Numa cultura como a do Brasil, formada em sua origem por escravagismo, feudalismo e oligarquias, só muito raramente, quase só por exceção, encontramos alguém em quem, genuinamente, se manifesta o empreendedor nato, exigido para o êxito no mundo dos negócios. Em absoluto, não estamos dizendo que não existam em nosso país pessoas com tal talento. A nossa história tem mostrado a existência delas e, por conta de centenas de pioneiros empresários, temos inovado e crescido com vigor na indústria, no setor bancário, no agronegócio, no comércio, em setores de base tecnológica, entre outros.
A esses empreendedores de ponta devemos nossa participação no jogo global, exportando para meio mundo. Mas queremos chamar a atenção para a pequena quantidade desse genuíno tipo empresarial, muito, muito pequena em relação ao potencial do Brasil.
A maioria dos chamados empreendedores das pequenas empresas em nosso país é constituída por típicos não-empreendedores, dentro dos conceitos tradicionais dessa palavra, como pessoas motivadas para a realização, dispostas a correr riscos calculados em empreendimentos inovadores em produtos, processos e mercados, e fazedores de fortunas ou, talvez, mais apropriadamente, produtores de riqueza. Isto não é de difícil constatação. Basta combinar duas informações contidas em muitas pesquisas disponíveis por diversos órgãos de apoio ao empreendedorismo: “a grande maioria de novos negócios é basicamente réplica de atividades comerciais já existentes”; “o índice de mudança de porte em estabelecimentos sobreviventes é irrisório”. O que as pesquisas revelam podemos constatar no dia-a-dia, a olho nu: as micro e pequenas empresas não enriquecem, não crescem de maneira vigorosa, consistente e duradoura. Apenas sobrevivem.
Por que isto acontece, mesmo tendo elas, supostamente, todos os ingredientes para tal? A teoria de como se administra um pequeno negócio está disponível em inúmeros livros, revistas e também em milhares de cursos espalhados Brasil afora em incontáveis universidades. Tecnicamente, sob o ponto de vista prático de implantação das referidas teorias, existe uma enorme rede de instituições de apoio, como SEBRAE, SENAI, SENAC, etc. E, além disso, nosso mercado não é nada desprezível. Somos um dos maiores do mundo! Então, qual é o mistério, por que o crescimento é tão pequeno?
Eis duas respostas possíveis: (1) a insuficiência de capital inicial. Mais uma vez o que as pesquisas revelam nós constatamos em nosso dia-a-dia. A grande maioria do capital inicial dos novos negócios é muito baixa, tendendo a zero. E o traço trágico revelador de nossa cultura de insuficiência de capital é que nas narrativas dos empreendedores sobreviventes eles dizem com muito orgulho que “começaram do zero”! Porém, o detalhe desse equívoco é que insuficiência de capital leva a insuficiência de publicidade, insuficiência de vendedores e insuficiência de equipe. Por isso, os empreendedores da pequena empresa sentem que estão sempre “correndo atrás da máquina”. Por isso, trabalham muito e não vêem a cor do dinheiro. Por isso, boa parte deles trabalha até morrer e se aposenta pobre.
Isto acontece por causa do conceito de trajetória. Esse conceito diz que “forças presentes no início do arremesso de algo hão de estar presentes o tempo todo durante o seu percurso”. Isso significa que as forças internas de uma trajetória não conseguem, por si sós, mudar o seu próprio percurso. Se imaginarmos algo sendo arremessado no vácuo, sem nenhuma forma de resistência, o objeto arremessado haveria de se propagar eternamente na mesma direção. O mesmo acontece no campo dos pequenos empreendimentos. O empresário de um pequeno negócio, por si só, jamais se tornará um empreendedor nato e jamais alcançará a suficiência de capital.
O que nos leva à segunda resposta possível da nossa questão do mistério do baixo crescimento das micro e pequenas empresas: (2) falta de disciplina para acumular capital. Mesmo com toda a insuficiência que caracteriza os pequenos negócios, ainda assim, muito deles operam com lucro. No entanto, tão logo haja sobra de caixa, os empreendedores, de maneira indisciplinada, metem “a mão no baleiro”. Fazem isto porque podem fazer, sem pedir permissão a ninguém, nem tampouco, precisar prestar contas a quem quer que seja.
A somatória destas duas respostas, a nosso ver, é a origem do porque a maioria de nossas micro e pequenas empresas não cresce continuamente, com lucro.
Qual é, então, a saída?
- Recriar a pequena empresa colocando uma força externa a sua trajetória. Fazer como fazem as grandes empresas, onde o Presidente é estimulado, orientado e pressionado pelo seu Conselho de Administração e ao qual deve prestar contas.
- Os sócios proprietários da pequena empresa podem se auto impor um Conselho de Administração formado por eles próprios, pelo contador de sua empresa e por empresários com quem tenham afinidade, sintam-se à vontade e possam fazer o vice-versa;
- podem se auto impor a figura de Presidente, de sua própria empresa, para quem terão que prestar contas para o seu Conselho de Administração;
- podem se auto impor a meta de acumular reservas financeiras (capital);
- podem se auto impor a separação da contabilidade empresarial da contabilidade pessoal e familiar;
- podem se auto impor um Programa de Ajuste com foco no crescimento continuado com lucro;
- podem se auto impor internalizar o comportamento de Pensar Grande!!