A fraude inova sempre

No mercado dinâmico e em expansão das fraudes, o especialista Thiago Bertacchini (foto em destaque) analisa o momento e o futuro para o varejo brasileiro

O Instituto do Desenvolvimento do Varejo estima que, até 2024, a totalidade de fraudes no varejo brasileiro ultrapasse a quantia financeira de R$ 87 bilhões, numa alta de 13% em relação a 2023. O instituto também projeta que para 2025 essa quantia financeira poderá alcançar R$ 99 bilhões. Esses números mostram que o cenário das fraudes está em constante inovação e evolução, impulsionado pelos avanços da tecnologia e pela crescente demanda dos consumidores por soluções seguras e confiáveis.

Empreendedor: Os números mostram que as fraudes estão em constante evolução. Neste cenário quais são as tendências, desafios e oportunidades no varejo brasileiro?
Thiago Bertacchini: No dinâmico mercado brasileiro, a acelerada inovação tecnológica tem sido um impulsionador significativo do desenvolvimento de soluções para o mercado digital, criando desafios intrigantes, mas também abrindo portas para oportunidades inovadoras.

Tendências:
● Inteligência Artificial e Machine Learning: essas ferramentas não apenas identificam padrões complexos, mas também adaptam suas estratégias para acompanhar a evolução das fraudes – e dos fraudadores;
● Autenticação Multifatorial: integrar diferentes camadas de verificação fortalece a segurança, proporcionando uma experiência mais confiável para empresas e consumidores e reduzindo a fricção dos bons usuários, cada vez mais exigentes e sensíveis a problemas de UX.
Desafios:
● Adaptação Rápida às Novas Táticas de Fraude: à medida que as empresas implementam medidas mais eficazes, os fraudadores também evoluem. O desafio reside em antecipar e adaptar-se rapidamente às novas táticas de fraude, garantindo uma abordagem proativa e estando sempre atento a comportamentos incomuns;
● Equilíbrio entre Segurança e Experiência do Usuário: Encontrar o equilíbrio certo entre segurança robusta e uma experiência do usuário fluida é um desafio contínuo. As soluções devem ser eficazes sem comprometer a conveniência para clientes e usuários.
Oportunidades:
● Parcerias Estratégicas: Colaborações entre empresas e provedores de tecnologia especializados em segurança oferecem oportunidades para fortalecer as defesas contra fraudes. Essas parcerias estratégicas podem resultar em soluções mais abrangentes e eficazes, trazendo uma visão mais holística do contexto da fraude daquela operação;
● Educação e Conscientização: A demanda por soluções seguras cria uma oportunidade para educar tanto as empresas quanto os consumidores sobre as melhores práticas de segurança. Ao lidar com essas tendências, desafios e oportunidades, destaco a importância de estar na vanguarda da inovação tecnológica para garantir não apenas a segurança, mas também a confiabilidade nas transações. Essa abordagem proativa é fundamental, especialmente considerando o ambiente dinâmico em que atuamos.
No combate às fraudes é essencial que as novas tecnologia, as novas soluções, venham acompanhadas com um consistente sistema de segurança.

Empreendedor: Por que isso nem sempre ocorre?
Thiago Bertacchini: Em um ambiente de negócios cada vez mais competitivo, a implementação de novas tecnologias e soluções inovadoras é essencial, mas a integração com um sistema de segurança robusto nem sempre ocorre de maneira imediata. Existem várias razões para essa discrepância:

● Aversão à Mudança: muitas organizações, especialmente as mais tradicionais, podem resistir à mudança devido à aversão natural a riscos. A adoção de novas tecnologias implica em modificar processos existentes, e isso pode ser visto como uma fonte potencial de instabilidade;
● Custos Associados: a implementação de tecnologias avançadas muitas vezes envolve custos significativos, não apenas na aquisição das soluções, mas também na formação de equipes e adaptação de infraestruturas existentes. Algumas empresas podem hesitar devido ao orçamento restrito;
● Inércia Organizacional: estruturas hierárquicas rígidas e processos lentos de tomada de decisão podem atrasar a incorporação de novas tecnologias, mesmo quando são essenciais para a segurança;
● Desafios na Integração: a integração de novas tecnologias em sistemas já existentes pode ser complexa. Incompatibilidades tecnológicas, dificuldades na migração de dados e a necessidade de treinar pessoal são desafios comuns que podem atrasar a implementação eficaz.
● Falta de Conscientização: em muitos casos, a falta de compreensão sobre a urgência e a gravidade das ameaças cibernéticas pode levar à subestimação da necessidade de investir em segurança. Isso pode resultar em uma abordagem mais reativa do que proativa.
Para superar esses desafios, é fundamental promover uma mudança cultural que valorize a inovação e a segurança. Além disso, a conscientização sobre as ameaças em constante evolução e os benefícios de soluções avançadas pode motivar as organizações a adotarem medidas mais proativas no combate às fraudes. Ao abordar essas questões, as empresas podem fortalecer não apenas suas defesas cibernéticas, mas também sua resiliência diante de ameaças em evolução.

Empreendedor: Se pode dizer que em muitos casos, a inteligência aplicada em fraudes supera a inteligência utilizada em soluções para tornar uma compra de produto ou serviço segura?
Thiago Bertacchini: Infelizmente, sim, No entanto, não é correto afirmar categoricamente que a inteligência aplicada nos ataques de fraudes sempre supera a utilizada pelas corporações. É uma dinâmica de constante evolução, onde a eficácia depende da capacidade das soluções de segurança de se adaptarem e anteciparem as táticas dos fraudadores.
A colaboração, o investimento contínuo em pesquisa e desenvolvimento e a conscientização são elementos-chave para manter uma vantagem na luta contra fraudes.
Empreendedor: Como empresas e consumidores no momento podem se prevenir contra fraudes?
Thiago Bertacchini: A atuação do setor deve estar focada em três vertentes:

1 Desenvolvimento de ferramentas de autenticação com baixa fricção ao longo de toda a jornada de usuário, tais como: IA e machine learning em tempo real para a identificação de padrões suspeitos e ataques, autenticação multifatorial, biometria (comportamental, facial e de voz, entre outras), tokenização de dados;
2 Monitoramento intensivo das novas ferramentas tecnológicas e de engenharia social utilizadas pelos fraudadores;
3 Investimento em campanhas, em parceria com governos e sociedade civil, que visem a educação do consumidor quanto à proteção de seus dados e como não cair em golpes.

Empreendedor: Quais produtos e serviços estão mais sujeitos às fraudes?
Thiago Bertacchini: Aqueles que apresentam maior liquidez para a transformação do produto da fraude em dinheiro. Ou seja, contas bancárias, vale compras, vouchers, eletrônicos de alto valor agregado como celulares, tablets e Smart TVs, jogos online e crédito online (empréstimos).
Empreendedor: A nível de outros países qual é a margem de segurança de empresas e consumidores em relação às fraudes?
Thiago Bertacchini: A margem de segurança em relação às fraudes varia significativamente de país para país e é influenciada por uma série de fatores, incluindo o ambiente regulatório, situação socioeconômica, as práticas de segurança adotadas, a conscientização dos consumidores e as medidas de prevenção implementadas pelas empresas. Aqui estão alguns pontos a serem considerados ao avaliar a margem de segurança em diferentes países:

● Regulamentação e Fiscalização: países com regulamentações rigorosas e agências de fiscalização eficazes muitas vezes têm uma margem de segurança mais ampla. A aplicação consistente das leis relacionadas à segurança cibernética pode dissuadir os fraudadores e incentivar
práticas seguras.
● Infraestrutura de Tecnologia: a infraestrutura tecnológica de um país desempenha um papel crucial na segurança cibernética. Países com tecnologias mais avançadas e infraestruturas robustas podem ter uma margem de segurança maior.
● Conscientização e Educação: a conscientização e a educação tanto das empresas quanto dos consumidores são fundamentais. Países que investem em programas educacionais sobre segurança cibernética podem ter uma população mais consciente e, portanto, uma maior margem de segurança.
● Adoção de Tecnologias de Segurança: a taxa de adoção de tecnologias de segurança, como autenticação multifatorial e detecção avançada de fraudes, impacta diretamente a margem de segurança. Países que adotam mais rapidamente essas tecnologias tendem a estar mais protegidos.
● Cultura de Segurança: a presença de uma cultura de segurança, tanto nas empresas quanto entre os consumidores, contribui para uma maior margem de segurança. Isso envolve práticas de segurança proativas e uma mentalidade de prevenção.
● Colaboração entre Setores: a colaboração entre setores, incluindo empresas, governos e organizações da sociedade civil, pode fortalecer a resposta a ameaças cibernéticas. Países com uma forte colaboração tendem a ter uma margem de segurança mais ampla.
● Histórico de Fraudes e Incidentes: o histórico de fraudes e incidentes passados pode oferecer insights sobre a eficácia das medidas de segurança em vigor. Países que aprenderam com experiências anteriores podem ter implementado melhorias significativas. É importante observar que a avaliação da margem de segurança pode ser fluida, pois as ameaças cibernéticas estão sempre evoluindo.

Portanto, uma abordagem contínua de monitoramento, adaptação e investimento em medidas de segurança é essencial.

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