Com apenas 7 anos, um skate nas mãos e a pressa para realizar manobras, a sua mãe a ajudou a vestir um vestido azul, todo rodado. Já vestida, foi fazer a primeira manobra de descida de uma pequena escada na calçada da rua e rolou pelo chão. Alguém filmou e o vídeo viralizou. A pequena “fadinha do skate”, como ficou conhecida, não se importou e buscou o equilíbrio em novas manobras, muitas tentativas, muitos erros e acertos. No dia 26 de julho, Rayssa Leal subiu no palco da primeira Olimpíadas da Pandemia, em Tóquio, para receber a primeira medalha de prata do skate brasileiro, com apenas 13 anos, seis meses e 21 dias. É a mais nova ganhadora de medalha para o Brasil na história das Olimpíadas.
O feito da Rayssa tem que ser atribuído primeiro a sua dedicação, persistência, tenacidade. Mas também a “varinha mágica” da Fadinha. Não foi nada fácil sair da pequena cidade Imperatriz, no interior do Maranhão, um estado que espelha bem as desigualdades sociais do país, até chegar em Tóquio para colocar uma medalha de prata no peito.
Todo esporte amador brasileiro, que busca medalhas em Olimpíadas, é feito mais do empenho dos próprios atletas, em especial para quem compete nas categorias individuais. Muitos deles não têm nenhum apoio de estrutura para treinamentos e muito menos de apoio financeiro, público ou privado, para todos os gastos que são necessários.
O reflexo dessa situação fica gravado no quadro de medalhas no final de cada Olimpíadas. O Brasil está sempre distante dos países que conseguem os números maiores em medalhas. Em comum entre os países maiores ganhadores de medalhas (China, Estados Unidos, Japão e Inglaterra, Coreia do Sul) está o investimento na qualidade de vida em geral da população, com ênfase na saúde e na educação.
É na educação, nos estabelecimentos escolares, onde são forjados os futuros atletas, desde os primeiros anos de ensino. Nesses países, o calendário de treinamentos e eventos competitivos é intenso durante todo o ano, com investimentos maciços em cada esporte.
Assim, num país como o Brasil, onde a Educação como um todo recebe notas muito baixas nas últimas décadas, não apenas neste atual governo que agravou ainda mais essa vital área, é de se admirar que uma Rayssa no skate, uma Rebeca na ginástica ou um Ítalo Ferreira no surf, subam ao palco das Olimpíadas para receber medalhas. Mas muitas outras Rayssas, Rabecas e Ítalos poderiam subir nesse mesmo palco, se tivesse no Brasil mais investimentos no esporte e na educação em geral, sem precisar de “varinha mágica”.