por Alexsandro Vanin (vanin@empreendedor.com.br)
Self-made man é uma expressão em inglês criada por Benjamin Franklin, um dos fundadores dos Estados Unidos, e também trabalhada pelo seu contemporâneo Frederick Douglass, pensador negro e um dos líderes do movimento abolicionista naquele país. Seus conceitos apresentam algumas diferenças, mas ambos têm a mesma definição: homem pobre e de origem desconhecida que consegue subir na vida e conquistar o respeito da sociedade, contrariando todas as expectativas e enfrentando todas as dificuldades com seus próprios esforços. Eles mesmos são exemplos disto, Franklin começou a trabalhar muito cedo com seu pai e a partir dos 12 anos com seu irmão mais velho, concluindo seus estudos sozinhos, e Douglass nasceu escravo e permaneceu nesta situação até os 20 anos de idade.
O termo, que não possui tradução em português, também é muito aplicado aos homens de negócio de origens humildes que depois de muito empenho conquistam o sucesso. É o caso de Emerson Salomão, proprietário da Avell, empresa do ramo de informática que faturou R$ 29 milhões no ano passado. Em 2014, a expectativa é de 30% de crescimento. Para chegar a este ponto, no entanto, Salomão precisou vencer muitas adversidades e usar todo o seu talento empreendedor.
Natural de Londrina, norte paranaense, Salomão ficou órfão aos 15 anos, após o pai e a mãe falecer de câncer. Filho único, foi morar com uma tia na cidade vizinha de Mandaguari (PR), onde fez uma grande amizade que lhe acompanha até hoje,
Laércio Estevez Cordeiro. Aos 18 anos, mudou-se para Joinville, no nordeste de Santa Catarina, junto com Laércio, cujo irmão estudava em uma universidade da cidade. Lá eles perceberam que faltavam opções de lanche nas imediações da instituição e montaram um carrinho de cachorro-quente. No início, o empreendimento deu certo, mas logo surgiu a concorrência com outros ambulantes e lanchonetes. Com a queda da rentabilidade, Cordeiro retornou ao Paraná e Salomão, sem vínculos fortes em seu estado-natal, decidiu ficar no município catarinense para ganhar a vida.
Depois de sua primeira iniciativa empreendedora, Salomão trabalhou em diversas áreas, como lojas e na marcenaria de seu sogro, até que percebeu uma oportunidade e começou a comprar e vender equipamentos de informática para montar PCs em 1993. Era um negócio informal, que durou cerca de um ano e meio, pois o lucro era pequeno e a concorrência com muambeiros do Paraguai era grande naquele tempo de dólar em alta e pouquíssima disponibilidade de computadores no mercado nacional.
Foi em 1995 que Salomão percebeu uma tendência que se transformaria no divisor de águas de sua carreira de empreendedor. Na época, a grande procura era por computadores de mesa e os portáteis eram praticamente desconhecidos pela maioria da população. Com a ajuda de um conhecido em Miami, trouxe dois notebooks para começar a vender o produto em Joinville. A demanda, no entanto, como esperado, era muito pequena, e foi preciso investir em anúncios para que o item passasse a ser mais conhecido. A aposta deu certo e, dois anos depois, Salomão formalizou o negócio e passou a vender apenas notebooks. Nascia então, em uma sala de 40 metros quadrados e sem nenhum funcionário, a Notebook Century que, a partir de 1999, passou também a oferecer assistência técnica aos seus clientes.
O negócio começou a se consolidar e, em 2000, foram contratados dois funcionários, um técnico e um vendedor, quando o faturamento permitiu a mudança para uma loja de 100 metros quadrados. Com layout diferente dos demais estabelecimentos do ramo existentes na região, buscou-se um planejamento arquitetônico com design sofisticado, de acordo com o público do segmento. “A ideia era fazer uma loja diferente, profissional, pois o resto do mercado era muito amador”, conta Salomão. Dois anos depois, é aberto um escritório em Florianópolis, e Salomão chama o velho amigo Laércio Cordeiro para gerenciá-lo. A expansão continua em 2004 com a reformulação da loja na internet, canal que atualmente res ponde por 60% das vendas.
Mas um empreendedor não se faz somente vislumbrando oportunidades e as transformando em bons negócios, é preciso saber identificar dificuldades que estão por vir e traçar estratégias para superá-las. Em 2004, Salomão criou a marca Avell para se precaver da entrada maciça das grandes marcas por meio de lojas próprias e magazines. A medida se mostrou acertada, pois dentro de quatro anos a concorrência se acirrou com as grandes redes de varejo utilizando seu poder financeiro para abaixar os preços e aumentar os prazos de pagamento.
Durante este período, a empresa manteve o ritmo de expansão. Em 2005, o escritório de Florianópolis transforma-se em loja, mudando de endereço e adotando o mesmo padrão arquitetônico da matriz. Com os bons resultados da maior exposição, dois anos depois a filial novamente passa por uma mudança, desta vez para um dos melhores pontos comerciais da cidade, o Shopping Iguatemi. Em 2008, é inaugurada a segunda filial, em Curitiba, localizada no Shopping Palladium.
Para fugir ainda mais da concorrência e garantir maior rentabilidade aos negócios, Salomão decide focar em um nicho especializado e, a partir de 2010, passa a comercializar apenas notebooks de alto desempenho. “Nossos clientes são conhecedores de hardware. Cerca de 90% adquirem nossos produtos para utilização em jogos, e o restante para uso profissional que exija soluções gráficas complexas, como áreas de design, arquitetura e engenharia”, diz Salomão. Dois anos depois, com a consolidação da marca Avell, todas as lojas assumem o nome e deixam de vender produtos de outros fabricantes. “Todos os nossos computadores são montados com peças de alta qualidade em Joinville, onde ganham identidade visual”, afirma.
O ano passado foi o melhor da história da Avell, quando foram registrados 97% de aumento nas vendas. Salomão cita como alguns dos motivos o atendimento especializado nas lojas, a possibilidade do cliente poder configurar quase todo o equipamento e o fato de ser oferecido suporte técnico e três anos de garantia sem a cobrança de adicionais por isso, como ocorre geralmente com outras marcas. E as boas expectativas para 2014 – crescimento de 30% – devem-se à entrada no mercado norte-americano, em maio, por meio de uma parceria com uma empresa local, a Best Solution, e à abertura de uma loja em São Paulo. “A internet é nosso principal canal de vendas, mas uma loja física dá segurança ao cliente”, diz Salomão, sempre atento a todos os detalhes de seu negócio, desde o atendimento ao cliente até a identificação de oportunidades e desafios em tempo de aproveitá-las e contorná-los.