Consórcio chega ao mercado de franquias

Empresa desenvolve carta de crédito, semelhante à de carros e imóveis, para quem não tem dinheiro suficiente para abrir o próprio negócio

O modelo de consórcio para a aquisição de carros e imóveis está sendo estendido, agora, ao mercado de franquias, numa tentativa de atrair pessoas que querem montar seu próprio negócio, mas não têm dinheiro suficiente para começá-lo. É a primeira vez que essa modalidade de concessão de crédito é usada com a finalidade de financiar um "negócio".

A iniciativa veio de uma parceria entre a empresa Shopping de Franquias, especializada no desenvolvimento de franchising, e da Embracon, uma das maiores administradoras de consórcios do País. O programa foi lançado em outubro do ano passado e está em fase final de seleção dos primeiros candidatos.

"Nosso foco não são investidores, mas pessoas que querem empreender mesmo, tocar o negócio, gerar emprego e ter uma alternativa de renda", diz o publicitário Luís Renato Bischoff, presidente do Shopping das Franquias. Ele criou a empresa há cinco anos, depois de trabalhar como executivo em multinacionais do segmento de alimentação. Natural do Rio Grande do Sul, o empresário morou e conheceu todas as regiões do País até decidir que ganharia dinheiro com franquias. Bischoff criou quatro marcas: Café Tostare, Click Sushi, Camarão na Rede e Chef Mirim – os três primeiros são restaurantes e o último é uma escola de gastronomia para crianças.

Os quatro negócios, hoje com 55 unidades no País, exigem investimento inicial de R$ 200 mil a R$ 300 mil. "Muita gente tem um dinheiro guardado para investir, mas não tudo isso", diz o empresário. "O consórcio surgiu como alternativa para trazermos essas pessoas para o franchising."

O candidato precisa ter pelo menos R$ 100 mil. Parte desse dinheiro serve para garantir a adesão à marca e a exclusividade na cidade de atuação. O restante pode ser usado como lance. O prazo máximo para que o franqueado seja contemplado e abra as portas do negócio é de seis meses. "Funciona exatamente como um consórcio normal de carro ou imóvel", diz Jander Silva, gerente da diretoria comercial da Embracon. A taxa de administração gira em torno de 0,5% ao mês. Os grupos são mistos e reúnem de 400 a 600 pessoas. "É isso que garante agilidade ao processo."

Segundo Bischoff, a empresa já tem uma lista de 200 candidatos ao consórcio e três deles devem iniciar a operação em 30 dias. Simultaneamente, ele prepara a internacionalização da rede, com a inauguração de três unidades, até fevereiro, em Portugal e Angola. O negócio faturou no ano passado cerca de R$ 10 milhões. "Com o consórcio, esperamos um incremento de 30% no primeiro ano."

Classe C

A longo prazo, o empresário mira a ascensão da nova classe média brasileira – parcela da população que hoje tem aplicado seu dinheiro para realizar sonhos de consumo, mas que em cinco anos, segundo ele, terá recursos para poupar e investir. Hoje, de acordo com levantamento da consultoria Data Popular, 52% dos brasileiros que pretendem abrir o próprio negócio pertencem à nova classe média.

Para o vice-presidente da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac), Fabiano Lopes Ferreira, a iniciativa é inédita e viável. "Essa é uma nova possibilidade que complementa perfeitamente o consórcio de serviços." A modalidade de serviços foi criada em 2009 e se popularizou como meio de financiar cirurgias plásticas e festas de casamento. Nesse caso, o valor máximo da carta de crédito é de R$ 20 mil. "Esse é um valor baixo para franquia, mas costumamos juntar duas ou três cartas de crédito com esse objetivo", diz Silva, da Embracon.

O diretor-executivo da Associação Brasileira de Franchising, Ricardo Camargo, diz que os interessados em entrar no mercado de franquias por meio de consórcio devem estar conscientes de que não se trata de um investimento que, após a contemplação, pode se passar para a frente. "É diferente de um carro ou um apartamento", afirma. "O retorno virá com a operação do negócio."

 

 

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