Por Ana Carolina Peuker, psicóloga e CEO da BeeTouch*
É o momento de refletir sobre a saúde mental dos colaboradores que pertencem a grupos minoritários, que atuam em diversos segmentos nas mais variadas empresas. Não precisamos aqui levantar bandeiras de grupos específicos para saber que o termo “estresse de minorias” é uma realidade no mundo em que vivemos e já vem sendo amplamente estudado pela ciência.
O que eu quero dizer com isso? É simples: já possuímos, enquanto cientistas da saúde mental, evidências suficientes para afirmar que as minorias (étnicas, raciais, sociais e sexuais) possuem menos acesso aos serviços de saúde, são menos prováveis de receber os cuidados necessários e não recebem o tratamento de maneira tão qualificada quanto deveriam. Como consequência, essa população se mostra mais insatisfeita com os serviços de saúde do que o público em geral e têm maiores taxas de abandono nos tratamentos.
Estigma, preconceito, práticas de exclusão e negação da identidade são alguns dos estressores sociais que contribuem para que os grupos minoritários estejam mais propensos a apresentar uma saúde mental mais vulnerável. Por isso, já existem muitos estudos observando o aumento das taxas de depressão, ansiedade e ideação suicida entre as minorias se comparado a população geral.
Nesse contexto, cito outro dado alarmante: pesquisas apontam que minorias sexuais, em culturas mais intolerantes e preconceituosas, possuem 12 anos a menos na sua expectativa de vida do que a população em geral. As principais causas de morte que fazem com que esse dado seja uma realidade são o suicídio, o homicídio e as doenças cardiovasculares.
Isso nos faz pensar: o quanto nós, profissionais da saúde mental e sociedade, estamos fazendo a nossa parte? Em nosso dia a dia, estamos eliminando ou reforçando as práticas de exclusão? Quando nos deparamos com uma realidade diferente da nossa, consideramos suas particularidades e as valorizamos ou tentamos as invisibilizar de alguma maneira? Estamos buscando o conhecimento adequado para lidar com as diferenças? Qual o nosso papel social nisso?
O “modelo teórico do estresse de minorias” foi desenvolvido a partir de teorias psicológicas e sociais. Este fenômeno resulta do conflito entre as pessoas e a sua experiência em sociedade. Quando um indivíduo pertence a um grupo minoritário (racial, sexual, étnico) em uma sociedade que estigmatiza e discrimina, o conflito entre a pessoa e a cultura dominante pode resultar em estresse significativo, acarretando um expressivo sofrimento emocional. Essa realidade precisa mudar, mas para isso, cada um necessita fazer a sua parte. Nesse sentido, o RH tem papel fundamental. A diversidade e a inclusão devem ser abordadas de maneira consistente, com base em diagnósticos precisos que auxiliem na compreensão e na identificação de potenciais riscos de saúde mental em populações minoritárias, bem como políticas e ações sistemáticas, não somente aquelas que são realizadas no mês que alude ao tema.
O respeito à diversidade no trabalho, onde as pessoas se sentem seguras sendo elas mesmas, potencializa a criatividade e a produtividade das equipes e melhora os resultados financeiros da empresa. Infelizmente, as iniciativas atuais de diversidade e inclusão muitas vezes não instituem uma inclusão genuína, concentrando-se em categorias mais abrangentes como raça, gênero, idade, deficiência e religião. Em vez de se concentrar na diversidade “tradicional” e na demografia de inclusão, o RH que deseja se tornar genuinamente inclusivo precisa adotar uma perspectiva integral de “pessoa”, concentrando-se na criação de locais de trabalho psicologicamente seguros. Essas iniciativas transcendem as iniciativas típicas de diversidade, garantindo que todos se sintam seguros ao trazer o seu “verdadeiro self” para o trabalho, sem ter que disfarçar qualquer parte de sua identidade, pensamentos ou antecedentes por medo de consequências negativas.
* CEO da Bee Touch, é cocriadora da AVAX PSI, a plataforma pioneira de avaliações psicológicas do Brasil. É entusiasta do fortalecimento da inovação na área da saúde mental. Especialista em Psicologia Clínica. Realizou Mestrado, Doutorado e Pós Doutorado no Laboratório de Psicologia *Experimental, Neurociências e Comportamento (LPNeC), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Realizou Pós Doutorado no Grupo de Estudos Avançados em Psicologia da Saúde – GEAPSA (UNISINOS). Quanto ao currículo, foi professora do Instituto de Psicologia da UFRGS, atuou como pesquisadora e professora do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas (CPAD), do Departamento de Psiquiatria (UFRGS) e do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (RS). Ana Carolina é membro da Comissão de Avaliação Psicológica (CAP) e do Grupo de trabalho em avaliação psicológica dos riscos psicossociais do Conselho Regional de Psicologia do RS (CRP/07). Além disso, integra o Grupo de Trabalho de Enfrentamento à COVID-19 da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP) e recentemente, faz parte do Artemis Project, programa Canadense de aceleração, que tem como objetivo favorecer a participação de negócios liderados por mulheres na cadeia de fornecedores da indústria de mineração.