Balanço do mar

Vem do vasto litoral brasileiro a mais nova fonte de energia elétrica que começa a ser explorada no País: o balanço do mar. No dia 24 de junho deste ano, o protótipo da primeira usina marítima implantada no Brasil gerou seus primeiros watts. Localizada no quebra-mar do Porto de Pecém, no Ceará, ela conta com tecnologia totalmente desenvolvida pelo Laboratório de Tecnologia Submarina do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ). 

A usina foi construída com investimentos de R$ 18 milhões realizados pela Tractebel Energia por meio do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). As obras também tiveram o apoio do governo do Estado do Ceará. Seu potencial de geração é de 100 quilowatts. A iniciativa, pioneira na América Latina, coloca o Brasil na pequena lista de países que buscam transformar o mar numa fonte de energia viável tanto do ponto de vista tecnológico quanto econômico.

“Hoje, a energia das marés na França e na Coreia é altamente competitiva com a eólica e a hidrelétrica. E essa fonte não gera gás de efeito estufa. Trinta países estão nessa corrida quase invisível pelo domínio da tecnologia. O Brasil tem capacidade de liderar e a Coppe está neste processo”, declarou o professor Segen Estefen, diretor de Tecnologia e Inovação da Coppe, durante o evento Futuro Sustentável – Tecnologia e Inovação para uma Economia Verde e a Erradicação da Pobreza, realizado em junho durante a Rio+20.

Estudos da Coppe estimam em 87 gigawatts o potencial energético das ondas no Brasil. Testes realizados pelo Instituto calculam que é possível converter cerca de 20% desse volume em energia elétrica, o que equivale a 17 % da capacidade total instalada no País. As vantagens desta fonte energética são muitas. É renovável, limpa, dispensa queda d’água e tem como reservatório o próprio mar.

Segundo Stefen, o diferencial da tecnologia brasileira, patenteada pela Coppe, é o uso de um sistema de alta pressão para movimentar a turbina e o gerador. O conjunto é formado por um flutuador e um braço mecânico que, movimentados pelas ondas, acionam uma bomba para pressurizar água e armazená-la num acumulador conectado a uma câmara hiperbárica. A pressão na câmara equivale à de colunas d’água entre 200 e 400 metros de altura, semelhante às das usinas hidrelétricas. A água altamente pressurizada forma um jato que movimenta a turbina. Esta, por sua vez, aciona o gerador de energia elétrica.

Paraíso ecológico
Outra usina de geração de energia elétrica pelo movimento das ondas está prevista para ser instalada no ano que vem no Arquipélago de Fernando de Noronha. O projeto, orçado em R$ 25 milhões, é do governo de Pernambuco e tem o apoio do Ministério de Minas e Energia e da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf). A usina terá capacidade instalada de 1 megawatt e deverá começar a operar no final de 2013. Ela faz parte de um conjunto de projetos de energia limpa previstos para o arquipélago, incluindo usinas eólicas e solares. Juntos, eles somam investimentos de R$ 35 milhões.

O objetivo é reduzir a utilização da Usina Termelétrica de Tubarão, responsável pelo abastecimento de Fernando de Noronha, que utiliza óleo diesel poluidor como combustível. Atualmente, a população do arquipélago consome 2,3 megawatts de energia. A expectativa com os novos projetos é de que a termelétrica seja acionada somente para garantir que toda a população seja atendida. “É importante destacar que essa usina terá uma geração contínua de energia elétrica, ao contrário das usinas solares e eólicas, que podem ter uma variação em sua produção”, afirma Fernando Machado, gerente de Política de Ciência, Tecnologia e Inovação da Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia de Pernambuco.
 

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