“Um dia você vai ter um Ford”. Há 100 anos atrás essa era a chamada de anúncios em grandes jornais e revistas que circulavam pelo Brasil e pelo mundo afora. A ideia desse anúncio saiu da cabeça de Henry Ford, um dos maiores empreendedores de todos os tempos e fundador da poderosa indústria Ford. O momento era terrível para toda a humanidade. A sangrenta Primeira Guerra Mundial chegava ao fim e ao mesmo tempo terminava a pandemia da gripe espanhola que matou 50 milhões de pessoas entre 1919 e 1920, cerca de um quarto da população da época. Com esse anúncio, mais que simplesmente vender um carro, Henry Ford quis vender um sonho, uma esperança, para depois da Guerra Mundial e para depois da pandemia.
Depois de 100 anos desse gesto de Henry Ford, no dia 4 de janeiro de 2021, os atuais executivos da Ford decidem fechar todas as fábricas no Brasil(Camaçari na Bahia, Taubaté em São Paulo e Horizonte no Ceará), acabar com a produção de carros por aqui e demitir 5 mil empregados, em plena pandemia do coronavirus que na virada do ano já tinha matado mais de 200 mil só no Brasil e no mundo mais de 2 milhões. A Ford produzia no Brasil desde 1919, ou seja, 102 anos.
Com essa pandemia também morre no Brasil o espírito empreendedor de Henry Ford. Já com 16 anos ele consertava motores das máquinas da fazenda o seu pai. Depois estudou engenharia e criou a revolucionária indústria Ford, em 16 de junho de 1903, em Detroit, Michigan (EUA). Foi Henry Ford que criou a primeira linha de montagem para produção em série de veículos. Com isso reduziu o custo e o tempo para produzir um veículo. Registrou nada menos que 160 patentes de carros e outros produtos ligados aos automóveis. Saiu da sua linha de montagem o Ford T que revolucionou o transporte em todo o mundo, por ser um veículo robusto, seguro, simples de dirigir e barato. Produziu esse veiculo por 19 anos, de 1908 a 1927.
Depois da morte de Henry Ford, em 1947, a indústria Ford ainda manteve por décadas sua pujança industrial. No entanto, nas últimas décadas, a Ford está sendo vista pelo retrovisor de outros veículos, mais preocupados em resolver os problemas de mobilidade urbana nas grandes cidades do mundo. O novo veículo mais visível é o Uber, que nasceu como uma startup, não produz e nem tem nenhum carro próprio, apenas um aplicativo, mas hoje vale no mercado US$ 64,6 bilhões, enquanto a Ford vale hoje U$ 55,4 bilhões.
Numa outra pista corre Elon Musk, o multibilionário nascido na África do Sul e fundador da Tesla, empresa especializada na produção de carros elétricos. Já numa pista paralela corre o carro autônomo que não precisa de ninguém para dirigir. Esse carro tem olhos próprios que seguem as câmeras, sensores e radares para contornar obstáculos e seguir todos sinais de trânsito.
Se Henry Ford estivesse vivo hoje, certamente já teria colocado nos jornais e revistas, agora mesmo durante a pandemia do coronavirus, um anúncio com uma mensagem assim: “Um dia você terá um Ford elétrico” ou mais futurista “Um dia você terá um Ford voador”.