Daniel Leipnitz

O setor de tecnologia destaca-se como uma das áreas mais promissoras na economia de Santa Catarina. As cerca de 2,9 mil empresas de TI do Estado geram mais de 47 mil empregos diretos e faturaram em 2015 nada menos que R$ 11,4 bilhões. A força do setor já é responsável por 5% do PIB, com um cres­cimento de 3,6% só no número de colaboradores no ano passado. Entre os 13 polos tecnológicos espalhados pelo Estado, Florianópolis lidera a taxa de cres­cimento, seguida por Blumenau e Joinville. Para Daniel Leipnitz, presidente da Acate, a ordem é fortalecer cada vez mais o setor, estimulando a globaliza­ção das empresas e a ampliação do relacionamento com o setor público. Con­fira a seguir as ideias do presidente da Acate para essa indústria emergente.

A realidade da produção e comerciali­zação de soluções tecnológicas está cada vez mais global. Como a empre­sas tem enfrentado esse desafio?

Daniel Leipnitz – Nos últimos anos, tudo tem mudado de uma forma muito mais rápida. As empresas que nasciam 15 anos atrás, talvez a maio­ria delas pensasse em vender para a cidade, para o estado. Mas hoje as empresas, principalmente da nossa área, têm de pensar no mundo como pré-requisito, em extrapolar os limi­tes geográficos que a gente tem. E temos aqui na nossa incubadora um simbolismo, onde toda a empresa ganha um mundi e é desafiada a pen­sar o mundo. Toda a empresa que entra aqui é instigada a esse desafio, para que se concretize uma etapa de crescimento dessas empresas.

Na última década, o setor apresen­tou um crescimento médio de 20% ao ano, o que demonstra uma con­sistência bastante significativa.

Essa média acontece desde a criação do pólo aqui, tanto em Florianópo­lis quanto no Estado. Hoje somos 5% do PIB estadual, o que é muito expressivo se pensarmos que essa indústria há 30 anos não existia, e se pensarmos que uma indústria cente­nária como o agronegócio, que tem uma representatividade tão grande para o nosso país significa 7% para o Estado, ou a Construção Civil, que representa 5.7%, vemos nossos nú­meros como muito consistentes. A tendência é aumentar cada vez mais, pois é uma indústria que além de ser limpa, não tem limitações físicas, não depende de grandes espaços ou ma­quinário. Todos os nossos negócios são calcados na escalabilidade, ou seja, como fazer cada vez mais com menos e multiplicar isso. Existem diversos fatores que nos levam a crer em um futuro promissor, pois temos alicerces fortes, como os atores que são necessários para o desenvolvi­mento, como escritórios de conta­bilidade, de advocacia, fundos de in­vestimentos anjo, um network muito forte associativo e colaborativo. En­tão isso se transforma em uma bola de neve, que vai tomando velocidade e vira um rolo compressor. Esse fo­mento torna o ambiente favorável ao desenvolvimento, através de ações estruturantes.

O setor de tecnologia engloba pro­fissões com padrão alto de educa­ção, isso interfere de alguma manei­ra na atração de mão de obra?

Participamos, junto ao governo do Estado, através da Secretaria de Desenvolvimento Econômico Sus­tentável, da Fapesc (Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação) e do I3 (Instituto Internacional de Inova­ção), de um programa fantástico de formação de mão de obra, o Geração TEC, que é um programa excepcio­nal, que me orgulha como cidadão. Um dinheiro muito bem empregado, que transforma a vida das pessoas.

Em um primeiro momento tínha­mos a expectativa de despertar em jovens o interesse de ir trabalhar no setor, mas foi muito mais abran­gente que isso. Teve diversos alunos de meia idade e o pessoal que quis trocar de profissão e seguir o rumo da tecnologia, e hoje são cases den­tro do setor, como mecânicos e mais uma gama de profissionais que estão se desenvolvendo na área.

O Vale do Silício conseguiu se desen­volver com importação de pessoas, de diferentes culturas e visões de mundo. Esse é o modelo para SC?

Hoje temos um modelo misto, mas sempre teremos de ter atenção, pois com o advento da crise nos últimos três anos, nosso setor continuou contratando, na ordem de 7% ao ano, mas foi mais acanhado que nos outros anos. Mas com as ações que foram tomadas lá atrás, aliadas a essa desaceleração, a situação está controlada momentaneamente. Continua não sendo fácil de encon­trar pessoas, e isso teremos de aju­dar a fomentar, trabalhar na base. Despertar a vontade nos adolescen­tes, de trabalhar com a lógica, com a matemática. Temos que começar nas escolas, trabalhando na base, e nas universidades, na adequação dos cursos e formação de pesso­as. E também a importação, que é importante, seja de outros estados ou do exterior. Se formos pegar o site das grandes empresas do setor, elas vendem a cidade, para que os profissionais de fora venham morar aqui. Se pegarmos os pólos meno­res, veremos que há o mesmo tipo de problema, mas também menor concorrência. O fato é que o setor não sustenta seu crescimento sem importação de mão de obra, por isso é preciso se trabalhar bem todas as variáveis para que tenha um equi­líbrio, sem formar uma bolha. Nos Estados Unidos, por exemplo, há uma bolha no Vale do Silício. Hoje não se contrata nenhum progra­mador por menos de 10 mil dólares por mês. Então, quando o negócio começa a ficar muito fora da reali­dade, fica inviável economicamen­te. Então, são diversas ações que devem ser tomadas para que esse ecossistema mantenha o equilíbrio.

A ideia é criar uma marca única para a indústria catarinense de tec­nologia, reconhecida como um selo de qualidade?

Nós reconhecemos que a Acate ain­da é muito regionalizada, apesar do pólo, temos um grande desafio de transformá-la em entidade estadual. Nesses primeiros três meses de ges­tão, viajamos por todo o Estado, com o objetivo de escutar todo mundo e partilhar esse sonho de fazermos uma marca forte do Estado, onde será bom para todo mundo, para qualquer empresa que esteja inserida em qual­quer município do Estado. Estamos começando a fazer um planejamento em conjunto com todos os pólos, para fortalecer e criar uma marca estadual para o setor de tecnologia. Se temos duas empresas com soluções muito boas, as pessoas tendem a pegar a que tem marca mais forte. Hoje, de ma­neira informal, já temos uma marca do Estado, com certo reconhecimen­to pela competência de nossas em­presas. E hoje nós vemos que regiões mais afastadas da capital estão com grande crescimento, por isso o obje­tivo é colocar todo mundo na mesma página. Essa energia onde todo mun­do troca informação e um ajuda o ou­tro, vamos levar para todos os pólos.

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