A “Taça da Morte” – Negacionismo F.C. versus Distanciamento Social F.C.

– Taí o que você queria. Bola rolando….

Assim diria o eterno e inigualável narrador de jogos de futebol,  Januário de Oliveira, quando será dado o pontapé inicial da Copa América 2021 que será realizada entre os dias 13 de junho e 10 de julho, no Rio de Janeiro, Brasília, Goiás e Mato Grosso, com a participação de 10 países. Januário de Oliveira não transmitiria os jogos com a mesma alegria e criatividade de sempre. Esse gaúcho de Alegrete, que empunhou microfones de rádios e TV, morreu na manhã do dia 31 de maio, aos 81 anos, de parada cardíaca. Ele narrava jogos como se contasse uma história em quadrinhos, um show, com frases e bordões insuperáveis. Nesses jogos da Copa América, que ainda poderá ser suspensa, Januário certamente teria um amargor nos seus lábios. Em especial na disputa dentro e fora do campo, por todo o país, entre os times formados na pandemia, os  Negacionistas de um lado e o Distanciamento Social de outro.

– Tá láááá um corpo estendido no chão.

Esse poderia ser só mais um bordão de Januário de Oliveira ao ver a queda em campo de um jogador. Mas no jogo entre Negacionistas e Distanciamento Social, ele não diria essa frase uma, duas ou três vezes. Teria que repetir milhares de vezes, o número de brasileiros que não apenas caíram no chão, mas morreram, vítimas da truculência de um vírus.

– Cruel, muito cruel.

Reforçaria o narrador ao mesmo tempo que pede ao comentarista do jogo para falar sobre o comportamento dos dois times.

–  Os Negacionistas da pandemia entram em campo com vigor, agressivos, todos confiantes na vitória. O time aplica a tática do tratamento preventivo. O massagista deles tem na pasta sempre cloroquina, hidroxicloroquina e invermectina. Não foge da aglomeração em campo e quer o contato físico. Já o Distanciamento Social faz de tudo para não entrar em campo e torce para que a Copa América não seja realizada neste ano ainda de pandemia, em consideração aos mortos e pelo fato dos hospitais ainda estarem lotados de pacientes. O time defende a vacinação em massa, como único tratamento capaz de enfrentar o vírus e conter o número de brasileiros mortos. O jogo está sem uma definição, Januário. Não é possível apostar num resultado final. Segue com você.

Até que termina o jogo. Antes da entrega da “Taça da Morte”, no dia 10 de julho, no monumental Estádio do Maracanã, os comentaristas do jogo vão reforçar a notícia de que o Brasil alcançou com a pandemia a marca de 500 mil mortes.

– Sinistro, mas é muito sinistro.

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