Alexandre Oliveira

Em 2005, o então professor de geografia dos alunos da 8 série do Colégio Loyola, Alexandre Oliveira, de Belo Horizonte, resolveu que precisava conhecer mais sobre o aprendizado dos seus alunos, além de simplesmente avaliá-los pela nota. Em sala de aula, se viu aplicando o sistema de ensino mais comum do “não-aprendizado” no Brasil: os alunos que não foram aprovados passam pela recuperação. “Você oferece uma prova para ele fazer novamente, da mesma maneira para todos, pela nota. Não adianta.”, avalia.

Ele quis fazer algo diferente, diminuir o nível de generalização de ensino. Entender o que o aluno compreende, ou não, e poder reforçar o conteúdo onde é realmente necessário. “Em uma sala com 40 alunos, supomos que 20% precisam de remédio. Não adianta tratar os sintomas. Parti da perspectiva de que se você entender qual é a necessidade de aprendizado destes 20, você entenderá o que eles mais precisam estudar ou até a sua forma de compreensão. E não são 20 soluções diferentes. Facilmente se agrupam em três abordagens distintas para focar nas aulas de reforço, provas, e ensino.”

Meritt sócios 2

Hoje, ao lado do sócio programador digital, Ricardo Fristche na Meritt, e em parceria com a Fundação Lemann, coordena a maior plataforma de dados sobre educação do Brasil, o QEdu, que reúne números do Censo Escolar e outras bases de dados públicas já criadas por eles a partir de dados oficiais: o Portal Ideb, o Mais Enem, e a Provinha Brasil Meritt. Os dados contidos nestes sites são infindos, e além dos números há uma atenção especial para textos, boletins, e recados que orientam uma leitura mais orgânica, eficaz e clara dos números. A ideia é oferecer informação para fortalecer a educação.

A transição entre o analógico e tecnológico, que originou a empresa, começou quando Oliveira decidiu fazer uma pesquisa sistemática sobre o aprendizado de seus alunos. No seu segundo ano de magistério no Loyola, ele começou a registrar a letra marcada pelos 240 estudantes em todas as provas. Quantos marcaram A, quantos marcaram B, e quais os distratores – a resposta errada que faz algum sentido. Nas discursivas, anotava a nota de cada questão. A iniciativa chamou atenção da direção, e Oliveira foi convidado a apresentar sua experiência aos outros professores no final do ano. “Para mim foi uma honra, estava há apenas dois anos no colégio. Como feedback tive avaliações do quanto estas análises eram legais e faziam  sentido, mas o maior empecilho de ser aplicado seria a necessidade de digitar todos os dados em Excel”, conta.

Em 2006, Oliveira mudou-se para Florianópolis em busca de qualidade de vida. Enquanto lecionava, procurou também uma primeira fonte de dados, um cliente-piloto, para desenvolver seu projeto de análises de dados educacionais. Em 2008, entrou em contato com a Secretaria Municipal de Educação, e coincidentemente, oferecia o serviço que eles procuravam. A secretaria estava com todos dados da Provinha Floripa lá parados, o exame tinha começado um ano antes, eles não tinham como inserir todos aqueles dados no Excel. Oliveira procurou então a UFSC. Mandou um e-mail contando sobre seu projeto, dizendo que precisava de alguém que desenvolvesse o software com ele. Quem respondeu foi o então estudante da UFSC, Ricardo Fritsche, que logo tornou-se sócio de Alexandre. “Eu ainda cheguei com uma ideia que faríamos algo como um aplicativo baixado no computador, mas o Ricardo já veio com esta pegada da nuvem e uma estrutura de organização e divulgação dos dados extremamente mais contemporânea”. Em outubro de 2010, dois anos depois, deixaram de se reunir em cafés e constituíram a Meritt, hoje com sede na Prainha, centro de Florianópolis, de frente para o mar e o pôr do sol da Ilha.

Meitt Alexandre Oliveira 2

Em 2010, quando a Meritt estava de casa montada, o governo federal estava divulgando a segunda edição do Ideb (Índice de Desenvolvimento Educacional), indicador que serve de referência às metas do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). O primeiro foi em 2007. “A sociedade comprou a ideia de que este índice reunia os indicadores de educação nacionais, mas quando acessava o site encontrava dados pobres. Basicamente, apenas qual a meta do Ideb e qual índice cada escola alcançou estavam disponíveis”. Ao perceber mais uma oportunidade de trabalhar com um forte banco de dados ainda não aproveitado, Oliveira e Fritsche decidiram fazer o Portal Ideb em vez de fazer o site da Meritt. Baixaram e cruzaram dados de planilhas com outros fatores e mais detalhados e elaborados, e disponibilizaram uma rica fonte de dados. Acessando o site facilmente se identifica, por exemplo, os gargalos do ensino médio brasileiro.

Ainda em 2010, com a primeira etapa do portal pronto – hoje ele reúne dados bienais de 2007 a 2013 – eles  foram apresentar o resultado a Ongs, em São Paulo, que trabalham com educação. “A repercussão foi ótima, tanto por parte da equipe do Todos pela Educação como da Fundação Lemann.” A partir daí, a Meritt passou a desenvolver soluções de leitura e organização de dados para a Ong criada em 2002 por Jorge Paulo Leman, com o objetivo de fomentar contribuições inovadoras capazes de melhorar o aprendizado dos alunos.

No final de 2011 a Fundação procurou a Meritt pra saber qual era o sonho da empresa, um projeto maior. Oliveira respondeu prontamente que eles gostariam de trabalhar com os microdados da Provinha Brasil, aplicada em alunos do 5º e 9º ano do Ensino Fundamental e alunos do 3º ano do Ensino Fundamental de escolas públicas urbanas e rurais que tenham pelo menos 20 alunos por série. Com dados sobre o aprendizado e informações socioeconômicas de 50 milhões de alunos, e o investimento da Lemann, as duas instituições começaram a desenvolver o maior portal de análises educacionais do Brasil, o QEdu, lançado em novembro de 2012, com a presença do próprio João Paulo Leman. O Qedu já passou do 1,5 milhão de acessos e tem 50 mil usuários cadastrados.

Em julho de 2014, a dupla lançou o primeiro produto comercial, o Mais Enem, a única plataforma de base de dados da Meritt que não está totalmente aberta – pode ser acessada por professores ou outros agentes diretos de ensino mediante cadastro porque trazem o nome do aluno. “Este é um produto de prateleira para todas as escolas. Elas nos solicitam, e nós entregamos um boletim anual sobre a atuação dela perante o Enem, exame que vem ganhando importância”, diz Oliveira. Hoje são 30 escolas atendidas, e até abril de 2015 eles pretendem atender 500 instituições de ensino.

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