Lideranças femininas discutem caminhos para diminuir disparidade de riqueza entre gêneros; apenas um terço das empresas no mundo são de propriedade de mulheres
O relatório Desigualdade S.A. da Oxfam, divulgado recentemente durante o Fórum Econômico Mundial realizado em Davos, na Suíça, revelou uma disparidade profunda na distribuição de riqueza entre os gêneros, com homens possuindo cerca de US$ 105 trilhões a mais em todo o mundo do que mulheres. A cifra representa mais de quatro vezes o tamanho da economia dos Estados Unidos.
Diante desses números, a atenção se volta para o ponto de vista de empreendedoras e executivas em relação aos caminhos para solucionar essa questão. Com apenas um terço das empresas globais sendo de propriedade feminina e menos de um quarto das maiores companhias do mundo comprometidas com a igualdade de gênero, líderes femininas serão fundamentais na análise de desafios e na busca de soluções para reverter o cenário.
Confira abaixo a perspectiva de mulheres que estão impactando positivamente o ecossistema de negócios brasileiro:
1) Dani Junco, Fundadora e CEO da B2Mamy, maior comunidade que cuida de quem cuida.
A empreendedora destaca a importância de não desistir diante do desafio da equidade de gênero, que segundo a especialista, é culpa de uma construção social que surgiu para silenciar as mulheres e submetê-las ao serviço da sociedade, frequentemente sem receber remuneração adequada. “Essa ideia é uma influência de diversas práticas religiosas, onde às mulheres é negado o direito ao prazer e ao descanso. Inclusive, apesar de seus esforços, o poder aquisitivo delas é bem menor em relação aos homens devido à disparidade de gênero”, afirma Dani Junco.
Iniciativas como a da B2Mamy são essenciais, auxiliando as mulheres a conquistar espaços importantes na liderança do empreendedorismo e nas grandes empresas. Dani Junco acredita que já foi medido o necessário, e agora é hora de cobrar o movimento das empresas para mudar essa realidade. “É muito importante nós como mulheres vermos outras em posições de liderança ou outras grandes empreendedoras, por exemplo, isso nos dá ainda mais esperança de ocupar lugares ainda mais altos. À medida que isso acontece, não é diversificado apenas a tomada de decisões, mas também serve como inspiração para outras empreendedoras”, finaliza a fundadora da B2Mamy.
2) Carine Roos, fundadora e CEO da Newa, e mestre em Gênero pela London School of Economics and Political Science – LSE.
A especialista em diversidade, equidade e inclusão ressalta a persistência do machismo estrutural ao longo da vida das mulheres. Segundo ela, para mudar essa realidade é necessário que as organizações escutem as demandas e as necessidades específicas das mulheres. Assim como, que as organizações desenvolvam planos de carreira claros ao longo da jornada dessa colaboradora, além de garantir a possibilidade de jornadas de trabalho mais flexíveis e políticas como a equiparação da licença parental, espaços mais inclusivos como salas de amamentação, instalações de banheiro que são gênero neutro ou inclusivo, cobertura integral de licença maternidade, subsídios de creche. “Além dessas mudanças mais óbvias e emergenciais, é necessário que as organizações invistam em lideranças que desenvolvam competências como escuta ativa, empatia e a compaixão. Outras ações seria proporcionar mentorias customizadas para apoiar o desenvolvimento das mulheres e realizar pesquisas que contemplem a interseccionalidade de gênero, raça e classe, buscando atender as necessidades não apenas das mulheres em média e alta liderança, mas especialmente aquelas que estão na base da pirâmide social das organizações”, afirma Carine.
3) Andrea Miranda, CEO e cofundadora da STANDOUT, maior empresa de trade marketing digital e referência em inteligência no setor.
Andrea Miranda, CEO da STANDOUT e cientista de computação com mais de 30 anos de experiência em TI aplicada ao marketing digital e publicidade, acredita que a maioria da sociedade deseja que a desigualdade na distribuição de riqueza entre os gêneros diminua, mas ressalta que isso não é o suficiente. “Para esse objetivo se concretizar são necessárias ações contundentes e urgentes para criarmos as oportunidades econômicas destinadas a essa metade da população tão desprivilegiada de recursos. Precisamos, sobretudo, de uma educação equânime, seja garantindo que todas as meninas ao redor do mundo possam estudar, seja no incentivo aos estudos nas áreas tecnológicas e claro, garantindo o direito fundamental à educação reprodutiva (segundo dados apresentados na Comissão de Saúde do Governo Federal, cerca de 55% das gestações no Brasil não foram planejadas). Uma vez garantido o acesso irrestrito à educação, precisamos lutar para que o acesso a recursos financeiros seja também equânime, com ações afirmativas de investimento em empresas lideradas por mulheres e mais que isso, ações afirmativas para aquisição de produtos e serviços dessas empresas”, afirma Andrea. A executiva, reconhecida como Winning Women’21 pela EY, é também Top 3 no Empreendedorismo Feminino pela 100 Open Startups, participa de eventos e sessões de mentoria para incentivar e empoderar mulheres nos negócios e preza pela contratação de mulheres. “Atualmente, somos mais de 65% de colaboradoras; inclusive, as áreas de TI, conteúdo, marketing e de relacionamento com o varejo são lideradas por mulheres”, destaca a CEO da STANDOUT.
4) Fabiana Ramos, CEO da PinePR, agência de PR especializada no atendimento a scale-ups, empresas de tecnologia e grandes players inovadores, com atuação dentro e fora do Brasil.
Para Fabiana Ramos, CEO da PinePR, a equidade precisa ser combatida através do incômodo do cenário atual e de um diagnóstico aprofundado sobre como as organizações enxergam o tema.“Para diminuir a desigualdade é preciso que as empresas estejam comprometidas com a equidade de gênero. Indico que gestores façam um raio x da sua estrutura organizacional para analisar todos os setores da empresa e, principalmente, olhando para a liderança. Durante esse diagnóstico, é importante levantar perguntas como: Quantas mulheres líderes temos? Como podemos ampliar a porcentagem feminina nos cargos de liderança? Quantas delas são negras? Quantas são mães? Como promover e formar essas mulheres ao cargo de liderança? É necessário que as empresas tenham o incômodo real e entendam que ainda existem pontos a melhorar, e assim, coloquem metas para melhorar o cenário atual. Precisamos promover espaços seguros de crescimento e vejo esse movimento na PinePR, 75% da nossa liderança é feminina, e temos a preocupação real com colaboradoras e lideres de se sentirem confortáveis e seguras no ambiente de trabalho”
5) Nara Iachan, CMO e cofundadora da Cuponeria Loyalty, startup investida pelo Google, Bradesco e ACE e que ajuda empresas a fidelizar clientes.
Para a executiva, uma das formas para resolver a questão dessa disparidade é ter como iniciativa genuína a contratação de mais mulheres para cargos de liderança, principalmente no setor de tecnologia, que é dominado por homens. A CMO ainda aponta que além de contratar mais mulheres em cargos de gestão, é preciso engajá-las em trazer mais mulheres para o time. “Isso muda não só o time de tecnologia, mas a visão das colaboradoras de toda a organização, que conseguem ver mulheres ocupando espaços majoritariamente masculinos. Atuar no mercado de tecnologia e no posto de líder é uma tarefa árdua e de conscientização diária do setor. A Cuponeria Loyalty caminha contra o mercado e tem 50% de líderes mulheres na empresa, embora sabemos que não é uma realidade do ecossistema. Por isso, sabemos que além de contratar mulheres para cargos mais altos, é preciso que elas se vejam na organização”, comenta a CMO da Cuponeria Loyalty.
(Na foto em destaque, da esquerda para a direita Dani Junco, Carine Roos, Andrea Miranda, Fabiana Ramos e Nara Iachan)