A partir do próximo ano, o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado do Rio de Janeiro (Sebrae-RJ) vai expandir seu apoio a empreendedores de favelas do Rio de Janeiro com o projeto Periferia Faz Negócio, que inclui a adoção de modelo de atendimento individual, que pode contribuir para o crescimento dos negócios.
Segundo a coordenadora da Área Comunidades do Sebrae-RJ, Carla Teixeira, o Sebrae já atua de forma permanente em cinco complexos de favelas no Rio – Cidade de Deus, Rocinha, Rio das Pedras, Alemão e Maré – e quer expandir sua atuação para outras áreas periféricas da cidade, “que tenham um mercado, ou densidade econômica, e uma demanda por apoio empresarial para a população da base da pirâmide, que exige um apoio diferenciado”.
O Periferia Faz Negócio vai criar indicadores de monitoramento e avaliação de resultados que forem apresentados pelos empreendedores atendidos, além de soluções educacionais aplicadas para esse perfil de empreendedor, com foco na análise da viabilidade econômica dos negócios.
Comunidades
Ainda não foi definido o número de comunidades em que o Sebrae-RJ passará a atuar a partir do próximo ano. Inicialmente, serão analisados o tamanho da população, a densidade econômica local e o mercado de negócios existentes. O mapeamento exigirá visitas de campo, segundo a coordenadora.
Experiências de sucesso, como a desenvolvida pela Universidade Católica de Salvador (UCSal)l – que inspirou a criação do programa Vida Melhor Urbano, do governo estadual da Bahia – estão sendo estudadas.
Além dos cinco complexos de favelas, o Sebrae-RJ atende atualmente muitas comunidades com demandas específicas de grupos de empreendedores que moram nesses locais e que solicitam um trabalho. “A gente vai até lá, faz o trabalho e volta”, afirmou a coordenadora. Com isso, a entidade já atende atualmente a cerca de 4 mil empreendedores por ano, considerando as comunidades permanentes nos cinco complexos de favelas e as demandas específicas em outros territórios.
Experiência
Segundo o professor da Universidade Católica de Salvador (UCSal) Gabriel Kraychete o programa Vida Melhor Urbano, desenvolvido pela instituição baiana, foi criado a partir de uma metodologia chamada “tecnologia social”, que tem o objetivo de um serviço de assistência técnica regular e continuado, ao que se denomina como economia popular urbana.
A metodologia tem características próprias e diversas das do Micro Empreendedor Individual (MEI). Segundo Kraychete, um censo econômico, por exemplo, muitas vezes não identifica uma mulher empreendedora que produz alimentos para vender ou que tem um salão de beleza dentro de casa.
O programa Vida Melhor Urbano envolve um serviço de assistência técnica onde o agente que presta esse serviço “é um morador do próprio bairro, treinado com a metodologia desenvolvida no âmbito da universidade”. A metodologia é resultado de um trabalho de pesquisa e de extensão que vem sendo feito desde o início dos anos 2000.
O grande desafio, ressaltou o professor, é “como desenvolver e utilizar conhecimentos, instrumentos e práticas que levem em conta a lógica peculiar dessa economia urbana”. Trata-se de um trabalho essencialmente educativo junto aos empreendedores, que têm acompanhamento pelo prazo mínimo de três meses. É um autodiagnóstico que o agente realiza junto com o empreendedor e, a partir daí, traça um plano de trabalho para um período de 18 meses a 24 meses.
“A partir daí, desenvolve e articula qualificações específicas, desde acesso a microcrédito, informações sobre MEI, capacitação técnica. Mas tudo isso como resultado de um estudo de viabilidade que é esse autodiagnóstico realizado pelo agente do próprio bairro junto com o empreendedor”.
Na avaliação do professor da UCSal, o projeto tem convergência com a iniciativa do Sebrae-RJ. O programa do governo da Bahia foi aplicado em unidades de inclusão sócio produtiva em quatro áreas populares da região metropolitana de Salvador e uma no município de Feira de Santana, no interior do estado.
Atendimento
Nos últimos seis anos, o Sebrae/RJ ampliou o atendimento e formalização dos empreendedores de favelas na cidade. Foram cerca de 12 mil empresas atendidas, mais de 6.500 formalizações e 1.400 capacitações, somando em torno de 100 mil atendimentos.