Recém-formados de países vizinhos veem trabalho temporário no Brasil como oportunidade de ‘turbinar’ o currículo
O crescimento econômico brasileiro, que deve superar 7% neste ano, fez aumentar o interesse pelo País entre os jovens estrangeiros em busca de uma experiência profissional internacional. Especialmente na América do Sul, um contrato temporário de trabalho no Brasil – a maior economia da região – é visto como complemento que pode fazer toda a diferença no currículo.
O número de jovens estrangeiros que vieram para o Brasil por intermédio da rede global de estudantes universitários Aiesec aumentou em 50% entre 2009 e 2010, passando de 299 para 447. Entre as nações que mais enviaram jovens para o País figuram Colômbia, Estados Unidos, Peru e México. "Decidi pelo Brasil ainda na faculdade porque se trata da potência da América do Sul", diz o peruano Carlos Adrian Nuñez, 24 anos, que hoje mora em Lauro de Freitas (BA).
Nuñez trabalha na empresa Master Glasses, fabricante de óculos que, interessada em expandir seus negócios para a América do Sul, fez parceria com a Aiesec e selecionou estudantes colombianos, argentinos e peruanos. "Eles vêm com ideias inovadoras", afirma Carlos Souza, presidente da empresa.
O caso de Nuñez, porém, é especial. Enquanto outros estrangeiros apenas cumpriram o contrato temporário com a Master Glasses – que fabrica 50 mil óculos por mês e fatura R$ 36 milhões por ano -, o peruano foi convidado a ficar. Souza pediu um visto de trabalho que garantirá mais dois anos de permanência ao intercambista. "Ele trouxe uma mentalidade de qualidade à empresa. Agora, com as exportações, preciso de alguém que fale espanhol e garanta a qualidade do produto em outros países."
Contando o período de intercâmbio mais o novo contrato de trabalho, Nuñez terá cerca de quatro anos de experiência profissional no País. "Será um diferencial muito forte no meu currículo", explica.
"Exportação". O Brasil também é um exportador de jovens talentos, de acordo com a Aiesec. O número de brasileiros que viajaram por meio da entidade cresceu quase 30% em 2010, chegando a 489. A maior parte das oportunidades de estágios em empresas está concentrada na Índia e na China – recentemente, a Aiesec firmou uma parceria para enviar jovens profissionais da área de TI para temporadas no conglomerado indiano Tata, famoso pela fabricação do carro mais barato do mundo.
Essa "facilitação" do estágio, porém, não sai de graça. Atualmente com 32 escritórios no Brasil, a Aiesec cobra pela intermediação. A instituição diz que um programa no Leste Europeu, por exemplo, exige investimento médio de R$ 3 mil do estudante ou profissional recém-formado. O valor inclui passagem aérea, taxa de visto e seguro-saúde, mas não contabiliza gastos pessoais no destino.