Quando criou uma página no Instagram para desapegar de peças que estavam esquecidas em seu closet, Leilane Sabatini não imaginava que estava dando início ao movimento de economia circular – que a cada dia ganha mais força. O brechó de luxo @cansei_vendi (www.canseivendi.com.br) tem, hoje, mais de 10 mil clientes e aumentou o faturamento em 80% no último ano. A conscientização e a mudança no consumo de moda das gerações X e Z impulsionam o mercado second hand e a empresa cresce exponencialmente.”Além de dar nova chance a itens que não seriam mais usados, nós democratizamos a alta costura, com economia para quem compra e retorno financeiro para quem vende”, destaca Leilane, que criou a startup em 2013 e deixou a carreira como executiva do mercado de energia para investir na moda e no consumo consciente – ainda incipiente àquela época. A Cansei Vendi tem mais de cinco mil peças de luxo seminovas de mais de 120 grifes, distribuídas nas seções de vestuário feminino, masculino, infantil e home & decor, com valores até 80% menores aos das lojas.
Dentre os artigos que recebem diariamente, produtos exclusivos e de edição limitada, como a clutch Fendi 1976 da coleção do MET (Metropolitan Museum of Art) e a bolsa Louis Vuitton Speedy 30 Yayoi Kusama Monogram Town, por exemplo, recém-chegadas ao acervo. “Há itens que vendem em cinco minutos devido à raridade e à alta procura”, diz a CEO da @cansei_vendi. Para garantir a autenticidade e evitar falsificações, é feita uma minuciosa curadoria e controle de qualidade pela equipe interna e pela empresa americana Real Authentication, que é especializada em luxo.
O site recebe uma média de 100 mil visitas ao mês, duas vezes mais do que no ano passado. A alta procura reflete o fortalecimento do mercado de segunda mão, que cresce 11 vezes mais rápido do que o setor tradicional de varejo, segundo o relatório da empresa americana ThredUp. Ainda de acordo com o estudo, dados da empresa de análise GlobalData indicam que o segmento deve saltar de US$ 36 bilhões para US$ 77 bilhões até 2025.
Gerações X e Y transformam consumo de moda
Grifes como Chanel, Louboutin, Prada e Gucci, hoje, dividem a atenção com produtos sustentáveis na @cansei_vendi. “O consumidor não avalia apenas a etiqueta, mas também o impacto ambiental e social da sua compra, qual o custo real”, observa Leilane. A pesquisa da ThredUp confirma que a moda circular e o consumo de moda mais sustentável já é um hábito dos mais jovens: 42% dos millennials (nascidos entre 1980 e 1996) e 42% da geração Z (pós-1997) compraram artigos de segunda mão no último ano, de acordo com o relatório.
A indústria da moda é uma das mais poluentes, com alta emissão de carbono, demanda de energia e de água, e a revenda tem um impacto positivo. A consultoria McKinsey calcula que a economia compartilhada vai reduzir 143 toneladas de emissão de GHS (Sistema Globalmente Harmonizado de Classificação e Rotulagem de Produtos Químicos) até 2030. “As tendências do mundo fashion são cíclicas, mas o desgaste causado no ambiente pode ser irreparável – o que é mais um bom motivo para investir em second hand de qualidade”, diz Leilane. Não por acaso, a Cansei Vendi foi apontada como fashiontech promissora no relatório “O Futuro do Mundo Fashion” do ecossistema de startups Distrito. A estimativa é a de que o brechó de luxo triplique seu tamanho nos próximos dois anos.