Aprendizado lúdico

Transformar inquietações em negócio é típico de grandes empreendedores. Foi  o que aconteceu com a baiana Djali Valois, 39 anos, que no ano passado fundou em parceria com o marido, o professor José Eduardo de luca, a Mentes Brilhantes Brinquedos Inteligentes.

A empresa, instalada em Florianópolis, é especializada em brinquedos educativos, cujo objetivo é despertar nas crianças de uma forma divertida o interesse pela ciência, especialmente física, química, biologia e matemática. Mãe de Sofia, oito anos, e de Franco, quatro, Djali frequentemente se deparava com a dúvida de qual brinquedo dar aos filhos. Ela queria que eles tivessem acesso a coisas mais interessantes e produtivas do que os tradicionais bonecos de superheróis. Estudante do curso de Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), ela também se inquietava com as discussões sobre a necessidade urgente do Brasil por reformasestruturais e mão de obra nas áreas de ciências exatas – como engenheiros, por  exemplo – e o desinteresse crescente de jovens por cursos da área tecnológica.

Em 2009, Djali decidiu colocar no papel o plano de negócio de uma empresa que buscasse resolver essas duas carências, seja a curto ou longo prazo. Assim nasceu a ideia da Mentes Brilhantes. No mesmo ano ela decidiu inscrever seu projeto no recém-lançado Programa Primeira Empresa Inovadora (Prime), uma iniciativa da Financiadora de Estudos
e Projetos (Finep) para amparar empresas nascentes durante o primeiro ano de vida. O  programa inclui a subvenção de R$ 120 mil por negócio com utilização específica para estruturação da área de gestão. 

Selecionado pela Finep, a Mentes Brilhantes saiu do papel em 2010. A ideia inicial de desenvolver os brinquedos no Brasil acabou sendo substituída pelo licenciamento de marcas estrangeiras. “Percebemos que não tínhamos nem tamanho nem tempo suficiente para chegar ao nível de qualidade dos produtos ofertados lá fora”,  conta Djali. A partir daí ela decidiu importar brinquedos de física e matemática e se dedicar ao desenvolvimento de brinquedos de química, cuja importação é mais complicada por conta do uso de insumos que dependem de licença da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)

Logo no primeiro ano Djali fechou parcerias importantes com escolas particulares de Florianópolis para a utilização dos brinquedos em sala de aula. Vinte brinquedos de matemática e física foram ofertados, incluindo os manuais para que os educadores explorem todo o potencial científico em suas disciplinas. Dentro de um projeto chamado Ciência lúdica, a empresa também oferece oficinas para  que os professores possam interagir com  os brinquedos, esclarecer dúvidas e compartilhar conhecimento com os demais profissionais participantes.

Em dezembro passado, a empresa lançou sua loja virtual, permitindo que os pais também possam comprar os brinquedos e presentear seus filhos. “Mas não queremos ser uma loja de brinquedos, somos vendedores de soluções educacionais”, ressalta Djali. Por isso, a proposta é disponibilizar no site da empresa vídeos que mostrem às crianças como explorar  os brinquedos. Djali explica que, hoje, as crianças e jovens não leem mais manual.  Para entender como algo funciona, em vez disso buscam vídeos no YouTube.

Entre as opções há o Water Power, um  brinquedo com 165 peças que permite a montagem de 15 modelos de diferentes de foguetes e carros a jato, dos quais sete têm sistema de reciclagem de água. Em sala  de aula, ele explora conceitos importantes da física como torque, potência, trabalho, força, leis de Newton, pressão, volume, etc. Com o Air Water Generation, a criança monta uma miniusina hidrelétrica e acende  um lED sem usar pilhas. O brinquedo permite entender como é gerada a energia por meio das águas e conceitos como corrente  elétrica e intensidade luminosa.

Em 2010, a Mentes Brilhantes fechou o  ano com um faturamento de R$ 180 mil. As expectativas para 2011 são bastante otimistas. “Projetamos faturar R$ 800 mil”, afirma  Djali. Ela conta que está em negociação com um investidor espanhol para internacionalizar seus negócios. No Brasil, assinou recentemente dois contratos importantes: um com a Escola Batista do Rio de Janeiro, grupo com cerca de 3 mil alunos, e outro com a IP Soluções, empresa com sede em São Paulo que atua na área de informática educacional, envolvendo mais de 4 mil crianças. 

Mundo virtual

Até o final de 2011 Djali pretende lançar brinquedos nas áreas de química, astronomia e biologia. A empreendedora também vem trabalhando desde 2010 no desenvolvimento de um mundo virtual, no estilo Farmville, com foco em ciências. O programa vai utilizar tecnologias como 3D e realidade aumentada com a proposta de oferecer ao usuário a possibilidade de experimentar sensações reais. Assim será possível entender, por exemplo, o fenômeno que está por trás de uma turbulência sentida em aeronaves. “Ele vai ser totalmente inédito, não vimos nada semelhante no mundo inteiro”, adianta Djali. A expectativa é de que a versão “demo” esteja pronta em um ano e meio. 

Com pouco mais de um ano de vida, a Mentes Brilhantes já coleciona vários prêmios. No final do ano passado, Djali recebeu em Mar del Plata, na Argentina, 25 mil euros ao vencer o Prêmio IberoAmericano de Melhor Projeto Inovador, na categoria Empreendimentos Sociais e Ambientais. Para a comissão julgadora do prêmio, o projeto – denominado Ciência lúdica – mostrou forte caráter ibero-americano, com possibilidade de ser desenvolvido em outros países como impulso aos sistemas educacionais da América latina. 

Em 2010, o projeto também foi finalista do Prêmio Santander Universidades, que estimula a inovação. Um ano antes já tinha sido finalista do Prêmio Santander de Empreendedorismo, na categoria Cultura e Inovação. Depois do Prime, a empresa também foi selecionada pelo Programa de Desenvolvimento de Recursos Humanos para Atividades Estratégicas em apoio à Inovação Tecnológica (RhaeInovação), também da Finep. “Em um  ano foram cinco premiações, o que nos dá um grande estímulo”, destaca Djali.

Num país carente por propostas educacionais mais atrativas, há muito espaço  para empresas com o foco da Mentes Brilhantes. Sofia e Franco – os filhos de Djali – já experimentam os brinquedos que a mãe sonhava oferecer a eles. Quanto ao despertar de novas gerações de engenheiros, físicos, matemáticos, etc., só o tempo dirá se Djali alcançou seu objetivo inicial. A semente já foi lançada.

Linha Direta
Mentes Brilhantes: (48) 3028-1403
www.cientificamente.com.br

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