A multinacional Unilever lançou em 2002 um sabonete próprio para a pele negra. Foi um dos primeiros produtos
específico para o mercado de pessoas negras e ganhou divulgação em todo o país.
Adriana Barbosa, negra, comprou um sabonete desse para experimentar. Gostou. Na época, com 25 anos, estava
desempregada e com uma filha para criar. Vendia roupas usadas em feiras livres, a exemplo da sua bisavó que fazia marmita de comida caseira para sustentar a família.
Ela se encorajou e foi bater na porta da Unilever para patrocinar uma feira livre com empreendedores e
produtos para o amplo mercado de pessoas negras.
Conseguiu um patrocínio de apenas R$ 3 mil da Unilever. Nesse mesmo ano, fez a primeira feira,
a Feira Preta, na Praça Benedito Calixto, em Pinheiros, São Paulo.
Esse primeiro evento teve a participação de 40 expositores e recebeu um público de 5 mil pessoas. Foi um sucesso.
Tudo corria bem nos anos seguintes. Em 2016 Adriana projetou a feira para receber 20 mil pessoas e ultrapassar os 100 expositores.
Mas não aconteceu como ela projetou. Os números de expositores e público alcançaram os mesmos de 2002, quando lançou a primeira edição.
Resultado: prejuízo de R$ 200 mil.
Adriana então foi viver numa kitnet e tirou a filha da escola privada. No entanto, neste mesmo ano uma
notícia transformou novamente a sua vida. Foi eleita uma das 51 pessoas negras mais influentes do mundo pelo Mipad, o programa “os maiores influenciadores afrodescendentes”, criado
pela ONU. Nessa lista, junto dela, só constava o casal de artistas Thais Araújo e Lázaro Brandão.
Esse reconhecimento internacional deu novo ânimo para Adriana e ela criou a Preta Hub, uma instituição sem fins lucrativos com o objetivo de
unir, fomentar a cultura, a economia e o empreendedorismo entre as pessoas negras.
Agora em novembro, entre os dias 3 e 4, será realizada a primeira Feira Preta, de forma presencial, após a
Pandemia, no Memorial da América Latina, em São Paulo.
Desde que foi criada, a Feira Preta, hoje um festival da cultura, de arte, gastronomia e amplos negócios, já recebeu mais de 200 mil pessoas de
forma presencial, no online mais de 6 ,5 milhões de pessoas e contou com mais de 2.300 expositores.
Adriana Barbosa, formada em gestão de eventos pela ECA/USP, avalia esses anos todos do seu trabalho e destaca que trilha um negócio que se
deferência dos tradicionais. “Nós queremos gerar riqueza, trazer dinheiro, sim. Mas não para acumular nas mãos de sócios e dirigentes. O nosso fim
é ter impacto na sociedade. No nosso caso entre as pessoas negras que formam a maioria em nosso país”.