir ajuda, e não querer ‘abraçar o mundo com as pernas’ e ser responsável por tudo e todos. Esse mito é uma grande cilada para as mulheres, e o quanto antes elas tomarem consciência e derrubarem essa crença, melhor será. Só assim será possível alcançar satisfação pessoal e profissional verdadeiras, além de mais saúde e melhor qualidade de vida”, finaliza Gisele.

Sobre a Gisele Miranda – Mentora de Carreira & Liderança, autora e palestrante, Gisele Miranda atua há 25 anos auxiliando mulheres a despertarem 100% de seu potencial na carreira e na vida pessoal, tornando-se protagonistas de sua própria história. Com formação em Psicologia Positiva, Neurolinguística e Neurociências, tem como principal missão fomentar e empoderar as lideranças femininas nas organizações, guiando mulheres e empresas rumo ao sucesso. É autora do recém-lançado livro “A Coragem de se apaixonar por você” (Editora Gente).

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