Ana Correa, cofundadora e Diretora de Customer Success da Taqe, trabalha para ajudar pessoas em vulnerabilidade social
Colombiana, Ana Correa nasceu e foi criada em um dos bairros com mais alto índice de vulnerabilidade social de Medelín. Nascida na década de 1980, quando a cidade era considerada uma das mais violentas do mundo, Ana conta que seu principal pilar foi sua família, seus pais, pessoas simples com baixa escolaridade, que sempre garantiram para ela e seu irmão mais velho, com síndrome de down, um espaço de acolhimento, respeito e amor.
Em determinado momento, a mãe precisou parar de trabalhar para cuidar dos filhos e passou a vender cachorro-quente para ajudar nas despesas da casa. O pai encarava turnos de 12 horas de domingo a domingo como operário de fábrica. Apesar das dificuldades, eles sempre priorizaram a educação e sabiam que isso seria o ponto-chave para transformar a vida da filha. A trajetória empreendedora nasceu do desejo de criar soluções para que outras pessoas também tenham as oportunidades que ela teve.
“Considero que, apesar de tudo, fui muito privilegiada em relação à minha família. A maior parte das crianças do meu bairro não tinham uma estrutura familiar mínima e a realidade que vivíamos era muito difícil. Se já era difícil para mim, imagina para uma criança sem nenhum suporte. Mas meus pais sempre fizeram de tudo por mim, pelo meu irmão e por elas. Eu costumo dizer que meus pais eram os pais do bairro todo, e isso me inspirava muito. Ver o bem que eles faziam não só para nós, mas para toda a comunidade era lindo, algo marcante na minha infância e é isso que eu quero replicar”, relembra Ana.
A empreendedora relata que, quando passou na entrevista para o nível secundário do sistema de ensino da Colômbia, aos 10 anos, na escola do bairro onde morava, sentiu uma inquietude. Na ocasião, teve muito medo e chorou, buscando consolo na mãe. A angústia veio, pois, apesar do incentivo à educação dentro de casa, as pessoas do seu bairro não tinham conseguido sair dali para uma faculdade ou uma situação melhor.
Vendo a aflição da filha em relação ao futuro, os pais de Ana passaram a procurar por escolas melhores. Até que um dia receberam a ligação de uma instituição de ensino na qual tinha feito uma prova, mas já havia perdido as esperanças. E apesar de enfrentar uma longa viagem todos os dias para chegar a essa escola, conta que foi a melhor coisa que aconteceu para a sua formação. Após concluir o estudo nessa escola, conseguiu entrar na segunda universidade pública mais importante da Colômbia, no segundo curso mais concorrido, o de Comunicação Social/Jornalismo.
“Essa escola pública era uma das melhores e ficava na região nobre da cidade. Recebia diariamente 5 mil crianças de todas as classes sociais, etnias, religiões, e a maioria de nós vivia realidades muito complexas em nossos bairros. Eu costumo dizer que essa escola era uma das melhores, não apenas pelo currículo, mas porque nos tirava das nossas duras realidades, fazia com que derrubaremos os limites físicos e simbólicos que são comumente criados nestas circunstâncias para acreditar que poderíamos construir um futuro melhor. E foi assim para mim, mas também para milhares dessas crianças. Portanto, eu não poderia ficar de braços cruzados”
Ana trabalhou na prefeitura de Medelín na época de sua transformação social, assim como em organizações comunitárias usando a comunicação como ferramenta de mudança e impacto social. Foi então que veio para o Brasil, em 2007, quando começou o boom das mídias digitais. Ana ingressou nesse novo mercado, em um país totalmente novo para ela. “Senti dificuldades com a transição, não foi fácil ser uma imigrante, foi muito desafiador, mas acho que a minha história e tudo o que passei foram fundamentais para me adaptar e construir minha jornada aqui. E de fato foi assim: tudo isso me diferencia de outras pessoas”, conta.
Não demorou para entender que a Internet e as mídias digitais eram ferramentas que poderiam potencializar ainda mais a transformação e promover inovação colaborativa. Hoje, a comunicadora social é cofundadora e diretora de customer success da Taqe, uma empresa de impacto social que reúne candidatos, empregadores e parceiros educacionais e intermedia oportunidades de trabalho e educação. A ideia da HRtech surgiu em parceria com Renato Dias e Denise Asnis.
“Quando a ideia da Taqe surgiu e realizamos as primeiras pesquisas com jovens, passou um filme na minha cabeça. Senti uma sensação de que essa empresa era o meu propósito de vida. A Taqe seria uma plataforma para ajudar as pessoas que vivem nas mesmas condições que eu vivia, ou até pior, a terem acesso a trabalho, educação e uma vida digna. Além disso, era como poderia apoiar as pessoas a explorar suas vivências, ou seja, a interessância de cada um, como ponto de partida para um bom emprego”, enfatiza Ana.
Ao lado dos cofundadores Renato e Denise atualmente ela ajuda pessoas para que consigam ter acesso a uma boa profissionalização, vagas de emprego dignas e assim elevar o nível da qualidade de vida que levam. Seu objetivo a cada dia é construir uma empresa que não apenas crie um impacto positivo na sociedade, mas também sirva como um espaço para aprimorar os talentos de seus colaboradores e colaboradoras.
“O que me move são as histórias que presencio diariamente na Taqe, de pessoas que conseguiram transformar suas vidas assim como eu. O primeiro registro em carteira no Brasil acontece, em média, aos 28 anos, o que mostra que a maior parte da população fica no subemprego e nem consegue sonhar com uma carreira bem sucedida ou ter uma boa oportunidade de educação. Nós fazemos isso possível e acessível. Nós ajudamos a derrubar barreiras que milhares de pessoas enfrentam e mostramos que elas são valiosas e interessantes”, pontua a empreendedora.
Hoje, a Taqe reúne candidatos, empregadores e parceiros educacionais em sua plataforma, e já contabiliza mais de 165 mil oportunidades intermediadas, sendo 122 mil bolsas de estudo distribuídas e mais de 43 mil empregos. Abrangendo o país todo, a HRtech utiliza uma tecnologia de gamificação que possibilita uma triagem de alta qualidade. Dessa forma, os mais de 3 milhões de candidatos podem ingressar em processos que realmente façam sentido e agreguem para as suas respectivas carreiras.