O presidente da Finep – Inovação e Pesquisa, Glauco Arbix, disse que, apesar dos avanços registrados na área da ciência, tecnologia e inovação, o Brasil ainda precisa “dar um salto” para superar a grande distância que o separa dos países mais avançados e das áreas de fronteira do conhecimento.
Ao participar do Simpósio Internacional Excelência no Ensino Superior, na Academia Brasileira de Ciências (ABC), o sociólogo disse que se o país continuar no ritmo atual, “fazendo mais do mesmo”, vai demorar muito tempo para ter expressão. Segundo ele, é preciso diversificar mais o sistema brasileiro de inovação. O seminário, aberto na segunda-feira (22), termina nesta quarta-feira (24), com representantes da comunidade científica, da indústria, do governo e de instituições internacionais discutindo como promover um salto de qualidade nas universidades brasileiras.
De acordo com Arbix, ocorreram no sistema de ciência e tecnologia fatos significativos, como a ampliação da infraestrutura de pesquisa, a multiplicação do número de fundações de Amparo à Pesquisa, a aprovação de leis estaduais de inovação e a preocupação dos governos em desenvolver essa política. O presidente da Finep lembrou que 7 mil empresas já desenvolvem práticas de pesquisa e desenvolvimento de forma constante no Brasil, incorporando-as em suas estratégias de crescimento.
A própria Finep deu “passos intensos” ao longo dos últimos anos no apoio a projetos de tecnologia inovadora, elevando os recursos disponíveis de R$ 120 milhões, em 2003, para cerca de R$ 12 bilhões, este ano. “O salto é gigantesco”, afirmou. A maior parte, estimada entre R$ 7 bilhões e R$ 8 bilhões, é voltada para crédito para empresas, enquanto os recursos para investimento em startups (empresas nascentes) e pequenas e médias empresas oscilam entre R$ 800 milhões e R$ 900 milhões. Os recursos destinados a atividades de centros de pesquisa e universidades somam R$ 2,2 bilhões. Há também as subvenções econômicas não reembolsáveis.
Para o sociólogo, a inovação feita no Brasil ainda é light, ou seja, é uma inovação “incremental”, como chamam alguns técnicos. Ele informou que o período 2001-2015 deverá registrar um crescimento acelerado e relevante do investimento em ciência, tecnologia e inovação no âmbito dos ministérios. A pasta da Educação responde pela metade dos recursos, embora os números englobem salários dos professores. O Ministério da Saúde é o que mais eleva os investimentos em ciência, tecnologia e inovação, principalmente em pesquisa básica.
Mesmo assim, Arbix considera difícildade manter foco e prioridade nos investimentos nessa área. Não é um problema do atual governo, ressaltou. “Em qualquer governo, as dificuldades serão as mesmas, porque o cobertor é sempre curto.” O problema-chave é: “ou conseguimos potencializar e otimizar o recursos, ou teremos muita dificuldade em dar um salto em ciência, tecnologia e inovação´.”
Para ele, além de ser necessário diversificar ainda mais o sistema, é fundamental saber que existem recursos e que, com “uma política mais inteligente que defina prioridades, hierarquias e focos, é possível potencializar os recursos para que sejam mais eficientemente usados”. A ideia é aumentar o conjunto de investimentos em 10% por ano, passando dos R$ 27,9 bilhões em recursos públicos colocados atualmente no setor para R$ 60 bilhões em dez anos.
O presidente da Finep informou que os investimentos em pesquisa e desenvolvimento respondem por 1,2% do produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços fabricados no país). Ciência e tecnologia, por sua vez, têm participação de 1,5% no PIB. “Para evoluir, é necessário investimento constante”, disse Arbix. De acordo com ele, os 12 programas da família Inova, destinados a apoiar projetos inovadores em vários setores produtivos, desenvolvidos em parceria pela Finep e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), registrou demanda de R$ 98 bilhões. Arbix estimou que, se a Finep e o BNDES executarem, cada um, 10% dessa demanda, o investimento em pesquisa e desenvolvimento dobrará.
Arbix defendeu a necessidade de um novo modelo de ciência, tecnologia e inovação para o país e a existência de um único fundo para abastecer de forma significativa a área. “Esse fundo se chama Fundo Social e é preciso haver um grupo de trabalho mexendo com isso”, disse ele. A proposta é trabalhar com 20% da metade do Fundo Social direcionados para a área de ciência, tecnologia e inovação, com acesso direto para ministérios e agências, para que estes possam investir no setor. Da outra metade, o Congresso Nacional já aprovou que 75% dos recursos irão para educação e 25% para saúde. O problema é fazer com que os recursos cheguem ao setor, enfatizou.
Informações Agência Brasil