Brasileiro sonha e quer empreender

Novo presidente do Sebrae aponta os desafios e adianta como a instituição pretende ajudar nessa jornada de empreendedorismo

Ao assumir a presidência do Sebrae (Serviço de Apoio às Micros e Pequenas Empresas) no dia 10 de abril, o ex-prefeito de Blumenau e ex-deputado estadual e federal por Santa Catarina, Décio Lima recebeu em mãos um amplo estudo da GEM (Global Entrepreneuship Monitor), que analisa a cada ano o comportamento dos pequenos negócios em 51 países. No Brasil, o levantamento aponta que, de cada dez brasileiros, seis querem ser empreendedor. Nada menos de 93 milhões de pessoas, quase a metade da população do país, estão envolvidas com o empreendedorismo, seja como sócios de estabelecimentos comerciais ou estão se preparando para abrir uma nova empresa. Esse estudo encomendado pelo Sebrae e pela Associação Nacional de Estudos em Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas (Anegepe) traz ainda ainda que empreender é o segundo maior sonho de cada brasileiro, que só perde pelo desejo de viajar.

No estudo do GEM, a diferença entre o primeiro desejo de viajar e o segundo de abrir uma empresa própria é de apenas um ponto percentual. O que representa isso?
Isso comprova o espírito empreendedor brasileiro. Mostra o interesse crescente do brasileiro pelo negócio próprio. Também revela o quanto é importante que sejam criadas políticas públicas que incentivem o empreendedorismo, que vão desde a educação empreendedora até a legislação.
Um dado da pesquisa, muito positivo, é a redução da abertura de novas empresas por “necessidade” e o crescimento de novos negócios por “oportunidade”. Qual é essa razão?
A “necessidade” é em geral para cobrir um desemprego inesperado. Já a boa oportunidade é quando o empreendedor vislumbra um negócio que tem grande chance de dar certo, pois está resolvendo um problema, uma necessidade do mercado. Esse dado mostra que o ambiente para criar negócios no país está melhorando e que o empreendedor está mais bem preparado para abrir uma empresa, com maior possibilidade de sucesso.

A qualidade do empreendedorismo brasileiro também vem melhorando nos últimos anos. Aqueles empreendedores que possuem mais de 3,5 anos de existência, tiveram um ligeiro incremento de 0,5%, passando de 9,9% em 2021 para 10,4% no ano passado. O que aponta essa tendência?

Esse resultado demonstra um arrefecimento na crise, uma retomada da economia e uma melhoria na gestão dos negócios. Em 2020, essa taxa levou uma grande queda por causa da pandemia e caiu de 16,2% (em 2019) para 8,7%. Mas agora já demonstra sinais de recuperação.

Dos 42 milhões de negócios abertos hoje no país, nem a metade está formalizada. Além disso mais de 51 milhões de brasileiros querem empreender, abrir uma nova empresa, o que soma 93 milhões de pessoas envolvidas com o empreendedorismo. Como atender tudo isso?
O Sebrae não pode enfrentar sozinho esse desafio gigante. Por isso temos que aglutinar todas as forças municipais, estaduais e federal para criar uma forte sinergia para estimular os micros e pequenos empreendedores que já hoje são responsáveis por 85% dos empregos do país.

Como atender 51 milhões de brasileiros que querem empreender?

Esse universo de 51 milhões de brasileiros como potenciais empreendedores faz com que o Brasil ocupe hoje a segunda maior população absoluta do mundo de potenciais empreendedores, atrás apenas da Índia, com 115 milhões na mesma situação. Mas é preciso levar em consideração que o Brasil é um país com uma população aproximadamente sete vezes menor que a Índia, que possui um universo de mais de 1,4 bilhão de habitantes. Isso demonstra bem o desafio que o Sebrae tem pela frente.

A falta de crédito e os juros abusivos impactam em toda a economia e de forma mais cruel junto aos pequenos negócios. Como o Sebrae pretende atuar nessa questão?
Contar com crédito é fundamental para manter e estimular o crescimento de cada empreendedor. O Sebrae, sem dúvida, vai atuar nessa questão. Mas não podemos só olhar para o crédito. Hoje, em cada dez empreendedores, três estão com problemas após obter um crédito financeiro. Não se pode liberar crédito de qualquer jeito com taxas de juros abusivas como são atualmente. Temos amarras de mercado, mas precisamos priorizar o crédito para gerar mais produção, não apenas promover o giro financeiro que não ativa a economia como um todo.

Qual será a principal marca de Décio Lima a frente do Sebrae?
O papel mais importante para o Sebrae e eu assumi essa missão me passada pelo presidente Lula, é que seja a grande porta para a realização do sonho de brasileiro de ser empreendedor. Vamos gerar, fortalecer a cultura empreendedora, para que o empreendedor possa gerir de forma eficiente o seu negócio, gerar mais empregos, riqueza e tirar o país do atual Mapa da Fome. Hoje, 99% das empresas brasileiras são de micro e pequeno porte. Elas são responsáveis por 30% do PIB brasileiro. Temos que olhar com muita atenção para esse imenso universo.

DÉCIO NERY DE LIMA
Idade: 63 anos
Cidade natal: Itajaí (SC)
Formação: Advogado e professor
Na política: Ex-prefeito de Blumenau/SC, ex-deputado estadual e federal
Cargo atual: Presidente do Sebrae Nacional

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