Sandro Bittencourt teve uma trajetória muito ligada ao mercado de energia e há dois anos abriu sua própria empresa que faz a gestão e comercialização deste recurso para um consumo inteligente
Com escolhas sempre bem planejadas, especialmente de cinco em cinco anos, o hoje CEO da Vektor Energia Sandro Bittencourt de Souza sempre teve um espírito empreendedor. Aos 17 anos estava se formando na Escola Técnica Federal e resolveu abrir uma videolocadora em Laguna (SC), onde os pais tinham casa de praia. Depois seguiu o caminho dos concursos para garantir estabilidade e passou em dois: Tribunal de Contas de Santa Catarina e Centras Elétricas de Santa Catarina (Celesc). Escolheu a Celesc onde começou na manutenção das subestações, mas via aquilo como algo temporário. Foi estudar Economia e ao longo do curso acompanhou a implantação do Marco Legal do setor elétrico (Lei 9074), regulamentado entre 1998 e 1999 e que permitia grandes empresas pudessem escolher o fornecedor de energia seguindo diversas regras. Foi aí que a monografia foi escolhida e todo o resto da sua trajetória esteve ligada a este ramo. Hoje ele é CEO da Vektor Energia, empresa que fundou em 2019, tinha 22 clientes ano passado e a carteira atual é de 118 clientes.
Nesta entrevista exclusiva à Empreendedor, Sandro relata os desafios e o sucesso alcançado ao contratar e gerir energia do mercado livre para empresas de vários nichos.
- O início da sua carreira foi na área de energia, essa base foi importante?
Dentro da Celesc fui do “chão de fábrica” para a área de planejamento estratégico e por dois anos tive muita oportunidade de conhecimento do setor elétrico, tanto de geração quanto de distribuição. Depois assumi a área financeira e cheguei a pensar em investir nessa carreira gerencial, pois cheguei a ser assessor direto do presidente. Mas sempre tinha a sensação que precisava construir algo diferente. E foi ao final do mandato do então presidente Carlos Rodolfo Schneider que recebi o convite para atuar na empresa da família, a Ciser Parafusos, em Joinville (SC).
- Neste momento houve um afastamento do ramo de energia?
Foram seis anos que me dediquei a outras áreas, mas o aprendizado foi intenso. Fui assessor de novos negócios, desenvolvendo projetos de shopping, investimento em reflorestamento e até mesmo na internacionalização da fábrica com a abertura de uma unidade na China. Isso foi de 2006 a 2011, sendo que em 2009 a Celesc tinha encerrado um programa de incentivo, então o mercado de energia livre passou a ser interessante para muitas empresas.
- Foi então que você passou a conhecer o mercado livre de energia?
Fiquei responsável em fazer a migração das três fábricas da Ciser para compra de energia no mercado livre. O trabalho abrangeu a difusão da expertise para outras empresas da Associação Empresarial de Joinville (ACIJ), que inclusive rendeu o Prêmio Empresa Cidadã promovido pela ADVB à entidade, com o case “Consumo inteligente de energia elétrica”. Nesse período realizamos o primeiro leilão reverso, onde várias empresas se juntaram para comprar energia. Promovemos o evento PowerGrid Brasil, que ficou conhecido como uma alavanca para o segmento e a assim criamos a RBE (Rio Bonito Energia), a primeira comercializadora de energia 100% catarinense, dentro do Grupo Ciser, onde eu era o principal executivo.
- Esta experiência permitiu aprofundar seus conhecimentos num mercado em franca expansão, certo?
Com certeza. E também é importante ressaltar que não podemos manusear e nem mostrar nosso produto, portanto vendemos responsabilidade, credibilidade e segurança ao cliente. Esse é o papel das empresas que atuam no setor. Na RBE começamos com um investimento de 150 mil reais e quando pedi demissão, em 2019, o faturamento tinha encerrado no ano anterior em 600 milhões de reais com um lucro de 9 milhões de reais. Fiz a transição para a equipe que ia ficar e decidi criar minha própria empresa. Assim nasceu a Vektor.
“Estruturamos um conceito que nos aproxima da empresa, pra entendermos o que cada um precisa”
- Você tinha o privilégio de ter a expertise na área técnica e também na área de gestão. Como foi esse início?
Desde que decidimos montar a empresa, eu e o Thiago Delfin Girardi, que também era da RBE, planejamos com cuidado cada escolha, inclusive do nome Vektor e da logomarca, demonstrando o que queríamos ter na empresa: o K que significa uma ‘constante’, ou seja, a estabilidade para oferecer aos clientes e a logo com duas mãos sendo apertadas, o compromisso que temos com o resultado. E logo no início recebemos a proposta de investimento do Grupo Ascensus que tornou-se o sócio estratégico. Montamos um escritório em São Paulo, onde temos 20 clientes, além dos clientes no Sul e no Nordeste, chegando hoje a 102 empresas. Temos ainda a Boreal Energia, que complementa a Vektor com dados de inteligência de mercado, já que uma equipe faz estudos, precificação, participa de leilões, compra no atacado, entre outras atividades.
- Quais as perspectivas do futuro do mercado livre?
Está tramitando no Congresso Nacional o chamado Projeto de Lei da portabilidade de energia elétrica, isto é, que vai permitir o mercado livre mais acessível a pequenas empresas. Acredito que até 2028 teríamos todos os consumidores do Grupo A (alta tensão) podendo migrar para o mercado livre de energia e até 2032 todas as unidades poderiam fazer esta escolha, inclusive consumidores residenciais que poderão escolher o fornecedor. E preparamos a Vektor para atender todas estas demandas, pois já escolhemos alguns nichos e vimos em algumas empresas um bom mercado, como rede de supermercados, rede de hotéis, shoppings centers, portos secos, empresas do setor têxtil, além das redes alimentícias de congelados que se desenvolveram com a pandemia. Estamos vendo ainda que o ramo de construção civil e metalurgia estão respondendo rapidamente à retomada, por isso estamos sempre perseguindo as mudanças.
- Qual a concorrência neste mercado?
A concorrência vem ampliando rapidamente, mas temos alguns diferenciais. Nossa visão hoje é que só estaremos em alguma região se tivermos alguém próximo. Atendemos grandes grupos como Khrona, Grupo Randon, Altona, mas também temos os clientes que precisam de atendimento personalizado. Em algumas empresas, o mesmo gerente que paga a energia é o que cuida da produtividade, então precisa de uma atenção especial, pois não tem mais ninguém. Por isso estruturamos um conceito que nos aproxima da empresa, pra entendermos o que cada um precisa e queremos ter clientes na medida que possamos manter este tipo de atendimento. Não temos pressa no crescimento. Inclusive nossa plataforma digital que está em desenvolvimento, foca numa comunicação mais amigável, mais próxima
- As fontes de energia são variáveis?
Sim, a energia distribuída pode vir de várias fontes, sendo que no Brasil a principal matriz energética continua sendo hídrica. A energia contratada e gerenciada pela Vektor Energia atende a demanda da empresa, podendo ser totalmente proveniente de fontes renováveis como energia eólica, solar, biomassa ou pequenas centrais hidrelétricas (PCH). Temos um número relevante nesse sentido, porque 82% dos clientes VEKTOR, consomem energia de fonte renovável. Assim colaboram com o desenvolvimento da matriz energética sustentável e ainda com a redução da emissão de Gases de Efeito Estuda (GEE). Sabemos que nos próximos anos teremos ainda mais o empoderamento do consumidor pela opção de escolha e por poder produzir sua própria energia.
Saiba mais sobre Sandro Bittencourt de Souza, CEO da Vektor Energia
Formação: Economia (UFSC), MBA em Finanças Corporativas e MBA em Gerenciamento de Projetos (FGV), especialização em Engenharia de Custos Marginais e Tarifação de Energia Elétrica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie – SP e especialização em gestão de negócios pela Fundação Dom Cabral.
Cargos que ocupou: Gerente de Orçamento e Planejamento Financeiro e no Gabinete da Presidência como assessor financeiro do Presidente da Celesc, assessor de projetos especiais na Ciser, gerente de projeto na ACIJ (Associação Empresarial de Joinville), Diretor de projeto da empresa World Port e cofundador da RB|E comercializadora de energia.
Saiba mais sobre a Vektor Energia – Com sedes em Joinville (SC) e São Paulo (SP), a Vektor Energia oferece uma linha completa de serviços e produtos para consumidores e geradores do Mercado Livre de Energia Elétrica. Possui uma plataforma própria, pela qual realiza uma gestão personalizada e digital, com atendimento ativo, eficiente e humano, para atender as mais diferentes necessidades e demandas de energia elétrica por parte das empresas – como shoppings, hospitais, supermercados e atacadistas, indústrias, varejistas diversos.
Formada por profissionais que atuam há mais de 25 anos no mercado de energia, e que já realizaram a migração de mais de 150 consumidores e geradores para o mercado livre, bem como a comercialização de mais de 5 milhões de MWh. A Vektor Energia faz parte do Grupo Ascensus, um dos maiores operadores logísticos do Brasil, com cerca de 20 anos de operação no mercado brasileiro e que em 2019 atingiu um faturamento superior a R$ 2 bilhões.