Quem viveu, em especial durante a infância, numa cidade pequena e, até grande cidade também, sabe o que causava a chegada de um circo e a possibilidade de ver um espetáculo circense. Era o maior acontecimento do ano. A cidade inteira parava para visitar o circo. Muitos palhaços pintados, muitas brincadeiras e muitos animais: cavalos, onças, tigres, leões.
Com o passar do tempo, todo aquele cenário começou a perder o brilho, a ficar muito repetitivo. Os animais já não eram tão bem tratados e eram vistos com desconfiança e pena. Muitos deles sofriam com a falta de comida e o frio. A antes colorida lona do circo parecia que murchava mais a cada dia.
Aí dois artistas de ruas – Guy Laliberté e Gilles Ste-Croix – na pequena cidade de Baie-Saint-Paul, no interior do Canadá, em 1965, iluminados pela inovação, começaram a desenhar um novo circo e que hoje forma a maior companhia circense do mundo: o Cirque du Soleil. Naquele dia, inovaram ao andar pela ruas da cidade com pernas de paus, sem puxar com eles nenhum filhote ou animal adulto, o que fazem até hoje. E já ensaiaram as primeiras acrobacias que virou a marca dessa companhia.
Hoje, na verdade, cada apresentação pelo mundo afora do Circo de Soleil é uma super produção. Cada espetáculo é a síntese da inovação, no caso deles, do circo. Tem enredo, cenários, vestuário próprio e grandes produções musicais. De 73 figurantes em 1990, hoje o Circo de Soleil conta com um quadro fixo de 3.500 artistas e estão neste momento em diferentes partes do mundo. O lucro anual da companhia bate sempre em R$ 5 bilhões, cifra invejada pela maioria das indústrias em todo o mundo.
Em setembro do próximo ano, o Circo de Soleil está de volta ao Brasil com o espetáculo “Ovo” que vai passar por Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Dirigido pela coreógrafa brasileira Deborah Colker, o espetáculo que terá músicas da bossa nova, samba, xaxado e funk, passa-se numa comunidade de insetos que são surpreendidos com o recebimento de um “misterioso” ovo.
A principal lição do Circo de Soleil para os empreendedores está na disposição e na forma como inovaram o circo em todo o mundo. O Soleil reforça a necessidade de inovar sempre, de não se acomodar com o sucesso, que pode até durar um certo tempo, mas que fatalmente levará ao fracasso. Entre tantos espetáculos de sucesso que a companhia já apresentou está o “Varekai”, que no imaginário cigano é uma floresta misteriosa, nas profundezas de um vulcão. Sem dúvida, a imagem figurada do vulcão (crise política e econômica) está perto ou se aproxima da maioria das empresas brasileiras nos últimos anos. Só que na Varekai do Circo de Soleil o que se for imaginar, até mesmo o impossível, torna-se possível.