As lentes do fotógrafo Sebastião Salgado sempre estiveram apontadas para mostrar, em imagens, as diferentes realidades, culturas, modos de vida e principalmente a dura sobrevivência de povos, no Brasil e por outros países. O Censo de 2022, que será realizado a partir de 1 de agosto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em todo o Brasil, vai mostrar, em números, a realidade do país no momento histórico da atual pandemia.
Nascido em Aimoré, interior de Minas Gerais, formado em economia, Sebastião Salgado hoje com 78 anos, pegou o rumo das estradas do mundo. Entre 1971 e 1973 numa viagem para Angola, na África do Sul, como coordenador de um projeto sobre a cultura do café, na época secretário da Organização Mundial do Café, começou a fotografar por hobby. Daí foi um pulo para ser profissional de grandes agências de fotografias, entre elas a Gama, Sygma e Magnun e assim retratar a realidades de diferentes países.
Para fotografar a atual realidade do Brasil, nada menos de 183 mil recenseadores vão percorrer todo o país e chegar no mais distante rincão, num orçamento previsto de R$ 2,2 bilhões. Pela projeção do IBGE os recenseadores vão bater na porta de 78 milhões de domicílios. Desse amplo trabalho vai sair os mais novos números gerais ou a mais nova e ampliada fotografia do Brasil.
Uma fotografia em preto e branco do Sebastião Salgado pode significar milhares de números ou pessoas, num detalhe, numa fração de segundo. A foto de um corredor de hospital lotado, por exemplo, pode significar que em dois anos da pandemia ficaram para trás pelo vírus mais de 620 mil brasileiros. A foto de uma sala de aula com bancos vazios, pode significar que milhares de crianças nos últimos anos ficaram sem nenhum acesso a conhecimento. Ou a foto da porta de ferro de uma antiga lanchonete arreada até chão, com o cartaz Aluga, significa que mais da metade dos bares e restaurantes do país encerraram suas atividades durante a pandemia e aumentaram a legião dos desempregados em todo o país para mais de 15 milhões de brasileiros.
Em 1986 Sebastião Salgado lançou seu primeiro livro de fotografias com o título “Outras Américas” onde retratou as condições de vida dos camponeses e dos índios na América Latina. Entre 1986 e 1992, produziu a série “Trabalhadores” com fotos que documentaram o trabalho manual e árduo em diferentes partes do mundo. Já entre 1993 e 1999 fotografou a luta dos emigrantes. Muitos deles chegaram até o Brasil. Esse livro teve o titulo Exilados e foi lançado em 2000.
Hoje Sebastião Salgado se dedica a fotografar a imensa Amazônia esparramada em grande parte pelo território brasileiro. Criou a empresa Amazonas Imagens para gerenciar e publicar os seus trabalhos, todos com alertas para a necessidade de preservação desse pulmão natural do mundo.
No início de agosto, cada recenseador vai chegar em cada casa que entrar com 17 perguntas diferentes relativas a família, as condições da casa, a comida diária, escola dos filhos, saúde, entre outros assuntos. Serão as mesmas perguntas para todas as casas. As respostas serão precisas para formar um quadro de números reais, com a nitidez e a clareza de uma fotografia, no formato de 8 milhões de quilômetros quadrados. Se for para ser uma fotografia real, verdadeira do Brasil, Sebastião Salgado tem a última palavra: “A verdade do fotógrafo é aquela fração de segundo. Se fizerem manipulação sobre isso, então não estaremos mais falando de fotografia”.