A Soul Bilingue nasceu de um desejo gigante de fazer outras pessoas experimentarem o mundo como eu pude fazer. As palavras não são suficientes para expressar o que é, de fato, estar imersa a uma cultura diferente, respirar outro idioma, conhecer pessoas de vários cantos do planeta. Como o inglês é poderoso. A ideia pode parecer pífia para quem tem recursos financeiros e facilmente viaja de um país para o outro. Só que para muitos, vindos de escolas públicas como eu, ir para o exterior é só coisa para gente rica, um sonho muito distante de se concretizar.
Não fui incentivada a fazer intercâmbio. Aliás, até meus 23 anos, não tive referência de amigos ou familiares que sequer tinham ido para fora passear.
Criei a Soul Bilíngue em 2018 para oferecer a estes jovens tudo o que eu queria ter tido quando eu ainda cursava o ensino médio: informação, incentivo, preparo. A Soul faz tudo isso e facilita viagens aos participantes para estudar inglês fora e imergir em outra cultura. A gente mostra para o jovem que o mundo também pertence a ele. Que ele pode sim sonhar e realizar. Que tudo é transformador. Mais do que contar a eles sobre minha experiência, eu quero que eles vivam!
Morei por 1 ano e seis meses no estado da Virginia, nos Estados Unidos. Fui por um programa de babá que conheci pela minha amiga de infância aos 23. Morei com uma família americana, cuidei de 3 crianças lindas e tive a oportunidade de fazer cursos na área de comunicação em colleges e universidades lá fora.
“Transformador” talvez seja a palavra que resume o período em que estive fora. O mais interessante de tudo o que vivi foi de como eu pude me conhecer melhor a partir daquela experiência. Tenho comigo não só as lembranças dos passeios incríveis que fiz, dos 10 estados que visitei, do primeiro contato com a neve e a primeira vez que desci uma montanha esquiando. As lembranças mais marcantes e transformadoras na verdade foram os dias de solidão, mesmo cercada de pessoas legais e de uma Host Family que me acolheu tão bem nesse período.
Até entrar no avião, isso nem passava pela minha cabeça. Afinal, quem vai pensar em solidão, dificuldade ou qualquer coisa do tipo quando no cartão de embarque, no aeroporto, o destino final é Nova York? Aquele era o meu momento!
Eu me dei conta de tudo o que eu tava vivendo depois de uma semana lá. Eu idealizei o intercâmbio ainda no Brasil de uma forma completamente diferente do que é na prática. E isso não é ruim, pelo contrário. É uma descoberta. É aí que o aprendizado começa, que a vivência internacional vale a pena.
Eu senti falta de coisas simples que eu jamais imaginaria sentir um dia. Senti falta de abraço. Senti falta de pão francês, de arroz com feijão, da alegria brasileira, das celebrações em família, do almoço de domingo. Coisas que a gente, no dia a dia, não se da conta da grandiosidade, da importância e do quão nos fazem feliz. A felicidade de fato está no simples, muitos não enxergam. Eu mesma só pude aprender isso estando longe da minha zona de conforto.
Eu voltei mais patriota, mais apaixonada pela minha terra, minhas origens, minha história. Como eu falei, foi preciso perder temporariamente essas coisas simples pra me dar conta da grandiosidade que são. E é por justamente amar minha pátria, nosso povo, que acredito na Soul Bilingue e na transformação das pessoas que passarem pelo programa. O incentivo, o encorajamento, a capacitação que eu não tive na época, são elementos que faltam para causarmos uma revolução na nossa educação e eu quero proporcionar tudo isso aos jovens de periferias e de escolas públicas.
Quem vê minhas fotos da época do intercâmbio nas redes sociais, toda linda e sorridente, não imagina os perrengues que passei lá fora – como ter o carro guinchado em Nova Jersey e não saber o que fazer – o quanto chorei de saudade (principalmente em datas comemorativas), de solidão (nos meus dias de folga, quando eu saia de casa e passeava sozinha em parques, lojas).
Não acredite na felicidade das redes sociais. Sendo um pouco polêmica, para mim, por trás de cada foto sorridente de um intercambista e uma legenda taxativa do tipo “vivendo intensamente”, há lágrimas e muito aprendizado.
Um dos dias mais desafiadores do meu intercâmbio foi no período em que estudei marketing em uma universidade. Teve uma aula em que cada aluno teve de apresentar pra toda sala um projeto, além de defende-lo e vender a ideia ao professor. Eu era a única estrangeira em meio aos americanos. Tinha umas 15 pessoas. Senti medo do julgamento, dos olhares maldosos. De falar tudo errado. Chegou a minha vez. Consegui me expressar, mas bem longe da perfeição. Aprendizado total e talvez seja por causa daquela aula que hoje sinto mais segurança e facilidade de falar em público, mesmo sendo tímida.
A experiência internacional é válida e necessária. Mais do que aprender inglês – o que deveria ser um direito de todos – passar um período fora, sozinho, transforma o ser humano de dentro da fora. Os desafios são lançados diariamente e isso nos faz quebrar barreiras. Nos mostra que sempre podemos mais, que somos completamente adaptáveis e gigantes. O jovem de periferia precisa acreditar nisso e ver tudo com os próprios olhos. Vamos transformar destinos e mudar histórias. O mundo é seu e meu. O mundo é de todos!