Empreendedora que fundou grupo de investidores-anjos relata os desafios femininos na área

GV Angels

Patrícia Osório é cofundadora do grupo de investidores anjo GVAngels e da atratup Birdie, ferramenta que analisa feedbacks dos consumidores para melhorar produtos.

A startup começou a ser desenvolvida no final de 2018, quando Patrícia Osório, que também é sócia da Arizona — empresa que oferece serviços de marketing para grandes organizações da América Latina — percebeu uma oportunidade. “Atendendo essas companhias e observando como elas divulgavam seus produtos, percebemos que os consumidores já estavam escolhendo o que comprar de maneira diferente”, afirma. “Antes de adquirir qualquer coisa, o cliente pede a opinião de outras pessoas, lê reviews e procura mais informações no Google.”

Quais os desafios que as mulheres enfrentam ao empreender? 

Empreender é, em muitos momentos, uma experiência extremamente solitária. Isso é mais verdade ainda para as mulheres, pois há menos mulheres empreendendo e muito do que se vê no ecossistema são eventos mais pensados para empreendedores do gênero masculino e é comum ver mulheres empreendedoras como minoria nestes espaço. Outro ponto de atenção é o fundraising e o acesso a capital: o dinheiro de 0 e com isso o ciclo de “exclusão” de mulheres acaba acontecendo sem que muitas vezes a gente não perceba. Sem contar que, como mulheres, ainda precisamos administrar muito mais do que apenas nosso negócio: família, filhos, responsabilidades da casa…isso tudo são coisas que deveriam ser divididas igualmente entre homens e mulheres, mas que sabemos que em muitos casos não é.

Mesmo alcançando um patamar de mais estabilidade, o que ainda é obstáculo para as mulheres empreenderem?

Acabei citando os principais obstáculos na resposta acima. Ter acesso a uma rede de apoio com contexto semelhante e acesso a capital são os principais problemas. Não podemos negar que trata-se de um mundo ainda extremamente masculino, o que pode ser intimidador para muitas mulheres. A falta de exemplos também reduz o número de mulheres que pensam em empreender, talvez por achar que isso não é pra elas.

Em resumo, todas as dificuldades enfrentadas por empreendedores do gênero masculino são maiores com mulheres. Por isso é tão importante buscar construir uma rede de apoio – outras mulheres empreendedoras, sua família, e investidoras que sejam parceiras, ajudem com contatos, tirem dúvidas e mais. O GVAngels é um grupo reconhecido por isso: temos cerca de 300 membros, 40 deles mulheres com experiência empreendendo ou como executivas, que suportam nossas investidas, tornando o desafio de empreender menos solitário e com mais chances de ser bem-sucedido.

O fato de ser mulher, atrapalha o desenvolvimento dos negócios? Por que? 

Tenho certeza de que já deixei de fechar negócios por ser mulher, sendo julgada como menos capaz naquele contexto, e já tive experiências em que a pessoa do outro lado da mesa não ouvia nem perguntava minha opinião, apenas a de um homem. Isso não é realidade apenas para empreendedoras, mas para mulheres no mercado de trabalho em geral. Na lista do Layoffs Brasil que está circulando esta semana pelo meio, há um dado de que 69% das demissões foram de mulheres. Num contexto em que mulheres já são minoria nas empresas, ter um diferença tão grande no número de demissões de mulheres se homens mostra o tamanho do gap que precisamos reduzir, e que ainda há muito a ser feito.

Você vê alguma mudança de 2022 para 2023 nesse cenário?

A LAVCA – Association for Private Capital Investment in Latin America, libera uma análise anual em que compara o número de investidoras e empreendedoras early-stage na América Latina. A cada ano temos visto, felizmente, um crescimento no número de empreendedoras e investidoras no mercado, mas ainda há um grande gap a ser preenchido para que isso se torne proporcional. Usando o mesmo exemplo do Layoffs Brasil, a evolução não só não é tão grande quanto deveria, mas há também retrocessos que precisamos monitorar para poder cobrar e garantir que esse cenário mude.

Sobre o GVAngels – GVAngels é um grupo de investidores-anjos formado por ex-alunos da FGV. Desde sua fundação, em abril de 2017, a rede de cerca de 350 ex-alunos da FGV, já investiu mais de R$45 milhões em 50 startups de alto potencial de crescimento e escala, no Brasil, Estados Unidos e Reino Unido.

Além do aporte financeiro, as empresas investidas recebem acesso ao Smart Money de executivos C-Level e empreendedores de sucesso, que compõem o grupo de membros investidores do GV Angels. O grupo já realizou investimentos em diversos segmentos, como martechs, fintechs, agtechs, healthtechs, e startups de vários outros setores de atividades, os quais dão relevante contribuição para a modernização da economia do Brasil.

O grupo se destaca por ter um dos processos de seleção e avaliação de startups mais rápidos do ecossistema, sem perder a alta qualidade nas análises das startups inscritas. Após os fóruns de apresentação de startups, as startups selecionadas são informadas do interesse dos membros em nelas investirem. O processo de due diligence, emissão de contrato, e liberação do aporte financeiro, demora cerca de 45 dias.

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