Empreendedorismo em sala de aula

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Uma mudança de visão de mundo, a partir da transformação do comportamento dos professores em sala de aula é a proposta do especialista em Psicologia Educacional, Leo Fraiman, através da aplicação da metodologia OPEE (Orientação Profissional, Empregabilidade e Empreendedorismo) criada por ele. Segundo Fraiman, a escola pode ajudar a criança a entender que ela precisa sonhar e ter um projeto de vida. E a metodologia OPEE tem o propósito de fazer com que o aluno encontre significado no conhecimento que está adquirindo. “Quando o que eu faço tem um significado e percebo o quanto é importante para mim, o tempo passa mais rápido, a felicidade aumenta e eu tenho a sensação que a vida tem sentido”, destaca Fraiman. Para ele, o aluno fica motivado a aprender quando vê significado no que faz. “A escola até ‘ontem’ estava muito focada no currículo e o aluno não vê sentido nisso”, afirma.

Autor de 21 livros educacionais, psicoterapeuta, diretor da Clínica Fraiman desde 1992 e mestre em Psicologia Educacional e do Desenvolvimento Humano pela USP, Fraiman ministrou ontem (23/08), em Florianópolis, a palestra “Neurociência da Motivação – Construindo o Empreendedorismo a partir da Sala de Aula” para educadores das Escolas de Tempo Integral e do Ensino Médio Inovador do Estado e que atuam na disciplina de Empreendedorismo, dentro da Metodologia OPEE.  Em Santa Catarina, a disciplina de Empreendedorismo no currículo escolar é uma realidade para 11.881 alunos do Ensino Médio Inovador. A metodologia trabalha o estímulo à autonomia, trabalho em equipe, o ensino através da pesquisa, aprendizagem pelo desafio, a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade. “O aluno realiza atividades voltadas ao autoconhecimento, escolhas profissionais, empreendedorismo e educação estratégica”, explica Fraiman.

Além de algumas escolas de Santa Catarina, a metodologia OPEE é aplicada atualmente para 120 mil alunos espalhados pelo Brasil. Fraiman conta que a OPEE está presente em escolas do sertão de Pernambuco, na comunidade de Paraisópolis, em São Paulo, e também em algumas escolas particulares de alto nível da capital paulista. “O mesmo material é trabalhado, não tem distinção, o que fazemos é adaptar a linguagem ou o ritmo de trabalho para cada realidade”, explica. O criador da OPEE pretende levar a metodologia para 10 países. No próximo ano, um projeto piloto será realizado em Portugal e Cabo Verde. Ele ainda planeja reverter parte da receita com a aplicação da metodologia OPEE para investir em alunos que serão os multiplicadores da própria metodologia em suas comunidades e bairros, oportunizando o primeiro emprego formal para esses estudantes.

Na entrevista a seguir, Fraiman explica mais sobre como aplicar a metodologia em sala de aula, contribuindo para construir uma sociedade mais criativa e empreendedora.

Empreendedor: Como mudar o modelo de educação atual para uma educação empreendedora nas escolas?

Leo Fraiman – Para fazer isso é necessário trabalhar em uma série de frentes. E o mais importante é trabalhar a mudança de comportamento dos professores em sala de aula. O professor deve exercitar o otimismo realista. Por exemplo, quando for entregar uma nota 4,0 ao seu aluno, em vez de colocá-lo mais para baixo ainda com comentários depreciativos, deve-se comentar que “foi um bom começo” e tentar mostrar ao aluno que ele pode avançar muito mais. É importante valorizar os esforços. Temos milhares de exemplos de pessoas que não olharam para sua origem, mas sim para seu destino. Não importa de onde venho ou quão humilde sou, o essencial é saber para onde vou. Outra questão que deve ser transformada em sala de aula é mostrar ao aluno o significado da educação. Colocar o motivo naquilo que se aprende. Quando o aluno questiona o porquê de aprender determinado conteúdo não é porque ele é rebelde, mas ele está buscando significado neste conteúdo. O professor deve refletir o seu estilo pedagógico e tentar ser mais carismático com seus alunos e entender que a função do professor é servir ao aluno. Esclareço que o “servir” quer dizer estar comprometido com seus alunos e, assim, colaborar para construir uma juventude comprometida com a sociedade em que vive.

Você demonstrou na palestra que crianças de cinco anos tem 98% de ideias criativas, crianças de 10 anos apresentam 30% de ideias criativas e jovens de 25 anos, quando já estão no mercado de trabalho possuem somente 2% de ideias criativas. O que fazer para cultivar a iniciativa criativa e empreendedora nos jovens?

Leo Fraiman – Precisamos trabalhar novamente a mentalidade do professor, capacitando-o a ter uma percepção diferente da gestão escolar. É necessário ensinar ao professor ter carisma, liderança, trabalhar o otimismo realista e empreendedorismo. O professor que desenvolve essa atitude vai conduzir o aluno a pensar em soluções e projetos para sua escola e comunidade. É preciso parar de focar no problema, parar de se queixar e partir para buscar a solução. Pedagogicamente, o melhor a fazer é estimular o aluno a ser ativo, trabalhando em sala com seminários e debates. Pois foi comprovado cientificamente que o aluno aprende 50% a mais discutindo; 75% praticando e 90% ensinando. Somente com essas mudanças é possível proporcionar ao jovem uma atitude mais ativa e criativa.

Quais vantagens do aluno que tem uma atitude empreendedora?

Leo Fraiman – Simplesmente, ele terá uma vida mais saudável e feliz. Pois esse aluno será educado desde cedo para lidar com os problemas reais da vida, será transmitido a ele uma educação de sentimentos e valores. Ele vai saber que terá que procurar uma profissão que combine com a natureza pessoal dele, sendo ético e empreendedor. Esse aluno vai saber que o essencial é servir e sabendo servir ele terá o sucesso. Pois o sucesso está em saber servir bem o outro em qualquer profissão que você tenha. Se o aluno escolher ser um médico, motorista ou segurança, que ele exerça sua profissão ou função com alma. Temos que inverter essa lógica predominante na sociedade de satisfazer o eu, somente o eu, para a lógica do servir as pessoas que me cercam e que precisam de mim.

O Brasil é considerado um país com altos índices de empreendedorismo, mas sabe-se que o número de empresas que fecham suas portas é muito alto também. Então, o que é possível fazer para criar uma atitude empreendedora mais verdadeira e eficiente?

Leo Fraiman – Desenvolver desde a primeira série do ensino fundamental uma formação voltada para o empreendedorismo. A minha proposta é trabalhar por 12 anos essa formação com os alunos. Nesse período, eles vão ter a chance de simular várias vezes um plano de negócios, vão estudar as empresas de sucesso, vão estudar marketing e gestão financeira. É preciso começar cedo esse trabalho consistente de treinamento desde as séries iniciais para conseguir formar empreendedores de verdade.

Contatos:

Site: www.opee.com.br
Blog: www.vitrineopee.blogspot.com
Fone: (11) 5072 4346

Foto da chamada de capa: Elza Fiuza/ABr

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